Uma viagem pelas ações dos mercados emergentes: a visão da Candriam

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Os mercados emergentes podem ser considerados um mundo de oportunidades, cuja recuperação tem suportado o bom momento económico global registado nos últimos tempos. Apesar disso, a incerteza parece ser um dos elementos que não desaparece da mente dos investidores, não só pelas características de algumas das economias que compõem o universo de mercados emergentes, mas também pela instabilidade política que muitos dos países enfrentam ao longo dos anos.

Contudo, instabilidade e incerteza são duas das palavras que a Candriam procura suavizar no que toca ao investimento em mercados emergentes, algo que se reflete na própria equipa que tem como responsabilidade a gestão do Candriam Equities L Emerging Markets. Naquela que foi a primeira edição da FundsTalks, à conversa com Inês Correia de Oliveira, head of fund selection da WMU do Millennium BCP, Paulo Salazar, senior analyst da Candriam, fez questão de destacar a consistência da equipa de gestão: “A equipa é composta por cinco pessoas e três delas trabalham há 15 anos juntas. O turnover da equipa é zero, é muito estável”, refere.

Conciliar o modelo quantitativo com a faceta humana

Candriam_Paulo_SalazarQuanto ao processo e à filosofia de investimento deste produto, o especialista começa por dizer que o objetivo é alcançar um portefólio diversificado, com um turnover relativamente baixo (em torno dos 50%), embora possa ser superior quando as condições de mercado assim o exigem. “É preciso ter em conta que os custos de transação em mercados emergentes são elevados, pelo que é necessário um equilíbrio no que diz respeito ao turnover”, acrescenta. A construção da carteira, por outro lado, tem como base o índice MSCI Emerging Markets, existindo a capacidade “para investir até 15% em ações fora do índice”, ressalva.

O universo de investimento é, assim, bastante amplo, englobando mais de 1.000 empresas. Como tal, a escolha dos títulos que compõem a carteira obedece a vários critérios, entre eles a exclusão de empresas ligadas ao tabaco ou a armas não convencionais e empresas pequenas e sem liquidez: “dificilmente investimos em empresas que transacionem menos de um milhão de dólares por dia”, explica Paulo Salazar. Outros critérios passam pelo crescimento dos resultados, taxas de rentabilidade do negócio e o crescimento sustentável da empresa, mas com uma valuation razoável. Após este screening inicial, os passos seguintes são a análise bottom-up e fundamental das empresas, que dão origem a um portefólio composto por 100 a 120 títulos. “O segredo está em combinar o modelo quantitativo com os skills analíticos da equipa”, resume o especialista.

Quanto à principal fonte de alfa deste fundo de ações emergentes da Candriam, Paulo Salazar destaca que o stock picking é o elemento-chave: “temos sido capazes de identificar empresas que têm um modelo de negócio único. Por outro lado, procuramos certificar-nos de que a qualidade das empresas que detemos em carteira é melhor do que a média do índice”, explica.

Um fundo com um bias temático?

A composição da carteira, por outro lado, parece apresentar um certo enviesamento temático, algo apontado por Inês Correia de Oliveira na sua conversa com Paulo Salazar. O especialista assumiu essa característica do fundo, explicando que a equipa chegou à conclusão que “as empresas tendem a classificar-se num destes quatro quadrantes: tecnologias disruptivas, demografia, infraestruturas e tendências macro e de mercado”.

Um exemplo do primeiro quadrante é a empresa de Taiwan, WIN Semiconductors Corp. “Esta foi a única empresa na qual a Apple confiou para produzir os sensores necessários para o ‘face recognition’ instalado no iphone X. Quem investiu nesta empresa quase que triplicou o seu investimento. Isto significa que é fulcral ter a capacidade de identificar as empresas que fabricam este tipo de produtos altamente específicos, tendo em conta que o mercado tende a antecipar esse tipo de movimentos”, refere.

Contexto positivo mas com alguns riscos no horizonte

Sobre a gestão que na entidade fazem relativamente à evolução do índice de mercados emergentes e às condições de mercado, Paulo Salazar acredita que é necessário “colocar em perspetiva os eventos nos mercados nos últimos anos”. Mas salienta: “numa perspectiva de fundamentais e de crescimento, o panorama é ainda robusto”. Não obstante, admite que a recente subida do dólar é um dos factores que pode destabilizar os mercados emergentes, movimento que está relacionado com as subidas das taxas de juro e com o contexto geopolítico. Defende, contudo, que a inflação será o factor que determinará o contexto não só das subidas das taxas de juro, mas também do dólar: “Vivemos num ambiente altamente deflacionário, os países emergentes têm exportado deflação há algum tempo. Para além disto, existe o factor tecnológico que tende a gerar um corte de custos muito forte”, revela o profissional.

Dito isto, Paulo Salazar acredita que o contexto continua a ser positivo para os mercados emergentes, argumentando com a redução do gap do PIB entre os países desenvolvidos e os países emergentes. Destaca, por outro lado, as mais recentes previsões do FMI para os mercados desenvolvidos e para os mercados emergentes. “As previsões do FMI para os mercados desenvolvidos desceram para o que resta do ano, enquanto que para os mercados emergentes continuam a subir. Como tal, este deve ser o principal impulsionador das transações nos próximos tempos. A abordagem bottom-up continuará, assim, a ser fulcral”, conclui.