Serão realmente eficazes os QE? Richard Woolnough não acredita

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Palllew, Flickr, Creative Commons

O impacto dos programas de estímulo quantitativo sobre as obrigações tem sido uma das maiores preocupações dos gestores nos últimos anos, considerando que tanto os investidores como os bancos centrais estão a caminhar por terreno desconhecido. A última entidade a tomar este tipo de medidas foi o Banco de Inglaterra (BoE), que também ampliou a maturidade do QE já existente. Esta circunstância representa para Richard Woolnough, gestor do M&G Optimal Income, um produto Consistente Funds People, uma oportunidade para debater a eficácia destas estratégias.

Para o gestor da M&G Investments, “o aspeto mais surpreendente do QE tem sido a falta de inflação, mas os bancos centrais que puseram em prática estas medidas – ou ainda estão a pôr– afirmam que tem funcionado na prevenção da deflação através do reequilíbrio das carteiras”, referindo-se à rotação para ativos mais arriscados, que têm impulsionado as bolsas. O ponto de vista de Woolnough é que “os bancos centrais estão a exagerar muito nas suas afirmações, no melhor dos casos, ou à procura de razões para ter esperança quando nada funciona, no pior dos casos”.

O especialista dá como exemplo o modelo norte-americano. Se bem que admita que a expansão do balanço da Reserva Federal e a subida do S&P500 têm estado correlacionados positivamente desde 2009, opina que “a relação é casual, não causal”, no sentido de que “a Fed anunciou o QE somente depois das bolsas colapsarem para mínimos, e terminou apenas quando os mercados recuperaram”. Na opinião de Woolnough, “a Fed parecia usar o S&P como um termómetro da economia, mais que ver na apreciação do índice o resultado direto da atividade empreendida com o QE”.

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O gestor acredita que esta teoria também é aplicável ao caso europeu: “a experimentação do QE na Europa foi iniciada em março de 2015, uma altura em que o Stoxx 600 era muito mais flutuante, e não estava a cotar em níveis de valorização muito extremos. Parece ridículo argumentar que produziu uma relação causal na Europa” (ver gráfico).

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A lição que extrai o gestor desta aventura quantitativa é que “o QE parecia positivo para os ativos de risco quando as suas valorizações pareciam deprimidas nos EUA, mas teve impacto quando as ações estavam no seu justo valor na Europa”. Portanto, e tendo em conta que as taxas de juro estão em níveis muito baixos, Woolnough vaticina que “os investidores não serão capazes de impulsionar o valor atual ou os fluxos de caixa futuros”. Ou seja, que “é difícil que as valorizações das ações subam na mesma proporção que subiram quando as rentabilidades colapsaram”. Se a isto se acrescentar que a recuperação continua fraca na Europa e que a Fed poderá subir taxas, “também é difícil argumentar que os lucros do futuro serão muito mais elevados”.

O especialista destaca que o maior efeito do QE tem sido “a redução da rentabilidade das obrigações ao longo da curva e não a rotação de carteiras para ativos de maior risco”. “Em teoria, o efeito da rotação de carteiras é mais poderoso quando os investidores veem as ações como uma alternativa às obrigações. Considerando a diferença nas características de volatilidade para ambas as classes de ativos, é improvável que isto alguma vez não seja o caso”, declara.

A conclusão a que chega o gestor é a seguinte: “O QE tem alguns efeitos económicos. Mas é difícil discernir ainda que efeitos são. Ainda não foi inflacionário (inclusivamente apesar dos princípios básicos dos QE sugerirem que incrementar a oferta de dinheiro deveria reduzir o seus valor) e creio que a ligação com a robustez dos mercados de ações é algo ilusória”.