Todos os pontos chave para perceber as consequências da rebelião grega nos mercados e na economia

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J. Griffin Stuart (Creative Commons)

A vitória do Syriza nas eleições gerais celebradas pela Grécia geraram muitas dúvidas entre os investidores. O eixo de campanha de Alexis Tsipras foi a redefinição das medidas de austeridade impostas à Grécia pela Troika, de credores e da renegociação das condições do programa de resgate do país. O seu partido político anunciou quatro iniciativas chave: liquidar o superavit orçamental primário; revogar todas as reformas do mercado de trabalho; aprovar programas de assistência para os sectores mais desfavorecidos e para os pensionistas com reformas baixas, abolir o imposto sobre o património e estabelecer um limiar de isenção de impostos para receitas brutas até aos 12.000 euros. Não restam dúvidas que as políticas fiscalmente expansivas contradizem o acordo vigente com a Troika e ameaçam a relação da Grécia com a Europa e a vital assistência financeira que o país ainda necessita. 

A postura do novo governo e da troika são contraditórias, mas a J.P. Morgan AM considera improvável que a Grécia abandone a zona euro. “A atitude do Syriza para cumprir os acordos vigentes é crucial”. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou que o novo Governo grego deverá respeitar os compromissos adquiridos  e seguir o caminho das reformas e o rigor fiscal. “Por isso é possível que os mercados enfrentem um período prolongado de incerteza durante o qual o Syriza fará pressão para conseguir a flexibilização das condições do memorando de resgate”. Da gestora veem como possível que, durante o processo de negociação, Tsipras se torne mais pragmático devido às pressões económicas, financeiras e bancárias que surgem dentro da própria Grécia. Ainda assim, da J.P. Morgan AM consideram que a Grécia é um caso isolado e que a probabilidade de abandonar o euro é remota. 

O gráfico seguinte indica a composição do novo Parlamento grego e a evolução do PIB durante os últimos anos. 

Contágio limitado ainda que alguns riscos persistam 

A recente instabilidade na Grécia tem exercido um efeito limitado na percepção dos investidores relativamente aos mercados europeus, embora a repercussão tenha sido maior nos mercados gregos. Talvez isso se deva, em parte, à redução da exposição do sistema financeiro europeu aos bancos gregos. (O gráfico seguinte mostra a exposição total dos bancos europeus, à dívida pública e privada da Grécia). 

A bolsa de Atenas perdeu cerca de 31% no último mês e meio. As TIR das obrigações gregas a 10 anos, por seu lado, subiram até próximo dos 11% (em setembro estavam nos 5,57%), o que já tinha conduzido o prémio de risco grego acima dos 1.000 pontos. Apenas existiu efeito de contágio. No gráfico abaixo ilustra-se a baixa correlação entre as TIR das obrigações gregas e as da dívida do resto da periferia europeia, o que demonstra o contraste em relação ao início de 2014. (No Gráfico seguinte ilustra-se a baixa correlação entre as TIR de obrigações gregas e as da dívida do resto da periferia europeia, o que contrasta com a situação do início de 2014) 

 

Porque é que não existiu contágio? Segundo a J.P. Morgan AM isto deve-se ao facto das instituições europeias terem adoptado uma série de medidas orientadas para a redução do risco sistémico na Zona Euro e enfrentar significativamente a ameaça de contágio. Entre essas medidas encontram-se as operações de financiamento a longo prazo com objetivo específico; o programa de operações monetárias de compra e venda; o European Financial Stability Facility (FEEF) e o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEDE); e o programa variável de expansão quantitativa. “Embora tais situações contribuam para proteger outros Estados Membros da Zona Euro no caso da saída da Grécia, pouco significado teriam para o país grego”, indicam. 

Efeitos para o investimento

A reação dos mercados à convocatória eleitoral foi moderada durante um primeiro momento, já que a força do Syriza nas sondagens feitas antes da votação deram tempo aos mercados para que se pudessem adaptar ao possível resultado. Segundo a J.P. Morgan AM, os investidores que possuíam ativos gregos poderão ser os mais prejudicados pelo resultado das eleições e pelo longo período de incerteza que se poderá gerar nos mercados. “A situação poderá agravar-se especialmente se os bancos gregos continuarem a enfrentar os problemas de liquidez provocados pela retirada dos depósitos do sistema financeiro. Importa destacar que a região se encontra numa situação consideravelmente mais robusta do que em 2012, última ocasião em que os investidores enfrentaram a incerteza própria de um processo eleitoral na Grécia”. 

Da gestora americana consideram improvável que a Grécia abandone o euro, embora a incerteza em torno do novo Executivo e a renegociação do memorando de resgate com a Troika se possa traduzir em volatilidade para os mercados. “Isto significa que os investidores não devem descartar totalmente a possibilidade da Grécia abandonar a moeda única. A incerteza política continuará a supor um obstáculo para os mercados europeus apesar dos indícios que apontam para a melhoria da situação económica. O crescimento europeu poderá surpreender em termos de subida este ano, muito por causa da depreciação do euro, da queda dos custos de energia e dos custos de financiamento acessíveis para agregados familiares e empresas. No entanto os investidores não devem descartar a possibilidade das tensões políticas na Zona Euro se traduzirem em volatilidade nos próximos meses”.