"Sell in May and go away"? (parte II)

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Pedro Pintassilgo (F&C Investments)

Neste Maio, a tentação de vender acções, encaixar ganhos e aguardar por novo momento de entrada constitui um apelo tentador.

Os principais Índices accionistas estão positivos quer na Europa, quer na Ásia quer nas Américas e como quase sempre, o futuro imediato é incerto.

De facto, nalgumas geografias, as valorizações YTD são assinaláveis. A título de exemplo, refiram-se os três principais índices accionistas norte-americanos (S&P500, Dow e Nasdaq) que registam ganhos de dois dígitos.

Tomar decisões de venda de activos de risco com ganhos relevantes num horizonte temporal curto tem subjacente um racional incontornável, contudo numa perspectiva de investimento de médio/longo prazo, (horizonte de um investidor em acções) faz sentido sair?  

Nas avaliações dos mercados accionistas europeu e norte-americano, de um ponto de vista fundamental, constatamos que não estão baratos face à visibilidade dos resultados das empresas durante o corrente ano e face aos múltiplos de mercado numa perspectiva histórica.

Contudo, as acções constituem-se neste mundo financeiro global caracterizado por um manto de liquidez uma opção com retorno atractivo face às baixas rendibilidades de produtos de investimento alternativo (vide as baixas rendibilidades nominais e reais da dívida soberana). Adicionalmente, as acções enquanto activos reais são um bom veículo de protecção de valor num futuro mais inflaccionado.

Rui Bárbara (Banco Carregosa)

É verdade que ao longo da história se verifica alguma sazonalidade no comportamento das bolsas e, durante várias décadas, vários padrões foram sendo identificados: as subidas em Janeiro (o efeito Janeiro), uma queda a iniciar-se em Maio e a prolongar-se pelo Verão e, por fim, uma puxada no último trimestre ou mesmo junto ao final do ano.

Esse adágio pode estar a ser lembrado agora porque em 2011 e 2012 a tradição foi cumprida à risca. Nos últimos dois anos houve quedas muito agressivas no segundo trimestre, que coincidiram com a divulgação de dados macroeconómicos nos EUA, e que pioraram radicalmente no início da Primavera.

É uma mera constatação estatística, porque na verdade, cada ano é um ano diferente. Em 2013, sabemos que as economias tendem a abrandar pelo excesso de dívida nalguns países e pelo facto de o crescimento económico não arrancar. Seria natural uma queda dos mercados. Mas há um factor novo, que vem baralhar o padrão e que é a intervenção dos bancos centrais. 

Se, de cada vez que saíram dados negativos, os bancos centrais actuarem, o comportamento do mercado fica viciado. É preciso lembrar que os bancos centrais estão a levar a cabo políticas ULTRA expansionistas, de que não temos memória.  

E se o fio condutor do valor dos activos é a taxa de juro, e se essa taxa está negativa, em termos reais, não podemos fazer contas simples.

 É por isso que acho difícil o padrão repetir-se. As intervenções dos bancos centrais alteram a sequência causa-efeito. Se os dados relativos às economias que estão para sair forem fracos, mas se as autoridade monetárias actuarem, os efeitos previsíveis podem não se verificar. Um dia virão e talvez numa escala maior. O que faço nos produtos de que sou gestor: vendo e compro, sem atribuir grande significado a esses adágios.