Semelhanças e diferenças entre a visão de mercado de obrigações da Fidelity, Schroders e Carmignac

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Ian.Kate.Bruce's Wildlife, Flickr, Creative Commons

Dez anos depois do início da crise financeira, a maioria das economias do mundo recuperaram um crescimento sincronizado, os riscos de deflação a curto prazo reduziram-se e os indicadores económicos apontam que, provavelmente, esta tendência continuará durante algum tempo. Perante este panorama, a Fed decidiu reduzir o seu balanço e o BCE diminuir o volume de compras de obrigações para, posteriormente, dá-las por finalizadas. Isto tem importantes implicações para os mercados de obrigações. A Funds People confrontou as visões da Fidelity, Schroders e Carmignac com o objetivo de esclarecer as perspetivas que oferecem três segmentos de obrigações muito concretos: Dívida corporativa com grau de investimento, high yield e obrigações emergentes.

Obrigações corporativas com grau de investimento

Na Fidelity consideram que as valorizações impõem cautela agora que os bancos centrais se preparam para desmontar gradualmente as políticas que construíram ao impulsionar esta classe de ativos. “As valorizações são elevadas. Em 110 pontos base, o spread da dívida corporativa mundial high yield está próximo do seu nível mais baixo em dez anos e, em muitas áreas do mercado, os investidores não receberam uma compensação adequada devido aos riscos de crédito e liquidez que estão a assumir. Não obstante, é improvável que a procura e a oferta se deteriorem de forma repentina”, explicam.

Na Schroders concordam com a Fidelity em relação aos preços elevados das obrigações corporativas. “Nos Estados Unidos, as elevadas valorizações e a última fase do ciclo empresarial fizeram-nos adaptar uma visão prudente; o carry domina a preferência dos investidores, ainda que entendamos os riscos, o que nos faz adotar uma posição cautelosa. No que respeita à Europa, continuamos a manter uma postura prudente devido à combinação de spreads ajustados e a incerteza em relação às futuras medidas dos bancos centrais”.

Na Carmignac consideram que os spreads da dívida corporativa são demasiado baixos tendo em conta a escassa qualidade dos balanços das empresas e a previsão de um contexto de liquidez menos flutuante à escala mundial. De facto, recentemente realizaram mais-valias na sua carteira de dívida corporativa. Na gestora estão neste momento a priorizar as obrigações financeiras ao entender que a tendência plurianual de redução do risco, desalavancagem e o reforço da regulação do setor reduz o desconto excessivo pelo risco sistémico ainda presente nos spreads da dívida corporativa bancária. Também priorizam as obrigações subordinadas das empresas de distribuição, em maior medida, e dos campeões nacionais do setor bancário, em menor grau.

Obrigações high yield

Na Fidelity acreditam que a margem de redução dos spreads é limitada. “Aos níveis autais, a margem para novos estreitamentos dos spreads continua a ser escassa, o que deixa a rentabilidade por cupão como a principal fonte de rentabilidade. Existe um bom número de riscos já conhecidos que poderiam fazer descarrilar esta classe de ativos, como a possibilidade de que a liquidez se evapore rapidamente ou que as emissões caiam outra vez. Manter alguma munição de reserva parece um enfoque sensato, sobretudo tendo em conta o baixo custo de oportunidade dos níveis atuais do spread”, indicam.

Na Schroders também consideram que o mercado da dívida de high yield cota a níveis elevados, mostrando uma preferência pelo high yield americano. “Ainda que as valorizações continuem caras nos Estados Unidos, a reduzida taxa de impostos e o baixo custo do capital suportam os níveis atuais dos spreads e encontram um contexto favorável para os ativos de carry, enquanto que na Europa subponderamos dívida high yield europeia, já que as valorizações alcançaram o seu nível mais caro e agora parecem-nos vulneráveis às ações dos bancos centrais e aos riscos políticos”, revelam a partir da gestora britânica.

Na Carmignac acreditam que os spreads da dívida corporativa high yield são demasiado baixos pelas mesmas razões que citaram no caso das obrigações corporativas com grau de investimento. Também aqui realizaram mais-valias a alguns títulos da sua carteira de high yield. Neste caso, priorizam as obrigações europeias subordinadas financeiras dos campeões nacionais, já que “a tendência plurianual de redução do risco, desalavancagem e reforço de regulação do setor reduz o desconto excessivo por risco sistémico ainda presente no spread da dívida corporativa bancária”, asseguram.

Dívida dos mercados emergentes

Segundo a Fidelity, num momento em que os investidores estão a procurar rendimentos atrativos em detrimento dos investimentos caros dos mercados desenvolvidos, esta classe de ativo converteu-se numa aposta de consenso, sobretudo em moeda nacional, onde o posicionamento dos investidores está no seu nível mais alto desde 2012, em parte graças à debilidade do dólar. “As valorizações apertaram consideravelmente e agora encontram-se ajustadas, atendendo às cifras históricas. Olhando para o futuro, a sua evolução dependerá de três fatores chave: a política dos bancos centrais, China e as matérias-primas”.

Na Schroders, por sua vez, têm uma visão diferente se o subsegmento do mercado é a dívida pública emitada em divisa estrangeira (hard currency) do que se for em dívida local. “Em relação à dívida pública em dólares, parece-nos pouco provável que se produza um novo ajuste dos spreads desde os níveis atuais, se bem que estes poderiam ver-se pressionados se se der uma ampliação nos mercados desenvolvidos ou uma redução da liquidez global. Em relação à divida pública emitida na divisa local, as valorização são atrativas e o contexto cíclico é favorável”.

Na Carmignac estão convencidos que a dívida emergente oferece oportunidades interessantes, suportada em seu entender pela subida cíclico à escala mundial, um contexto favorável para os preços das matérias primas e, sobretudo, uma melhora inegável dos fundamentais em vários países deste universo. “A maioria dos países emergentes encontra-se num processo de deflação, o que permite uma queda das taxas por parte dos bancos centrais, enquanto a normalização gradual da política dos bancos centrais, sempre e quando se comunique e se entenda corretamente e se leve a cabo pelas razões adequadas, não deverá gerar problemas para os mercados emergentes, que agora parecem ser mais resistentes”.