Value ou growth? Cíclico ou defensivo? Alguns pontos de vista sobre a rotação de estilos

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A rotação de estilos do segundo semestre de 2016 continua viva. As duas grandes perguntas são quanto tempo mais durará a troca de ações defensivas por cíclicas e de growth por value, e se os investidores estão a fazer uma rotação das suas carteiras por motivos racionais ou puramente emocionais.

Tim Stevenson, diretor de ações europeias da Henderson e gestor do Henderson Horizon Pan European Equity (classificado como Blockbuster) destaca o impacto sobre as valorizações: “Esta mudança fez com que o preço dos títulos value disparasse acima da sua média a 10 anos, enquanto a valorização dos títulos growth caiu abaixo da sua”.

Stevenson acredita que esta tendência ainda tem muito caminho por percorrer, mas crê que a chave para 2017 “serão os indícios de que a inclinação para o value já foi demasiado longe, visto que é impossível fazer com que magicamente surja crescimento no nosso mundo maduro e de baixo crescimento”.  

O gestor tem algo a dizer sobre o ritmo da recuperação europeia que também serve para contextualizar a rotação de estilos: “Parece que o populismo não vai acabar com o caminho europeu de avanço económico aborrecido, mas seguro. Isto pode permitir aos investidores que voltem a fixar-se nos mercados europeus menos populares e na melhoria que se observa nas tendências dos lucros.

O gestor sublinha a expectativa de que o PIB europeu registe um crescimento de 1,5% durante 2017, acompanhado de pressões inflacionárias emergentes. Se a melhoria económica permitir que o gasto público relaxe, Stevenson crê que “há razões para esperar que o velho continente se encontre agora imerso num círculo virtuoso, e não vicioso”.

Uma última nota: a recuperação da rentabilidade a dez anos e do treasury com a mesma maturidade (0,3% e 2,3% respetivamente, dados a 8 de fevereiro) “tem implicações importantes apra os bancos e os nomes que estão a recuperar”. Ainda que Stevenson se mostre cético quanto à força ou à duração da recuperação europeia, deixa uma mensagem clara: “Seria um erro ignorá-la”.

A Invesco fornece uma série de gráficos que sublinham a diferença de rentabilidade entre os valores com bias value e bias growth com que começou 2017. O primeiro demonstra que a rentabilidade de um ou outro fator de risco dependeu muito dos setores: enquanto a tecnologia fez pandã com o growth, o setor financeiro destoou com o value.

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O gráfico 2 demonstra que a recuperação dos valores do segmento financeiro suportou o rally do value na recta final de 2016. Depois de terminar 2015 como um dos piores setores, o exercício passado terminou com um retorno de 22,5% face aos 13,3% das tecnológicas.

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A última observação dos especialistas da Invesco, recolhida do seu relatório Insights and Opportunities do primeiro trimestre de 2017, é a de que o value continua vivo à custa do impulso dos valores financeiros, pois mesmo depois do rally do ano passado “continuam subvalorizados em relação à sua média histórica”. O gráfico mostra o desconto médio do setor por Price to Book Value em relação à sua média histórica dos últimos 51 anos.

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Defensivos vs cíclicos

Ainda que os títulos defensivos tenham sido os preferidos dos investidores nos últimos anos, “agora as valorizações dizem-nos que as ações cíclicas são demasiado caras e não podemos encontrar nenhuma que ofereça suficiente rentabilidade por dividendo”, indica Nick Clay, gestor de estratégia de Global Income da Newton (parte da BNY Mellon). Por outro lado, “as empreas defensivas parecem atrativas e voltaram a estar no nosso radar, pelo que temos vindo a aumentar essas posições”.

Clay pensa que 2017 vai voltar a ser um ano com duas partes claramente diferenciadas, ainda que neste caso pense que os valores defensivos e a dívida pública vão ficar para trás no primeiro semestre, enquanto as ações cíclicas vão disparar. Por outro lado, crê que a aversão ao risco vai marcar o segundo semestre, de maneira que os setores cíclicos vão passar por um sell-off e os valores defensivos vão voltar a brilhar. “Uma data-chave a ter em conta é o 15 de março: nesse dia termina a suspensão temporal do teto da dívida dos Estados Unidos, e o Congresso vai ter de ratificar o próximo nível de dívida. Este foi um passo que Obama não tomou e que conduziu ao parêntesis atual”, acrescenta Clay.

O gestor conclui a sua análise com um aviso: “Na atualidade, o mercado de ações está sustentado em emoções e absurdos. Mais cedo ou mais tarde vamos ver se essa esperança está justificada ou não”.

Ed Monk, da Fidelity Personal Investing (parte da Fidelity International), acha que “a rotação de defensivos e cíclicos pode chegar bem mais longe”. Não obstante, crê que os grandes vencedores a longo prazo serão as ações com uma inclinação mais defensiva, especialmente aquelas que pagam dividendos, e vincula esse comportamento com a megatendência do envelhecimento mundial.

Neste contexto, a consequência mais esperada é a de que “se vai prestar mais atenção à poupança”, com um maior número de indivíduos reformados, mas com uma esperança de vida que continua a aumentar, “pelo que as empresas que oferecem serviços de planificação da reforma e serviços de investimento vão ter mais procura”. Para além desta tendência, o especialista explica que o ponto-chave será que “as empresas de qualquer setor que produzam um rendimento recorrente vão gozar de uma procura crescente, porque muita gente vai pensar em converter as suas economias em rendimentos que as apoiem durante a reforma".