Três megatendências de investimento ESG para celebrar o Dia Mundial do Ambiente

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louise@toronto1, Flickr, Creative Commons

As gestoras internacionais quiseram celebrar o Dia Mundial do Ambiente, no dia 5 de junho, ao reforçar uma mensagem chave: que o investimento ESG é uma ferramenta útil para identificar riscos e para fornecer valor acrescentado aos investidores. “Investir tendo em conta critérios ambientais, sociais e de governo corporativo (ESG) tem como principal vantagem a de reduzir o impacto negativo que algumas atividades podem ter sobre as pessoas, a sociedade e o meio ambiente”, explica Pedro Coelho, diretor da UBS ETF Ibéria. Este defende que esta análise permite “obter uma informação mais real sobre os potenciais riscos e lucros, tanto a curto como a longo prazo”.

Pedro Coelho também destaca como o ESG influencia a relação entre empresas e investidores: “Num mercado globalizado, que exige cada vez mais transparência, as empresas que não despertem a confiança dos investidores estarão expostas a uma situação legal e de reputação difícil, que provavelmente implica custos mais elevados”.

Grandes temáticas de investimento

Umas das temáticas ESG mais difundidas é a luta contra as alterações climáticas. Segundo a DWS, tornou-se num dos riscos financeiros mais importantes neste contexto. Em particular, da gestora preveem que aquelas empresas cuja atividade prejudique o meio ambiente – por emitirem gases de efeito de estufa ou por acumularem grandes reservas de combustíveis fósseis – estão expostas ao risco regulatório (se a legislação para limitar as emissões para a atmosfera mudar) e ao risco de disrupção, uma vez que a corrida para a transição energética fará com que empresas não consigam adaptar-se ou que o façam com demasiada lentidão.

Da empresa explicam que os investidores têm duas formas de reduzir os riscos na transição para uma economia com baixas emissões de carbono: ou têm como referência os índices ESG com filtros de exclusão, ou empregam estratégias ESG de inclusão. Acerca da primeira tipologia, da DWS esclarecem que “cada vez são mais os investidores que se comprometem a desvincularem-se dos investimentos em combustíveis fósseis”, mas também apresenta uma série de inconvenientes. Por exemplo, o facto de a exclusão privar os grandes investidores da possibilidade de exercer ativismo, para introduzir alterações nas políticas destas empresas.

Os analistas da DWS acrescentam que o mero facto de excluir este tipo de empresas “não protege de forma alguma um investidor dos riscos climáticos”, uma vez que as atividades contaminantes também afetam empresas de outros setores. “A exclusão de determinados valores pode dar lugar a uma menor rentabilidade ajustada ao risco e a uma diversificação menos eficiente da carteira”, acrescentam.

Entre as estratégias ESG de inclusão, da DWS propõem filtros que ajudem a identificar empresas que estejam a gerir a transição para emissões mais baixas ou a descartar exclusivamente aquelas cujas atividades contribuem negativamente para a alteração climática ou que não estejam a gerir adequadamente.

Charlie Thomas, responsável de estratégia do Meio Ambiente e Sustentabilidade da Jupiter, comenta a temática de economia circular e reciclagem de plásticos: “As empresas que contam com soluções para reciclar plásticos provavelmente obtêm uma inesperada vantagem económica, uma vez que a contaminação deste material está a chegar a um ponto de inflexão”, afirma, no sentido em que a sensibilização social em relação a esta problemática aumentou até ao ponto de reconhecer a proliferação de resíduos plásticos “como um problema ambiental que também pode ter efeitos prejudiciais para a saúde pública”.

Thomas considera que, no longo prazo, “as empresas que procuram novas formas de a economia circular ser possível, para que os materiais se mantenham dentro da economia e fora do meio ambiente, assim como produtos que substituam os plásticos tradicionais, constituem a seguinte fase de oportunidades de investimento em soluções sustentáveis”.

O especialista acredita que “o setor empresarial liderou a sociedade quanto à necessidade de abordar este problema”, ao desenvolver novas tecnologias que permitem reciclar este material sintético. Em contrapartida, constata que falta uma coordenação internacional, com mais legislação neste sentido, embora acredite que seria possível “se os governos de todo o mundo estiverem dispostos a defender os argumentos económicos destas ações”. Thomas recorda que 95% de todas as embalagens de plástico se utiliza uma vez, pelo que poderiam reutilizar entre 80.000 e 120.000 milhões de libras anuais na economia mundial. O especialista dá outro exemplo: “Nos países onde se colocou em prática um programa de recuperação de plásticos reduziu-se a quantidade de lixo na via pública entre 50% a 60%.

Finalmente, Thomas comenta que o uso de plásticos também influencia os custos de saúde: segundo um estudo realizado pela Universidade Estatal de Nova Iorque, quase todas as grandes marcas de água engarrafada continham partículas minúsculas de plástico. Este relatório originou um estudo conduzido pela Organização Mundial de Saúde para avaliar as consequências a longo prazo da ingestão de microplásticos no corpo humano.

Entre as oportunidades de investimento que o especialista está a encontrar, aparecem empresas como a Tomra Systems, especializada em sistemas de recolha automática de embalagens ou a Lenzing, uma empresa austríaca conhecida por desenvolver a marca Tencel, que engloba a sua linha de produtos têxtis fabricados a partir de resíduos de madeira e restos de algodão e que são uma alternativa viável às fibras artificiais como o nylon e o poliéster.

A terceira grande temática de investimento é fornecida pela Pauline Fiastre, gestora sénior especializada em Energia e Telecomunicações da BNP Paribas AM. Esta empresa francesa, pioneira na adoção de princípios sustentáveis, é também, das poucas gestoras que implementa os critérios ESG no investimento na dívida alternativa. “Comprometemo-nos a participar em iniciativas locais desenhadas para promover boas práticas nesta área, encorajando as empresas a serem mais transparentes ao assegurarem que a sua informação é fidedigna, acessível e atualizada”, explica Fiastre.

A BNP Paribas AM desenvolveu uma estratégia ISR própria sobre ativos reais que inclui a identificação de problemas relacionados com o desenvolvimento sustentável, para determinar os riscos e oportunidades que pudessem ter impacto sobre o valor de um projeto, assim como para apoiar um crescimento sustentável e gerador de valor. A especialista dá como exemplo: “Não importa o quão “verde” é um projeto, pode ser citado perante um tribunal pelos residentes locais e bloqueado ou até arquivado.  Ao avaliar elementos extra financeiros como a licença para agir ou as implicações ambientais do projeto, podemos identificar estes riscos e dar prioridade aos projetos mais responsáveis”.