Uma abordagem fundamental das ações em países emergentes

Luiz_Soares_1
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Para os investidores em ações que têm uma visão fundamental do valor das empresas, e que contam com a disciplina necessária para aplicar esta abordagem de forma metódica, a volatilidade pode ser uma aliada. Este é o caso actual dos mercados emergentes, em que o 'sell-off' da primavera passada fez com que as ações acabassem a negociar com um desconto de 28% em comparação com as suas homólogas nos países desenvolvidos; este é um diferencial que não se observava desde o final dos anos noventa. Isto apesar do crescimento anualizado dos benefícios superar largamente o registado pelas ações dos mercados desenvolvidos.

Este tipo de incompatibilidades é o que os investidores que adoptam uma abordagem fundamental têm vindo a explorar nos mercados desenvolvidos, pelo que não deixa de ser razoável tentar fazer o mesmo nos mercados emergentes. Certamente, em termos gerais, as abordagens não são tão diferentes. O objetivo da seleção de ações com base na análise fundamental, independentemente de onde se pratica, é encontrar empresas a bom preço que contem com uma vantagem competitiva sustentável, uma gestão de capital disciplinada e um forte governo corporativo. Desta forma, também se avalia uma equipa de gestão solvente que saiba guiar a empresa à medida que se vão fazendo trocas na dinâmica, na regulação e no contexto competitivo do sector.

A seleção de ações nos mercados emergentes baseada em análises fundamentais deve ter em conta uma série de fatores que diferem dos observados nos mercados desenvolvidos. Os fatores inerentes a cada ação têm uma influência decisiva na evolução das ações nos mercados emergentes. No entanto, a seleção de ações nos mercados emergentes com base em análise fundamental também deve ter em conta uma série de fatores que diferem bastante dos observados em mercados desenvolvidos, tal como o contexto competitivo onde as empresas operam, o maior peso das políticas governamentais e da força (ou falta dela) dos avanços macroeconómicos que têm efeito dos mercados emergentes um destino tão atractivo.

E, por último, mas não menos importante, importa destacar a crescente importância do processo: um elemento essencial se os investidores se quiserem manter à tona do contexto atual de volatilidade, resultante de um maior dinamismo. O estudo dos fundamentais é necessário, mas não suficiente. Deve completar-se mediante um marco de estruturação da carteira e uma disciplina de compra e venda adaptados aos mercados que diferem não só dos desenvolvidos, mas também entre eles.