SIG Capital: na vaga desta e da próxima onda tecnológica

SIG Capital
Vitor Duarte

Um conhecido conceito da gestão denominado “industry lifecycle” ilustra as várias fases pelas quais os negócios de determinada indústria ou setor operam, progridem e declinam. Este é um modelo geralmente aceite e aplicável a todas as indústrias, ainda que possa sofrer adaptações face às idiossincrasias de cada uma. Um desses casos, que se destaca pela sua diferente ciclicidade - ou ausência dela -, trata-se do setor tecnológico. Caracterizado pela sua amplitude, dinamismo e crescente relevância, este setor usufrui de um ciclo de vida mais... sui generis, que lhe permite manter a prosperidade. O setor tecnológico vai mutando, negócio após negócio, apresentando novos protagonistas e oportunidades, desta maneira favorecendo estratégias sistematizadas de gestão ativa.

Hussein Sacoor SIGÉ nesta premissa que assentaram os alicerces para a fundação da SIG Capital, um projeto de dois jovens gestores de ativos, com sangue português, especializada no investimento em tecnologia, media e telecomunicações (TMT). Fundada em 2016 por Hussein Sacoor (na foto à direita) e Tiago Bento (na foto abaixo, à esquerda) após passagens pela BTG Pactual e Blackstone respetivamente, a SIG Capital encontra-se sediada em Londres, o porto de abrigo escolhido como base para capturar os retornos do novo paradigma tecnológico. Um projeto jovem, como jovem é a equipa, mas que se baseia num modelo testado e comprovado na prática, num formato de gestão individual de carteiras e mandatos institucionais.

Tiago Bento SIG“Parafraseando Marc Andreessen, “technology is eating the world””, introduzem, explicando que existem “duas forças simultâneas de grande dimensão e poder que observámos e impeliram a fundação da SIG”. De um ponto de vista de “Alpha Opportunity”, os dois profissionais afirmam que “estamos perante a disrupção de diversas e multifacetadas novas tecnologias (computação em cloud, internet of things, automação e robótica, inteligência artificial) e que ainda estão nos seus começos - com uma adoção global a rondar os 5-20% - e com uma acelerada capacidade de penetração no mercado nos anos vindouros. Isto irá gerar vários biliões de capitalização bolsista ao longo da próxima década à medida que o investimento e adoção em escala destas tecnologias se intensificam pelas várias indústrias, cadeias de valor e empresas”. Em claro contraste com outros períodos nos últimos 20 anos, o atual ritmo da inovação e crescimento é tão forte que o apelidaram como o “dividendo digital de $5 biliões”.

“Do lado da ‘Asset Opportunity’, constatamos a existência de um amplo desequilíbrio entre oferta e procura na Europa, e em particular na Península Ibérica”. No que toca à procura, “assistimos a um crescente apetite por especialização” e, ao nível da oferta, “a disponibilidade limitada de especialistas ‘pureplay’ de ações de empresas com retornos menos correlacionados, estruturas transparentes e alinhamento de interesses”, abona a favor da entidade. “Esta dinâmica única de investidores com necessidades mal colmatadas, ou não colmatadas de todo, na maioria de segmentos institucionais europeus, abre caminho para a ‘grande rotação de $10 mil milhões’ - a porção de mercado útil com capital pronto a ser investido - e esta é uma excelente oportunidade para a SIG”, explicam.

Detetar tendências, identificar vencedores e perdedores

O investimento especializado em empresas de TMT é conduzido através de uma estratégia long-short global de ações, que procura explorar oportunidades de qualidade assimétricas no mercado a longo prazo. Para tal, os gestores levam a cabo um processo extensivo de identificação de temas de investimento para cada indústria, através de uma análise top-down, mas também de tendências e desenvolvimentos que impactem o meio das TMT e que possam gerar oportunidades de investimento. Este processo é depois “cruzado” com uma análise horizontal e vertical da indústria, de forma a determinar quais empresas poderão beneficiar ou ser prejudicadas de tais desenvolvimentos. “Posteriormente é feita uma análise bottom-up através da segregação destas empresas em “clusters” distintos, permitindo um melhor entendimento dos fundamentos económicos, posicionamento e vantagens competitivas, drivers de crescimento e análise de sensibilidade do negócio e por fim a margem de segurança, ou relação preço/valor intrínseco, de cada oportunidade”.

Acreditamos que boas ideias de investimento são escassas e, assim, concentramos capital num número relativamente limitado de oportunidades diferenciadas que representam as nossas melhores ideias e que oferecem níveis assimétricos de valor para o investidor independentemente da direção de mercado”, declaram. De momento, este grupo limitado de posições compreende apostas tanto no segmento enterprise, em temas como a internet industrial, infraestruturas digitais, cloud security, China internet e deep tech, mas também no segmento consumer, com inclusão no portefólio de empresas especialistas em entretenimento digital, logística inteligente e educação híbrida.

Desfazendo o preconceito

Segundo a equipa, os principais desafios dão-se ao nível das próprias conceções erradas do investidor, em que afirmam a existência de um “gap de entendimento em relação à amplitude, durabilidade e heterogeneidade das oportunidades no unSIGiverso da tecnologia global”. “A tecnologia – com mais de 3500 firmas cotadas em bolsas mundiais – tornou-se  líder indiscutível na criação de valor, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista do retorno para o acionista, com uma relação risco/retorno desproporcional mesmo antes de ter em conta o fator liquidez”, tendo registado uma taxa anualizada de retorno de 17%, superior às restantes classes de ativos nos últimos 10 anos (vs. S&P 9%, Private Equity 10%, Growth Equity 9% e Investment Grade/High Yield Corporate Bonds 4.5%).

No atual cenário de acentuada volatilidade, que tem “atraído mais investidores institucionais para estratégias de retorno absoluto”, os principais objetivos da SIG Capital concentram-se na “distribuição deste tipo de soluções a instituições e gestores de banca privada na Península Ibérica e Reino Unido, que vejam na exposição às TMT uma ferramenta de diversificação e geração de alpha”. Para tal, a entidade optou por operar sob alçada da FCA, o regulador inglês, já no sentido de alinhar as suas operações no eixo ibero-britânico. A ampliação da oferta também está nos planos a longo prazo, com inauguração de “novos produtos descorrelacionados, com diferentes estruturas, incluindo Global Events e Market Neutral, no sentido de complementar as estratégias Long/Short e Long-Only já existentes”.