Sete conselhos para rever o posicionamento da sua carteira

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Leo Reynolds, Flickr, Creative Commons

Uma das máximas do investimento em bolsa existentes afirma que, num momento de valorizações altas e de baixa dispersão, não há refúgio onde se possa esconder do mercado. 

O salto do índice Dow Jones acima dos 20.000 pontos há duas semanas reforçou este argumento; se se juntar a incerteza provocada pelas políticas explosivas de Donald Trump nos EUA, então pode ser um momento oportuno para comprovar se as alocações na carteira continuam a fazer sentido. “Este exame não significa necessariamente um reposicionamento radical”, esclarece David Lafferty, estratega global da Natixis Global AM

O especialista está consciente de que “é difícil ter muita confiança neste ambiente, ou pontos de vista decisivos para um reposicionamento”. A chave está “nas divergências extremas entre potencial de crescimento e risco de queda, que podem ser instrutivas em si mesmas e para si mesmas”. Por conseguinte, conclui Lafferty, “saber as limitações do conhecimento é algo que tem valor. Se não existem respostas, pelo menos podem fazer-se as perguntas corretas”, que são as que ajudam a evoluir.   

A sua carteira está preparada para uma correção?

Concretamente, o estratega pede aos investidores que comprovem se as suas carteiras são “suficientemente líquidas para aproveitar as oportunidades quando estas se apresentem”. Também pede aos investidores que façam o exercício de pensar de que forma reequilibrariam a carteira (o que comprar e o que vender) caso ocorra uma correção ou um rally induzido por políticas de Donald Trump. 

Está preparado emocionalmente para uma correção?

Lafferty refere-se ao facto da carteira estar construída para resistir a uma correção forte, ou se, pelo contrário, existir a probabilidade de que as perdas sejam tão substanciais que o investidor opte por vender no momento errado. “Há uma correção em curso? Claro que sim, não sabemos é quando será”, avisa o especialista. 

A sua visão sobre política está alinhada com a carteira?

“Tenha cuidado para não ficar demasiado positivo ou negativo simplesmente porque odeia o novo presidente”, recorda Lafferty. Este também recorda que “os mercados geralmente tendem a reagir de forma exagerada a acontecimentos geopolíticos”.

O que deveria estar a procurar?

O estratega também é muito direto neste ponto: “Espere mais inflação a curto prazo e mais produtividade a longo prazo. Se a inflação subir demasiado, forçará a subida de taxas e obrigará a Fed a atuar. Se o gasto em infraestruturas e os cortes nos impostos corporativos não resultarem em confiança empresarial ou ganhos de produtividade, o crescimento continuará a ser medíocre."

Como contextualizar a nova alocação de carteira

Brad Tank, diretor de investimentos em obrigações da Neuberger Berman, é outro dos especialistas que aconselham rever as teses de investimento. Acredita que, depois das últimas eleições presidenciais dos EUA, “está claro que não vamos voltar à normalidade anterior”. Tank alerta também para o enorme ruído mediático que está a envolver todas e cada uma das decisões do novo presidente.

“Durante as eleições vimos muitas notícias que tinham poucos factos e muita opinião, e esta tendência continua. Se se mistura com um novo presidente que pensa em voz alta e em tempo real, são factos que o investidor tem de enfrentar.” O especialista junta, assim, três conselhos aos já expostos pela Natixis Global AM.

Use filtros

O primeiro conselho consiste em eliminar o ruído do mercado: “Centre-se nos factos importantes e utilize um processo para ignorar o ruído”. Tank admite que parte do desafio deste exercício reside na ambiciosa agenda que prometeu à nova administração, com reformas profundas e de execução complexa. Crê que o caso mais evidente é o da reforma fiscal: “Tem dominado as notícias financeiras durante grande parte das últimas duas semanas e é muito difícil de explicar de forma concisa, pelo que os comentadores agarram-se a manchetes sensacionalistas e com frequência enganadoras”. Insiste que “separar os factos do ruído vai exigir um alto nível de concentração de aqui em diante”.

Tank dá exemplos de alguns dos factos que são importantes para a Neuberger. Em primeiro lugar, crê que a medida da Administração Trump que terá provavelmente maior impacto sobre a valorização dos mercados de obrigações e ações será a reforma do código fiscal. Assim, na gestora optaram por centrar-se no processo de reforma, o que implicará a mudança da legislação. Ou seja, “implica a compreensão da perspetiva dos legisladores e de outros agentes que possam ter uma influência significativa e também definir uma cronologia para aprovação e implementação”.

Procure a perspetiva de bons analistas

“Analise todas as notícias e a informação da mesma forma que um bom analista de ações ou de obrigações analisa uma empresa”, aconselha o especialista. Neste sentido, explica que o método utilizado na Neuberger consiste em centrar-se nos factos sem ignorar as opiniões porque “nos mercados, obviamente, a opinião importa”. Portanto, continua, “ao avaliar o ponto de vista de um CEO, um chefe de operações ou um analista ‘sell-side’, compreende a experiência do mensageiro, a sua credibilidade e os seus preconceitos é essencial”. Não obstante, o diretor de investimentos avisa que não se deve cair no vício de procurar opiniões que coincidam apenas com a pessoal. “Sou um leitor habitual das colunas de Paul Krugman precisamente porque analisa os problemas económicos e políticos a partir de um ponto de vista muito diferente do meu”, afirma como exemplo.

Procure contexto histórico

O especialista pede aos investidores que se documentem para obter uma perspetiva mais ampla dos problemas atuais. Dá como exemplo que a situação atual da Rússia de Putin é “o culminar de mais de 100 anos de luta contra o Ocidente”, ou que as tensões crescentes entre os Estados Unidos e a China não são algo de agora, do que há 19 anos que John Gray – defensor do thatcherismo – antecipou que a China desenvolveria um tipo de capitalismo que colidiria com o mundo ocidental.