UBS Global AM analisa os efeitos colaterais do QE

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ohhector, Flickr, Creative Commons

Estará a Europa a sofrer do que se apelidam de efeitos colaterais? Joshua McCallum e Gianluca Moretti, economistas da UBS Global AM acreditam que sim. Se durante a crise da dívida soberana o euro se manteve forte – para espanto de muitos – bastou que o BCE entrasse em ação, com aplicação do Quantitative Easing (QE), para que a moeda europeia começasse de imediato a depreciar-se. 

“Assim que o BCE tornou claro que iria começar o seu próprio programa de QE, a situação inverteu-se”, começam por referir os dois especialistas em mais um 'Economist Insights'. Com o euro a depreciar-se categoricamente seria de esperar que se “reabastecesse a recuperação por via do sector externo, ao mesmo tempo que a inflação fosse sendo “empurrada” através dos preços de importação mais elevados”. Ainda no campo das hipóteses e teorias, ambos os economistas lembram que “as transações líquidas mais fortes deveriam, por isso, ter estimulado o crescimento do emprego e do investimento, o que, em última análise, seria transferido para o crescimento do consumo”.

Estes eram os argumentos teóricos. Contudo, não foi assim que as coisas se passaram. “Voltando a 2012, altura em que o euro estava forte, o crescimento aparecia por via das exportações líquidas. Agora que a moeda está mais desvalorizada a recuperação acontece por via da procura doméstica (ver gráfico abaixo). O que fez com que o caminho não fosse o esperado?”, interrogam-se da gestora.

Joshua McCallum e Gianluca Moretti fazem questão de frisar que as exportações não são apenas dependentes da taxa de câmbio, sendo também influenciadas pela procura. “Uma taxa de câmbio mais debilitada não vai ajudar nas exportações se os consumidores estiveram a cortar no seu orçamento. Mesmo que o euro esteja mais fraco, os mercados emergentes (em especial a China) têm abrandado abruptamente. Infelizmente para a Zona Euro, torna-se claro que a força ou fraqueza da procura externa é muito mais importante do que a taxa de câmbio”, reforçam.

Para que nem tudo pareçam más notícias, da entidade apontam o que apelidam de uma “consequência não intencional positiva” para a Zona Euro, proveniente do abrandamento dos mercados emergentes: a descida dos preços do petróleo. Mesmo que o BCE não tenha “aplaudido” de pé esta consequência, os consumidores, por seu lado, deram-lhe as boas vindas “pois baixos preços energéticos significa mais dinheiro para gastar noutras coisas”.

Desta forma, depois da crise financeira “muitos bancos centrais acreditaram que o QE era o melhor medicamento para evitar o crónico baixo crescimento e a inflação”. Contudo, “um dos efeitos colaterais foi a acumulação de desequilíbrios em algumas regiões, em especial nos mercados emergentes”, dizem, referindo que agora que “os mercados emergentes apanharam uma “gripe”, o programa do BCE poderá não ser tão eficaz como os dos outros bancos centrais”.