Viagem aos mercados emergentes com o fundo Mirabaud Global Emerging Market Equity

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romanboed, Flickr, Creative Commons

images__1___1_Os mercados emergentes apresentam, para o curto prazo, um outlook que pode ser considerado de robusto: os fortes PIB têm suportado o crescimento dos lucros, o prémio de risco político tem vindo a diminuir e as valuations dos emergentes, em termos genéricos, são atrativas. A experiência de Daniel Tubbs (na foto à direita), atual head of GEM equities na Mirabaud, é já vasta no que toca a este segmento de mercado. Antes de integrar a entidade suíça, o profissional inglês tinha já quatro anos de experiência na BlackRock como co-head of GEM Equities e seis anos de track record na WestLB Asset Management, como head of Asia ex-Japan. Na entidade suíça, o profissional coloca os seus conhecimentos à prova em dois fundos: o Mirabaud Global Emerging Market Equity fund e o Mirabaud Asia Ex-Japan.

O primeiro produto enunciado vive claramente de uma abordagem bottom up (seleção de títulos), embora também seja tido em conta o contexto macroeconómico do país. O espectro de underweights e overweights protagonizados pelo fundo reflete as convicções atuais da equipa de gestão. Logo à cabeça, destaque para a subponderação ao Brasil: “O país é o nosso segundo maior underweight, porque achamos que existem outras economias que devemos favorecer face ao Brasil. Por esta altura, no ano passado, tínhamos 0 de exposição ao Brasil, e em outubro/novembro voltámos a comprar um pouco de Brasil novamente, nomeadamente através de duas ações: Banco Itaú e a Kroton Educational”, começou por explicar. Embora as eleições no país estejam marcadas para outubro, o profissional da Mirabaud não espera que daí advenha “nada de novo”, muito menos “reformas positivas”. “Existem muitas incertezas no país e essa é a principal razão para estarmos cautelosos”, sustenta.

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Fonte: Mirabaud Asset Management, janeiro 2018

A grande subponderação face ao índice é contudo protagonizada pela Coreia do Sul. Mais do que razões políticas, Daniel Tubbs justifica a decisão com as caraterísticas dos “constituintes de mercado”. No país existem por exemplo muitas empresas financeiras, mas que não “enchem as medidas” da equipa de gestão: “são companhias baratas, mas que na nossa perspetiva constituem uma armadilha de valor”, explica o profissional. Ciente de que muitos concorrentes privilegiam em carteira pelo menos a presença da gigante tecnológica mais conhecida do país, Tubbs mostra o seu pragmatismo: “Não temos nada contra a Samsung ou contra as empresas automóveis como a Kia, mas para nós não são suficientemente entusiasmantes. Estamos cientes de que temos um portefólio muito concentrado – cerca de 40 títulos – e a maioria dos nossos concorrentes têm o dobro deste número em carteira”, remata.

A Rússia e o El dorado asiático

No espectro oposto aparece a Rússia. O mercado constitui a grande sobreponderação feita pelo fundo, e o profissional explica o porquê. “A economia está a crescer por via da subida do preço do petróleo, enquanto que a inflação está a descer. O racional da economia é bastante bom, o que acaba por ser benéfico para as ações, mais concretamente para os bancos, que nós privilegiamos em carteira”, introduz, explicando que o país, em carteira, é o perfeito exemplo de uma boa combinação entre a parte bottom up e a top down.

Outra sobreponderação importante em carteira prende-se com a China. Um overweight já “antigo”, que dura há cerca de dois anos e que se reflete através do investimento em H-shares que são cotadas em Hong Kong, pois estas “estão bem acima em termos de qualidade face às A-shares cotadas em Xangai e em Shenzhen”. No país apresentam exposição essencialmente “à indústria tecnológica, bancos e companhias de seguros”. Daniel Tubbs é dos que foge à ideia de um hard landing na China. Acredita que a “economia chinesa vai continuar a desacelerar, porque está a tornar-se tão grande que não pode crescer ao mesmo ritmo do passado”. No entanto isso, explica, não é factor de preocupação, pois os “6% de crescimento que o país apresenta agora continuam a ser fantásticos”.

A categoria ‘outros’ também ganha importância quando se olha para as geografias sobreponderadas. A política de investimento do fundo abre uma brecha para o investimento em mercados desenvolvidos com exposição a mercados emergentes, e a essa componente a carteira pode ter uma alocação de 30%. Sublinha portanto os 3% que têm de exposição a uma importante empresa norte-americana com elevada expsoição à Ásia. “A Aptiv (braço de negócio da Delphi) é cotada no mercado norte-americano e constrói componentes para veículos automatizados e elétricos, e grande parte das suas receitas vêm da Ásia”, exemplifica.

Precisamente a Ásia acaba por ter um lugar de destaque no portefólio, que deriva das convicções da equipa sobre esta região. “Há melhores perspetivas de longo prazo para a Ásia comparativamente com o mercado da América Latina e EMEA. De tempos a tempos, claro, há boas oportunidades nestes dois últimos mercados, mas em termos genéricos é na Ásia que vemos mais valor. Na região existe crescimento económico estrutural de longo prazo e, em termos gerais, as empresas têm melhor qualidade”, atesta. Para além disso, o profissional lembra o crescente número de companhias que chegam ao mercado e que o próprio testemunha durante as viagens que faz: “Sempre que vou de viagem para a Ásia conheço novas empresas nas quais nunca tinha estado, ou que até então nunca tinha ouvido falar. Creio que esse dinamismo tem a ver com o espírito inovador do próprio mercado”, revela.

Com experiência mais do que suficiente nos mercados emergentes, o responsável da entidade consegue rapidamente fazer uma retrospetiva do que mudou nos últimos anos. “A composição dos mercados emergentes mudou muito desde há 21 anos atrás. As tecnológicas e as financeiras perfazem atualmente quase 50% do MSCI Emerging Markets Index, e o consumo discricionário também ganhou um peso distinto face aos últimos anos. Dentro do sector financeiro incluem-se também as seguradoras, e é de sublinhar o crescimento deste sector na Ásia, nos últimos tempos. A penetração de seguros de vida na Ásia é bastante baixa, mas isso tem vindo a mudar. As pessoas começam a ter dinheiro para gastar em seguros”, lembra.

 

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O corolário de investimento do fundo global de mercados emergentes da casa é portanto fácil de resumir. O mindset passa por “investir em empresas de qualidade que estejam a crescer a um preço razoável, e não favor empresas que não cresçam muito rápido ou que estejam muito caras”.