Três oportunidades de mercado apontadas por Paras Anand da Fidelity International

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Cedida

Colocar o presente em perspetiva é importante. Na vida, mas também nos investimentos. Se recuarmos a 2012 muitas vozes de mercado ecoavam frases de pouca esperança em relação ao retorno esperado tanto do lado das ações como das obrigações. Um conhecido profissional da indústria, em 2012, referia por exemplo: “Os retornos tanto das ações como das obrigações irão atrofiar... a era da expansão de crédito que nos conduziu a retornos de dois dígitos acabou”. O augúrio deste profissional não podia estar menos certo, como recordou recentemente Paras Anand, CIO Equities, Europe, da Fidelity  International, numa conferência em Lisboa em que se traçaram perspetivas para 2018.

“Tudo o que não tivemos nos últimos cinco anos foi um mundo de baixos retornos. Desde 2012 as ações americanas, por exemplo, dobraram o seu valor. Tratou-se sim de um período de retornos excecionais”, alerta. Por se tratar de um período de tanta preocupação sobre a fragilidade da economia global, e sobre o sistema financeiro, a psicologia dominante sobre os mercados globais, nos últimos cinco anos, apesar destes excecionais resultados, tem sido “de medo em vez da ganância”. Como consequência deste ambiente, o CIO da entidade lembrou que os investidores começaram a focar-se mais na preservação de capital em vez  do ganho de capitais. “Automaticamente o mercado esteve a desejar baixa volatilidade”, sentenciou.

A política monetária, por seu lado, – apesar de não convencional – tem tido poucos efeitos na economia real, reiterou também o especialista. “Não tem existido uma recuperação na confiança como resultado deste tipo de movimentos protagonizados pelos Bancos Centrais. A partir do momento em que estes normalizarem as políticas, poder-se-á assistir a uma recuperação da confiança, com os investidores a começarem a sentir que vivem numa economia que se sustenta e cresce per si”, referiu.

Três oportunidades em 2018

Com um tom relativamente positivo, Paras Anand deixou à audiência algumas oportunidades de mercado a manter “debaixo de olho” em 2018:

  • Investimento Value US

“Polarizado”. Foi este o termo que o profissional usou para apelidar o mercado norte-americano nos últimos tempos, já que “algumas ações em concreto têm protagonizado e sustentado o grosso do crescimento do mercado de ações dos EUA”. O especialista atesta que “o  ‘growth’ como factor tem superado o ‘value’, e quase que duplicou nos últimos anos, à medida que o mercado se foi tornando mais medroso e menos ganancioso”

Prosseguiu referindo que “num ambiente em que o crescimento económico está a retomar-se, e em que as avaliações já estão muito forçadas/esgotadas em algumas áreas”, acredita “que esta é a altura para os investidores olharem para o mercado value norte-americano”.

O Gráfico abaixo clarifica precisamente o quão forte têm sido as mega caps FAANG em termos de performance, relativamente aos resto do mercado.

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No entanto, sobre estas mega caps o especialista alerta para alguns riscos. “Relativamente a estas empresas o que é importante ter em mente é que no último ano, especialmente, muita da procura por estas ações, guiou-se por factores técnicos ou alocação de capital mais industrial, e não tanto por um bias fundamental”, indica. A Apple, por exemplo, “é encontrada em ETFs de vários tipos: value, momentum, large caps... o que indica que a ação é comprada a partir de critérios não fundamentais, o que influencia a sua procura. Se relacionarmos a relação destas mega caps com o índice Nasdaq, é possível verificar que uma determinada proporção da procura é conduzida por estes factores potencialmente não sustentáveis”, avisa.

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- “Quality” e “Growth” na Zona Euro

Contrariamente ao que apontavam sobre o mercado norte-americano, na Zona Euro o especialista recomenda um olhar em duas frentes. “A recuperação económica na Zona Euro – mais profunda do que muita gente estava à espera – teve um impacto grande nos principais mercados de ações da região. No trimestre assistimos às ações de menor qualidade terem melhor performance em termos de valorização e, curiosamente, assistimos às ações de menor qualidade ao nível do ROE terem também um bom comportamento”, lembrou, referindo também que “os participantes de mercado estão portanto a olhar para key players na recuperação económica europeia”.

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- Japão - um caso a manter próximo

A última oportunidade elencada prendeu-se com o país do sol nascente. O profissional não está indiferente à “reforma do sistema empresarial no país”, já que pela “primeira vez estamos a assistir a empresas que são geridas tendo em conta o interesse dos acionistas”. Tal mudança de paradoxo é evidente “nas medidas de corporate governance levadas a cabo”, mas também, nas próprias fusões e aquisições no país”. Aos investidores que consideram o investimento no Japão, a recomendação de Paras Anand é simples: “Mantenham-se próximos do que está a acontecer na terceira “seta” da Abenomics, que se prende precisamente com a reforma do sector corporativo”.

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