Subida do IVA e contração do PIB: os dois motivos para preocupação no Japão

jap_C3_A3o1
Micky75017, Flickr, Creative Commons

Ao longo de todo este ano a decisão de Shinzo Abe e do seu gabinete de aumentar o IVA do Japão de 5% para 8% pela primeira vez desde a década de 90, causou dúvidas em alguns especialistas, ao considerarem que poderá ser contraproducente para a agressiva política de reflação – conhecida como política das três setas – que está a ser levada a cabo conjuntamente entre o executivo nipónico e o Banco do Japão (BoJ). Agora estão a aparecer os dados que confirmam a tese: no segundo trimestre a economia japonesa contraiu-se cerca de 6,8% em termos anualizados, tendo sido a queda do consumo privado o principal obstáculo em resposta ao aumento do já referido imposto. Ao mesmo tempo teve de se rever em baixa o valor do primeiro trimestre, de 6,7% para 6,1%.

“O Japão publicou uma das piores leituras do PIB alguma vez registadas”, afirma Amy Yuan Zhuang, analista sénior da Nordea, que também evidencia a escassa reação aos dados: o BoJ não anunciou medidas adicionais, o yen apenas variou e a bolsa do país deu uma resposta modesta. Apesar da magnitude dos números, a analista afirma que “o shock negativo para a economia foi apenas surpreendente e reflete a reação dos consumidores à subida do IVA em abril. Observou-se o mesmo resultado depois das duas subidas anteriores, em 1989 e 1997.

“Desta vez a resposta do consumidor foi mais forte e, felizmente, mais negativa do que a de 1997”, continua Zhuang. Recorde-se que naquela altura o crescimento nominal e real dos salários era de 3%, enquanto que o crescimento nominal atual é de apenas 0,4%, e o real de -3,8%. Antes da subida do imposto o crescimento real era de -1,3%. No segundo trimestre o consumo privado caiu cerca de 5% face ao trimestre anterior. “Não conseguindo suportar um custo de vida mais elevado, não é surpresa que os consumidores tenham começado a apertar o cinto”, conclui a especialista da Nordea.

Da gestora nórdica duvidam que o BoJ adopte medidas quantitativas de maior magnitude, já que o cenário é que o crescimento recupere ao longo do terceiro trimestre até alcançar os 4,6% anualizados. A previsão da Nordea é que cada dólar se troque por 102 yenes, num período de 3 meses, e 110 em 2015.

Andrew Rose, gestor de ações japonesas da Schroders, também aponta que a queda do PIB foi mais acentuada do que a de 1997 no trimestre que seguiu a subida do IVA. Rose acredita que em grande medida a contração do crescimento se ficou a dever à “devolução por antecipação da procura que ocorreu durante o primeiro trimestre”, ou seja, muitos japoneses tomaram decisões de compra durante os três primeiros meses do ano, para se anteciparem à subida do imposto. “Portanto, não se torna surpreendente que as áreas mais débeis tenham sido as componentes de procura privada do PIB, como é o caso do consumo privado e do investimento imobiliário”, admite o especialista.

Rose também põe a tónica no escasso impacto deste dado tão negativo, porque já tinha sido considerado no preço uma leitura negativa. “O mercado já está se concentrar na forma como o PIB irá recuperar neste trimestre. Embora as deslocações causadas pelo aumento de impostos tornem difícil avaliar a força subjacente da economia, parece razoável  esperar que o crescimento retome no terceiro trimestre”, prevê o gestor. O profissional vê alguns sinais de esperança: “Alguns dos dados à volta do consumo posteriores ao final de junho são mais animadores e os estudos referentes aos gastos de capital privado são um indicativo da recuperação, e as exportações estão finalmente a mostrar sinais de resposta à debilidade da moeda durante os últimos 18 meses”.