Volatilidade renovada com uma guerra comercial em pano de fundo

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(TRIBUNA de Antonio Rodriguez Garcia, sales director da Mirabaud Asset Management)

O primeiro trimestre teve duas fases. Em janeiro, os ativos de risco continuaram em crescimento, impulsionados por uma aceleração do crescimento global e por uma previsão de lucros elevados. Os mercados de ações dos Estados Unidos, China e dos países periféricos da zona euro foram aqueles que melhor desempenho obtiveram. Nos Estados Unidos, o sentimento bullish esteve focado no sector tecnológico, cujas principais ações representaram a maior parte do rally do mercado. Juntamente com a fraqueza do dólar face ao euro e o gap entre o crescimento dos lucros na Europa e nos Estados Unidos, o rally tecnológico fez com que os mercados norte-americanos obtivessem uma melhor performance em comparação com os seus pares europeus.

Em fevereiro, contudo, os mercados iniciaram uma correção substancial, causada pelos receios de um rápido aumento da inflação e de uma compressão monetária por parte da Reserva Federal norte-americana. A divulgação dos dados do crescimento dos salários nos Estados Unidos provocou uma queda de 9% do MSCI World Index num espaço de dez dias. Em março, registou-se uma segunda queda do mercado depois da administração Trump falar sobre um aumento das tarifas alfandegárias para os seus parceiros comerciais, em particular a China, e também devido às preocupações regulatórias para o sector tecnológico. Depois de uma média de 11% desde 2017, a volatilidade implícita dos mercados acionistas encontra-se em torno dos 20% desde fevereiro.

As yields das obrigações subiram. Nos Estados Unidos, a curva de yields manteve-se relativamente estável, com as yields mais longas a serem acompanhadas por um aumento das taxas mais curtas, impulsionadas pela normalização da política monetária. Em março, a Reserva Federal aumentou as suas taxas de juro mais importantes em 25 pontos base. Nos restantes países desenvolvidos, as taxas mais curtas mantiveram-se baixas devido à continuação das políticas monetárias acomodatícias. Os spreads de crédito sobre dívida corporativa de alta qualidade e das obrigações high yield alargaram à medida que a volatilidade aumentou.

No mercado de commodities registaram-se várias performances. Por um lado, os preços do petróleo subiram de forma significativa, enquanto que o ouro beneficiou de um dólar mais fraco. No entanto, o aumento do preço do ouro foi limitado devido a taxas de juro reais mais altas. Por outro lado, os metais industriais tiveram uma performance inferior apesar do seu papel enquanto cobertura da inflação.

Outlook para os próximos três meses

Apesar da escalada das ameaças de uma guerra comercial, mantemos a expectativa de um crescimento económico sólido em 2018. Ainda que a volatilidade se mantenha elevada, encaramos a retórica agressiva da parte da administração norte-americana como uma tática de negociação, o que, provavelmente, fará com que os Estados Unidos e a China alcancem uma solução negociada. No entanto, este ano é provável que o crescimento aumente.

Nos mercados de obrigações, prevemos que a curva de yields norte-americana continue o seu movimento crescente durante o segundo trimestre. A Reserva Federal norte-americana poderá aumentar as suas principais taxas de juro uma vez em cada trimestre este ano, enquanto que as yields mais longas deverão converter-se num reflexo mais exato dos fundamentais. É provável que os spreads de crédito continuem a alargar tanto para o segmento de investment-grade, como para os títulos high yield. Na Europa, a curva de yields deverá acentuar-se, com uma manutenção das taxas mais curtas nos níveis atuais.

Nos mercados de ações, a volatilidade deverá manter-se relativamente elevada devido à normalização da política monetária e a uma maior dispersão das previsões económicas. Quaisquer decepções resultarão em rápidas correções de mercado. Contudo, a tendência geral do mercado deverá continuar positiva num contexto de crescimento dos lucros empresariais.

What's on the agenda? 

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