“Todos os agentes de mercado deverão fazer uma reavaliação das suas expectativas”

Ana_Garcia
Maxi Pereira

Nos dez primeiros meses de 2014 o Banif Euro Tesouraria foi o fundo da sua categoria que conseguiu melhor retorno. Com mais de 44,5 milhões de euros em ativos sob gestão, o produto da Banif Gestão de Activos, gerido por Ana Garcia, de janeiro a outubro apresentou uma rentabilidade de 1,60%, segundo dados da APFIPP.

Numa altura em que o ambiente de mercado se carateriza por taxas de juro próximas de zero, como é que se “dá a volta” àquele que é provavelmente um dos contextos mais desafiantes para a indústria de gestão de ativos em 2015 e, especificamente, para quem gere um produto desta categoria?

Ana Garcia, gestora do fundo, começa por lembrar a estratégia seguida durante este ano. “A aposta do Banif Euro Tesouraria centrou-se essencialmente em emitentes de empresas e bancos portugueses mas também de bancos espanhóis e italianos”. A elevada diversificação do fundo e a  valorização destes emitentes, acompanhando o movimento de apreciação das respetivas dívidas soberanas, “deram um contributo decisivo para a performance deste ano”, resume.

Estratégia: diversificar

Especifica que no Banif Euro Tesouraria, durante 2014, têm optado por privilegiar o investimento em obrigações de maturidade residual inferior a dois anos, de emitentes ibéricos, com maior preponderância portugueses, em detrimento dos dos países do Norte da Europa. “Este posicionamento tem permitido tirar partido do forte movimento de normalização do prémio de risco verificado em Portugal, Espanha e Itália”, infere. Recorda no entanto que “à medida que a normalização dos prémios de risco se acentuou, a gestão procurou diversificar o investimento por emitentes financeiros do Norte da Europa, cujo diferencial de “spread” face aos países periféricos é hoje menos significativa”.

Para Ana Garcia, por esta altura em que as taxas de juro estão em níveis próximos de zero, torna-se imperativo procurar as melhores oportunidades do ponto de vista binómio risco-retorno, bem como implementar uma diversificação ao nível do investimento em papel comercial.

Perspetivas para 2015

Para o novo ano que se avizinha, a Banif Gestão de Activos continua a prever o estreitamento dos spreads dos emitentes periféricos, “ainda que em menor magnitude que a verificada nos últimos dois anos”. Perspectivam também “o maior privilégio do investimento em instrumentos de papel comercial, em detrimento de depósitos a prazo”. Para além disso, esperam ainda que expectativa de subida de rating “tenderá a beneficiar a valorização de alguns emitentes portugueses”.

Em termos macroeconómicos, a profissional sublinha o papel do Banco Central Europeu. “Num contexto de recuperação da economia europeia ainda relativamente débil, com o risco de deflação e com o sector financeiro a prosseguir o seu esforço de desalavancagem, mantém-se o compromisso do BCE de implementar uma política monetária expansionista por um longo período de tempo”, diz. A consequência natural é óbvia: a manutenção das taxas de juro a níveis muito reduzidos nos próximos anos.

Na perspetiva de Ana Garcia, “todos os agentes de mercado deverão fazer uma reavaliação das suas expectativas, estando cientes que os retornos proporcionados pelos activos de menor risco deverão encontrar um novo patamar de rentabilidade, significativamente inferior ao obtido nos últimos anos”.

Entende por isso, que o grande desafio para os fundos de Tesouraria em 2015 passará “pela procura das melhores oportunidades de investimento, num contexto de preservação de capital e de retornos previsivelmente bastante inferiores”. Já nos fundos de obrigações de maturidade mais elevada, “o grande desafio deverá passar pela gestão das expectativas de subida de taxas de juro por parte da Reserva Federal Americana”.