V Sondagem do Instituto BBVA de Pensões revela que o número de aforradores em Portugal tem aumentado

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O estudo levado a cabo pelo Instituto BBVA de Pensões sobre as pensões e hábitos de poupança em Portugal vai já na quinta edição. Os resultados foram revelados recentemente e destes surgem algumas conclusões interessantes. A primeira é algo que, apesar de não ser novidade, continua a ser preocupante: sete em cada dez portugueses (71%) considera estar pouco ou nada informado sobre a sua reforma. Este é um dado que se manteve praticamente inalterado face ao estudo realizado em 2016. Por outro lado, seis em cada dez afirmam desejar obter mais informação relativamente ao montante da sua futura pensão e a idade em que se poderão reformar – um indicador que cresceu face aos resultados publicados em 2016.

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Fonte: Instituto BBVA de Pensões

Jorge Bravo, membro do Fórum de Especialistas do Instituto BBVA de Pensões, defende que, “em termos de informação sobre a reforma, a conclusão é de que o nível é muito baixo e ainda há um longo caminho a percorrer por parte de todos os stakeholders”. Não obstante, refere que “91% dos inquiridos tem a percepção de que é necessário poupar para a reforma” e, como tal, acredita que “é importante que as pessoas percebam que é necessário complementar aquilo que será a sua pensão pública com outras formas de financiamento da reforma”.

Número de aforradores e valor médio poupado cresce

Outra das conclusões a que o estudo chegou tem que ver com a percentagem de aforradores, que cresceu para 62%. No mesmo sentido, o valor médio mensal de poupança aumentou, em média, 54,9 euros para 221,2 euros por mês. De facto, observa-se um aumento progressivo da poupança e do valor médio poupado: em 2014 este valor situava-se, em média, nos 207,1 euros mensais.

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Fonte: Instituto BBVA de Pensões

No entanto, apesar do número crescente de aforradores, ainda existe uma percentagem (64%) elevada de inquiridos que referem que não poupam para a reforma. Quanto às razões para tal, referem ou que não têm capacidade para o fazer, ou que a distância temporal até à reforma é longa. Por outro lado, surge outro dado importante: “a maioria dos inquiridos não acredita que a sua pensão vai ser suficiente para proporcionar o nível de vida que gostariam de ter (sem dificuldades)”, destaca Jorge Bravo.

Perante este cenário, quando instados sobre ações de promoção de poupança para a reforma, o favorecimento do crescimento dos salários surge como a opção que os inquiridos consideram mais eficiente. Para o especialista, apesar de ser um facto de que os salários em Portugal são baixos, este é um factor que não explica tudo. “Os inquiridos percepcionam o seu problema de incapacidade de poupar como um problema a montante – o problema não é a forma como fazem a gestão do seu orçamento familiar. Mas, a verdade é que isso não explica tudo, porque, em comparação com outros países, as taxas de poupança por classe sócio económica em Portugal são muito mais baixas. Hoje, temos níveis de poupança historicamente baixos”, explica.

Quanto aos instrumentos utilizados para poupar, os aforradores nacionais continuam a preferir os depósitos bancários: cinco em cada dez dos que poupam para a reforma fazem-no através de depósitos bancários. Os Produtos de Poupança Reforma (PPR) surgem como o segundo instrumento financeiro mais utilizado, com quatro em cada dez a afirmar que poupam através de PPR’s.

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Fonte: Instituto BBVA de Pensões

Paradoxo entre a responsabilidade sobre a reforma

Quando instados acerca da responsabilidade de garantir uma pensão de reforma adequada, 82% dos portugueses acredita que esta responsabilidade é do Estado. Algo que, para Jorge Bravo é um paradoxo: “Se os cidadãos interiorizarem que o sistema não lhes vai devolver aquilo que descontaram, que não vai pagar aquilo que eles gostariam que pagasse, se vai devolver uma quantia claramente insuficiente face às necessidades e se desconfiam que o sistema tem futuro, é paradoxal que 82% continue a responder que a responsabilidade primeira continua a ser do sistema público. E isto é preocupante”, refere.

Curiosamente, parecem preferir opções de poupança de caráter individual: 77% afirmou parecer-lhe bem a ideia de que cada trabalhador possua uma conta individual na qual vai acumulando as suas contribuições ao longo da vida laboral, sendo posteriormente calculada a sua pensão consoante o valor acumulado nessa conta. Para além disto, mais de 90% considera ser recomendável que cada qual poupe para a sua reforma, de forma a complementar a pensão pública. Sobre esta preferência, Jorge Bravo refere que “uma das coisas que os portugueses gostariam de ter é uma maior flexibilidade e liberdade de escolha em relação ao momento em que gostariam de sair do mercado de trabalho. Existe, cada vez mais, uma vontade de ter maior liberdade de escolha. O nosso sistema é muito rígido nessa matéria, não estando estruturado segundo o princípio de contas individuais”.

Contudo, destaca que se observa “um desajuste entre a realidade daquilo que é a planificação do ciclo de vida e a aquilo que são as percepções que as pessoas têm em relação a essa planificação”. Um indicador deste desajuste é a idade da reforma média desejada, que se situa nos 58,8 anos, e a que os inquiridos consideram possível, que é de 64,5 anos. “É necessário um esforço adicional para uma melhoria deste desajuste. É muito fácil estragar uma carreira contributiva de muitos anos apenas pela decisão de sair do mercado de trabalho na altura errada”, explica José Bravo.

Factor humano continua a ser essencial

Um último ponto importante de destacar deste estudo tem que ver com as fontes de informação a que os indivíduos recorrem para obter conselhos sobre a poupança para a reforma. Os resultados demonstram que seis em cada dez inquiridos recorrem ao seu gestor bancário, que consideram uma fonte de informação fiável, e que quatro em cada dez recorrem a amigos e familiares. Para José Bravo, esta conclusão é particularmente importante e explicou porquê: “Estas respostas revelam que quem procura informação em relação à planificação para a reforma, procura não só conhecimento – daí os intermediários financeiros – mas também confiança – e a família simboliza isso mesmo. Dito isto, apesar de vivemos numa Era de constante evolução dos meios digitais de profusão de informação sobre este tipo de matérias, ainda existe a preferência pelo factor humano”, refere.

Por fim, sobre o perfil do aforrador nacional, o estudo revela que a classe média são aqueles que mais poupam. Para Jorge Bravo, é importante pensar e perceber esta dinâmica, deixando um conselho à indústria financeira: “A indústria financeira desenha, historicamente, soluções para o público de forma indiferenciada, apresentando uma solução de aforro que é válida para quem tem rendimentos baixíssimos, para quem tem rendimentos muito altos ou para quem tem rendimentos médios. Mas esta abordagem não funciona muito bem, porque quem tem rendimentos muito baixos, a sua capacidade de poupança, mesmo que exista, será sempre baixa. Por outro lado, quem tem rendimentos elevadíssimos, muitas das vezes, não tem necessidade de poupar. Acumulou rendimento ou património tão elevado, que aquilo que acumularem durante a sua vida ativa não fará diferença na sua reforma. Quem está no meio é quem, normalmente, demonstra maior preocupação em poupar. Porque tem encargos significativos ao longo do ciclo de vida e pressente que vai ter na reforma uma pensão muito inferior àquilo que considera justo e necessário, pelo que percebe que tem que começar a poupar”, conclui.