Seis gráficos para estar consciente das mudanças que se estão a produzir na indústria da gestão de ativos

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A indústria da gestão de ativos move-se para se adaptar às exigências dos novos tempos. A pressão vem de diferentes âmbitos (regulamentação, rendimentos, exigências dos clientes…). Com a ajuda de seis gráficos publicados pela Willis Towers Watson no seu último Thinking Ahead Institute, revelamos as principais transformações que estão a ter lugar tanto na vida interna das entidades como no setor em geral.

1. O que se está a passar internamente na vida das gestoras. A indústria move-se, tratando de se adaptar aos novos tempos. Metade das entidades está a aumentar a presença de mulheres e minorias étnicas nos postos de alta direção. Não é uma questão fútil. “A cultura interna da gestora é algo que passou para um primeiro plano. Em geral, as grandes deficiências das entidades passam pelaa falta de inclusão a nível cultural e étnico nas suas equipas. Agora, ou dispõem de uma cultura adequada ou nem olhamos para elas. É a principal mudança que levamos a cabo no nosso processo de investimento”, reconhece David Cienfuegos, da Willis Towers Watson.

Ao mesmo tempo, as gestoras estão a apostar em reforçar as suas equipas de cibersegurança e de tecnologia big data. Como exemplo, cabe mencionar que só este ano a J.P.Morgan AM investiu 400 milhões em tecnologia. “A tecnologia vai transformar a indústria da gestão de ativos. As entidades que invistam neste âmbito hoje serão as que vão liderar o setor no futuro. Vai ser o grande aspeto diferenciador do nosso negócio. As ações audazes que forem adotadas hoje vão dar forma aos resultados da indústria na próxima década”, assegura George Gatch, CEO da J.P.Morgan AM numa recente conferência de imprensa.

Outro dado interessante refere-se à maior carga regulatória que estão a ter de enfrentar, a qual as está a obrigar a investir mais recursos neste âmbito, assim como a pressão que estão a sofrer do lado das receitas. Uma em cada três gestoras asseguram que, de forma agregada, as receitas por comissões cobradas no último ano se reduziram. Todos estes movimentos por parte das entidades demonstram que a indústria se está a transformar para enfrentar um contexto novo. No livro comemorativo dos 10 anos do Amundi World Investment Forum, a Amundi resume muito bem no próprio título da sua obra: 2010-2020: o final da gestão de ativos tradicional.

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2. Os mercados onde a indústria está a crescer mais fortemente. São muitas as gestoras que estão a procurar novos mercados para onde levar o negócio. Três países emergentes (China, Índia e Brasil) são as regiões onde o setor de fundos está a crescer a taxas mais elevadas, ou seja, onde o volume de ativos nas mãos da indústria da gestão de ativos experimentou, calculado em divisa local, um crescimento mais forte ao longo dos últimos cinco anos. No que respeita os países desenvolvidos, os mercados onde o rácio de crescimento foi maior foi na Austrália, Coreia do Sul e Noruega. Geralmente, a conversão para dólares destes rácios de crescimento teve um efeito amortecedor devido à força mostrada pelo dólar face às divisas da maioria destes países.

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3. Os vencedores não levam tudo, mas sem dúvida levam mais. É uma das grandes tendências que estão a acontecer na indústria: a concentração do património nas maiores entidades do mundo. O gráfico seguinte da Willis Towers Watson demonstra como em seis dos últimos dez anos, o rácio de crescimento das 20 maiores gestoras de ativos geridos superou a do top 500. Em 2019, o ano mais recente cujos dados a consultora dispõe, mostra um crescimento da primeira de 17,3% frente aos 14,8% da segunda. São 2,5 pontos a mais. Nos últimos 10 anos, a taxa composta de crescimento anual das do top 20 foi de 6,1%, 0,7 pontos a mais do que as do top 500 (5,4%).

Este top 20 é formado maioritariamente por empresas americanas, já que 15 são americanas. Por número representam 75%, mas por ativos recolhem 81,3% do património gerido pelo top 20. As outras cinco entidades, que têm 18,7% restante, são gestoras europeias.

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4. As gestoras independentes são agora a maioria no top 20. Na última década, mudou o tipo de sociedades gestoras que compõem o top 20. O número de firmas independentes aumentou, de sete em 2009 para as 11 atuais, enquanto o número de sociedades gestoras pertencentes a instituições financeiras diminuiu, reduzindo de 10 para sete. Embora por número as independentes representem 55% das 20 maiores, detêm 66,3% do património, ou seja, dois em cada três euros. Pelo contrário, as sociedades gestoras de bancos representam 35% em número, mas representam uma percentagem inferior dos ativos (24,5%). Existem apenas duas entidades pertencentes a seguradoras (10% do total). Por ativos, o seu peso também representa um valor inferior (9,1%).

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5. A gestão passiva catapulta a BlackRock, a Vanguard e a State Street. Estas três empresas independentes são, por esta ordem, as maiores. Não é por acaso que todas são gestoras muito fortes em gestão passiva, onde a indústria está a crescer em termos patrimoniais a taxas muito elevadas. Em 2019, o volume de ativos em produtos de gestão passiva (tanto ETF como fundos indexados) aumentou 25,3%, face aos 12,5% da parte da gestão ativa. Isto está a fazer com que a brecha entre as duas primeiras (BlackRock e Vanguard) e o resto seja cada vez maior. No fecho de 2019, a BlackRock geria 7,4 biliões de dólares e a Vanguard 6,1 biliões, em ambos os casos mais do dobro do que a primeira gestora com um negócio focado quase exclusivamente na gestão ativa, a Fidelity Investments (três biliões).

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6. As que conseguiram dar um salto maior no ranking. Numa indústria extremamente competitiva, um dado interessante é verificar quais as entidades que conseguiram dar um salto maior no ranking por ativos nos últimos cinco anos. E há três empresas que se destacam das demais. A primeira é a Geode Management, empresa independente criada em 2001 nos Estados Unidos que conseguiu escalar 38 posições nos últimos cinco anos. Segue-se a Manulife Financial, entidade pertencente a um grupo segurador canadiano, que sobe 36 posições, e outra canadiana, a Brookfield AM, especializada na comercialização de produtos de gestão alternativa, que sobe 31 posições. As três conseguiram neste período entrar no seleto grupo que compõe as 50 maiores gestoras de ativos do mundo.

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Todos os gráficos deste artigo foram extraídos do Thinking Ahead Institute de Willis Towers Watson (outubro 2020).