“Vamos desfrutar do Mundial, mas sem nos deixarmos levar pelo sentimento e pelos ganhos do curto prazo”

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O Brasil está na moda. E não é só por causa do início do Mundial de futebol, mas também porque é um gigante cujo mercado de capitais está descoordenado. A sua influência no resto da América Latina sempre foi latente, embora, tal como a sua geografia, também as perspetivas para a região reflitam uma terra de contrastes”, argumenta Nick Price, que lidera a equipa de mercados emergentes da Fidelity Worlwide Investments.

Sem esquecer que o processo de investimento se centra na análise de empresas e não de países, Nick Price analisou na revista Funds People Chile, o cenário macroeconómico e financeiro que a América Latina atravessa, com o finca-pé nas principais economias e nos mercados mais importantes. Além disso, em entrevista à Funds People Latam, Price expõe  a sua visão sobre o Brasil e fala ainda acerca do possível impacto do Mundial de Futebol organizado pela FIFA, tal como dos jogos Olímpicos que serão organizados no Rio de Janeiro dentro de dois anos.

Mais concretamente em relação a este último certame, para começar o responsável da equipa de ações de mercados emergentes da Fidelity espera que “estes acontecimentos extraordinários resultem em celebrações bem sucedidas e felizes”. Em todos os sentidos, já que “esperamos que a economia brasileira beneficie da herança do investimento em infra-estruturas necessárias para apoiar estes eventos”, acrescenta.

No entanto recorda que “são programas de carácter extraordinário”. Acontecimentos que sucedem uma única vez, com despesas de capital, que não são recorrentes, e “por isso descontamos os seus efeitos nos lucros das empresas que analisamos. Isto deve-se ao facto de só estarmos interessados na capacidade de gerar lucros sustentáveis das empresas nas quais investimos. É chave na nossa maneira de investir. Tudo o que fazemos centra-se em assegurar que as nossas decisões de investimento se baseiam em perfis de rendimentos sustentáveis, e estruturas que limitam o risco de perda de capital.

Por isso, considera que não é bom apostar em títulos de empresas que possam estar inflacionadas por receitas provenientes destes eventos. “Assim vamos disfrutar do Mundial e dos Jogos Olímpicos com o resto do mundo e desejamos aos aficionados brasileiros o melhor, mas não nos vamos deixar levar pelo sentimento e pelos lucros de curto prazo”.

No que diz respeito ao contexto económico da economia brasileira, Nick Price considera que o Brasil está perante um cenário difícil”. Apesar do desemprego e do consumo continuarem a ser fortes, o sector manufactureiro está fraco e as distintas indústrias do país lutam contra o declínio da procura chinesa. “Vamos ver quanto tempo é que o consumo consegue aguentar a sua trajetória perante a debilidade da moeda, o aumento do custo do crédito e a diminuição da acessibilidade dos produtos importados. Para além disso, as autoridades devem abordar assuntos que estejam relacionados com corrupção e inflação”.

Desta forma, Price considera que a médio e longo prazo a subida das taxas de juro pelo Banco Central do Brasil será positiva perante as pressões inflacionistas, apesar das medidas do governo para enfrentar a menor atividade económica possam  ter um impacto positivo nas perspetivas de investimento, pelo menos no curto prazo.