Será que o resultado das eleições portuguesas vai ter impacto na bolsa?

Esta é uma questão que se coloca sempre nestas alturas. Se analisarmos a evolução do índice PSI20 nos últimos cinco atos eleitorais (quadro em baixo) e compararmos com o enquadramento dos mercados financeiros internacionais na altura, podemos concluir que o resultado das eleições não é determinante na evolução da bolsa portuguesa.

Eleições

PSI20 - fecho dia anterior

PSI20 - passados 3 meses

Variação

10/10/1999

10 150,94

11 738,37

15,6%

17/03/2002

7 829,65

6 957,71

-11,1%

20/02/2005

8 043,25

7 769,19

-3,4%

27/07/2009

7 302,97

8 486,06

16,2%

05/06/2011

7 611,41

6 158,02

-19,1%

As eleições influenciam mas pouco. O fator mais determinante na evolução da bolsa portuguesa é o ambiente internacional.

Por exemplo, em 2011, com o país praticamente na falência, o risco soberano estava em níveis elevados e, portanto, os investidores fugiram dos ativos financeiros portugueses. A bolsa portuguesa já estava a cair antes das eleições e continuou essa tendência.

Em 2002, quando o mundo vivia uma crise de crédito e uma bolha tecnológica, que fez disparar a aversão dos investidores a ativos de risco a nível mundial, os mercados financeiros estavam negativos e a bolsa de valores portuguesa acompanhou essa tendência.

Ou então, como se podia explicar a queda significativa da bolsa portuguesa desde Junho de 2015, quando os indicadores macroeconómicos do país tiveram uma evolução positiva (PIB, desemprego, vendas a retalho, confiança dos consumidores…)?

Se o cenário internacional não estivesse volátil nos últimos dois meses, a bolsa portuguesa eventualmente poderia ser influenciada por fatores internos. A política económica, as apostas de investimento, o quadro fiscal e os incentivos à economia e ao emprego poderiam influenciar o comportamento dos investidores face ao programa do partido político vencedor.

Mas neste momento, os fatores externos dominam as atenções. O ambiente económico na China e nos mercados emergentes em geral, com possíveis implicações no abrandamento do crescimento económico mundial e o provável início de subida das taxas de juro nos EUA nos próximos meses, pesam mais no consciente e na decisão dos investidores nacionais do que o resultado das eleições portuguesas.

A não ser que o resultado eleitoral provoque dificuldades na formação de um governo forte e coeso ou que passados alguns meses, os primeiros dados de execução orçamental invertam a trajetória que o país está obrigado a seguir. Se isso acontecer (espero que não!) teremos mais “lenha para a fogueira” e nesse caso, a volatilidade dos ativos financeiros portugueses (ações e obrigações de dívida pública) aumentará.

(Imagem: Coventry City Council, Flickr, Creative Commons)