Ucrânia, Rússia e outros Emergentes foram os “patinhos feios” do trimestre

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MNixonPhoto, Flickr, Creative Commons

Se ao nível positivo o primeiro trimestre do ano trouxe consigo uma espécie de “ressurreição” de bons resultados na periferia da zona euro, mais a Leste a situação complicou-se. Tanto a conjuntura na Rússia e na Ucrânia, como noutros mercados emergentes, foi predominantemente assinalada pelos profissionais do sector questionados pela Funds People, que passaram em revista alguns dos piores eventos dos três primeiros meses do ano. 

O pior momento eleito por Diogo Serras Lopes, do Banco Best, é exatamente “o ressurgimento da tensão geo-política, nomeadamente com o caso da Ucrânia/ Rússia, e também maiores receios relativamente aos mercados emergentes”. Jorge Guimarães, da Banif Gestão de Activos, corrobora da ideia de que “o regresso do risco geopolítico derivado da crise na Ucrânia”, foi um dos momentos que mais marcou os Mercados pela negativa. 

Contágio para outras economias

Realçando também os acontecimentos a leste da Europa, Filipa Teixeira, da Patris Gestão de Activos, indica que “a crise na Ucrânia, indicativa do crescente risco geopolítico na esfera pós Soviética”, marcou o primeiro trimestre de 2014, mas trouxe também inevitavelmente “repercussões aos poderes vizinhos, nomeadamente China, Europa e Turquia”. A profissional acrescenta ainda que “as consequências a nível mundial vividas no pico das tensões neste 1º trimestre, tanto em termos económicos, como sociais e políticos, demonstraram bem a potencial fragilidade de uma estrutura que se assumia sólida, sustentada por dados económicos encorajadores, mas que ameaçou ceder em várias frentes perante a escalada do desentendimento político entre os vários poderes”.

Ricardo Silva, da CA Gest, não foge à regra, e aponta como momento mais difícil dos primeiros três meses do ano “a volatilidade assistida nos mercados emergentes, decorrente não só da desaceleração económica em algumas geografias chave como também da escalada de tensões geopolíticas em diversas regiões do globo”. O gestor diz que “a situação na Ucrânia e o braço de ferro entre a Rússia e a comunidade internacional é disso o exemplo mais recente”. 

Fuga de capitais nos Emergentes

“Mercados emergentes” são de facto a palavra negra do trimestre. Da Millennium Gestão de Activos esta é a ideia sublinhada, pois a equipa considera que “os piores acontecimentos deste trimestre estão relacionados com alguns mercados emergentes”. A entidade destaca que se verificou “uma fuga de capitais destes mercados no início do ano, sendo mais pronunciada nos países com balanças de transações correntes deficitárias, nomeadamente a Turquia, a África do Sul, a Índia e o Brasi”. Como consequência, dizem, existiu “ uma acentuada desvalorização cambial das moedas destes países face ao euro e ao dólar americano, e um aumento da volatilidade na generalidade dos ativos de risco, uma vez que inúmeras empresas europeias e norte-americanas têm ativos e receitas provenientes destes mercados”. 

Europa a sofrer com situação a leste

Não esquecendo obviamente a dualidade Rússia/Ucrânia, a gestora do grupo BCP relembra o “escalar dos conflitos sociais e políticos na Ucrânia, que culminaram na deposição do Primeiro Ministro Viktor Yanukovych, próximo ao governo de Moscovo, e na instauração de um governo interino. A Rússia reagiu invadindo a região da Crimeia, alegando a defesa dos cidadãos com etnia russa na região e, após um referendo, a mesma acabou por ser anexada à Federação Russa”, recordam. A atitude tomada por esta, “reacendeu as tensões geopolíticas entre esta e as principais potências ocidentais, uma vez que a anexação da Crimeia foi condenada e considerada como um ato hostil”, enquanto “as potências ocidentais, nomeadamente os EUA e a União Europeia, reagiram através de sanções económicas a uma lista de pessoas próximas ao governo de Moscovo, e da suspensão da Rússia do G8”. Como consequência desta situação “os mercados de ações europeus desvalorizaram, uma vez que a possibilidade de mais sanções económicas à Rússia põe em causa a recuperação económica europeia, dada a forte dependência entre as duas regiões - a Europa importa da Rússia uma percentagem elevada do seu consumo de energia”.  Em conclusão a Millennium Gestão de Activos assinala que “a situação permanece frágil, com riscos de escalar, uma vez que se desconhece a totalidade das intenções do governo de Moscovo na Ucrânia”.

Mais “contra corrente” Paulo Monteiro, da Invest Gestão de Activos elege “o fraco comportamento dos principais benchmarks acionistas mundiais, como por exemplo o S&P-500, DAX-30 e Nikkei-2252”, como sendo um dos acontecimentos que fez “mossa” durante o primeiro trimestre.