Volatilidade para ficar: quem ganha e quem perde?

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ragingwire, Flickr, Creative Commons

O sell-off nas obrigações de abril fez com que muitos investidores ficassem nervosos quanto ao que se estava a passar. Isso não é de estranhar. No entanto, Gareth Isaac, fixed income fund manager da Schroders entende que esta “fraqueza” do mercado deve ser entendida num contexto de “prolongamento de um rally”. “Os aumentos mais vertiginosos nas yields estão a acontecer na Europa, onde as yields das obrigações se tornaram desfasadas da realidade”, vaticina, lembrando que a yield das obrigações governamentais alemãs a 10 anos caiu abaixo de 10 pontos base a meio de abril, enquanto nas italianas a 30 anos a queda foi abaixo dos 2%.

Recuperação económica: entendida como cíclica

Numa visão de médio prazo o especialista considera que as perspetivas para as obrigações continuam a ser “fortes”. São vários os factores que suportam essa tese. Por um lado, diz, a taxa de depósitos fixada pelo Banco Central Europeu continua a ser negativa, ao passo que a procura por rendimentos por parte dos investidores europeus deverá “evitar que as yields subam durante muito tempo”. No que diz respeito à Economia, Gareth Isaac assume que a recuperação dos últimos tempos deve ser entendida como uma “recuperação cíclica”, porque “ainda existem alguns ventos estruturais contrários na região, que poderão surgir em primeiro plano numa fase mais tardia”.

“Seleção” é a palavra chave que ganha força no ambiente descrito. O profissional da Schroders mostra-se positivo tanto na área de investment grade, como nas obrigações corporate high yield, avisando que a escolha criteriosa é o mais importante a ter em conta.

Quanto aos níveis de volatilidade que nos últimos tempos têm “tomado de assalto” os mercados, as previsões da gestora internacional passam por uma moderação no curto prazo, “à medida que os mercados se vão movendo em direção a valorizações mais realistas para as obrigações governamentais”. Mas a quando as perspetivas são traçadas para um  período mais longo, a opinião é outra. Nesse espaço temporal o especialista considera que “os períodos de volatilidade é provável que se tornem mais comuns”.

Volatilidade é porta de entrada para ações europeias

Porque as oportunidades surgem para uns nas fases mais frágeis de outros, Martin Skanberg, fund manager de ações europeias também da Schroders, acredita que o regresso da volatilidade pode ser um bom ponto de entrada para as ações europeias. Claro que a “descida das yields das obrigações governamentais e a desvalorização do euro foram dois pontos que guiaram os preços das ações europeias nos últimos tempos”, mas, com “o desvanecer destas duas tendências não restam dúvidas que as ações começaram a sofrer alguma pressão”. Contudo, não se podem deixar de lado outros factores que têm continuado a suportar esta classe de ativos. “A recuperação do sector bancário na Europa, desde o último ‘Asset Quality review’ mantém-se como um importante motor para as ações, a par da recuperação dos empréstimos bancários concedidos às empresas”.

Os próprios resultados das companhias são outro dos pilares que sustentam a crença nas empresas. “A recente temporada de resultados do primeiro trimestre foi um grande ponto de otimismo para as empresas europeias”, indica, apontando que o crescimento de vendas destas companhias não aconteceu apenas por via das taxas de câmbio benéficas, mas também por causa de um forte crescimento orgânico. Todos estes factores conjugados, a par da volatilidade que rodeia a questão grega, podem “providenciar um bom ponto de entrada nas ações europeias”.