“Se as taxas de juro começam a subir mais depressa, as valorizações não ficarão numa situação favorável”

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Como continuar a gerar alfa num mercado em que o consenso aponta para valorizações excessivamente elevadas num contexto de final de ciclo económico? Este é o grande desafio que os gestores de ações norte-americanas estão a enfrentar, e um deles é Matt Benkendorf, à frente do Vontobel Fund – US Equity (classificado com o selo Blockbuster pela Funds People). Contudo, o gestor considera que nem as valorizações são assim tão elevadas, nem as ações norte-americanas perderam o favorecimento dos gestores.

“As valorizações na bolsa dos Estados Unidos estão boas, nem demasiado caras, nem demasiado baratas. A questão essencial para saber se a valorização é adequada ou não, é o rácio do PER atual, mas também vai ser o nível de crescimento dos lucros e a velocidade na subida das taxas de juro”, esclarece o gestor da Vontobel AM. De qualquer das formas, a gestão do especialista é claramente bottom up, daí não ser surpreendente a sua recomendação de focar-se naquilo que as empresas andam a fazer, para além do contexto macro: “Pensamos que a primeira coisa a fazer é olhar para as empresas: como os lucros estão a evoluir, se há crescimento no negócio, quanto se paga por esses negócios, as taxas de juro”. A partir do estudo destas variáveis, o gestor conclui que atualmente “as valorizações estão boas”, mas com uma nota de rodapé: “Se em qualquer momento os lucros estancam ou as taxas começam a subir mais depressa, então as valorizações já não estarão numa situação tão favorável”.

Benkendorf acrescenta um último fator ao cenário de valorizações atual: alerta para o facto de a economia norte-americana continuar a mostrar um bom tom… mas o dilema está na trajetória da inflação: “A única questão é se a inflação vai acelerar mais depressa do que a Reserva Federal prevê, uma vez que isto os forçaria a aumentar as taxas de uma forma mais rápida, dando lugar a uma recessão”.

Detalhes sobre o fundo

Para além de bottom up, o gestor descreve o seu estilo de investimento como sendo muito ativo e de forte convicção, pois a carteira do fundo é composta por posições muito concentradas: “Acreditamos em ter menos empresas, mas de mais qualidade. Para além disso, não queremos ser iguais ao índice, e por isso, frequentemente, subponderamos ou sobreponderamos alguns setores do mercado de forma muito ativa”, esclarece.

A referência à qualidade é muito importante, pois as características que Benkendorf procura faz com que estejam muito centrados em empresas muito específicas, que descreve como de alta qualidade e de crescimento, e caracterizam-se por apresentar ROEs elevados, rentabilidade sobre o capital investido, boas margens de lucros, fluxos de caixa sólidos e, por fim, balanços sólidos. “Procuramos sempre este tipo de empresas; precisamos de encontrar estas empresas de grande qualidade e que também cresçam a uma taxa previsível e sustentável. Isto significa que são empresas menos cíclicas que podemos ter em carteira durante períodos económicos difíceis”, explica o gestor. Este destaca outro elemento adicional: como o seu estilo de investimento tem um bias tão marcado de qualidade, isto significa que “quando o value é feito corretamente, especialmente quando as empresas são muito baratas, nós fazemos corretamente; isto ocorre normalmente nos mínimos de mercado, ou nos finais de ciclo”.

Também devido ao processo de investimento, a carteira do fundo apresenta uma tendência histórica a ter uma importância importante no setor de consumo básico, por considerar que apresenta uma “taxa sustentável de rentabilidade”. Este setor representa atualmente cerca de 20% da carteira. O consumo discricionário é outro dos setores com maior preponderância em carteira, ao ponderar igualmente cerca de 20%. Benkendorf esclarece que a ponderação não responde ao componente cíclico deste tipo de títulos, mas por se “tratar de empresas que, até depois de muitos anos de revalorização em bolsa, permanecem com valorizações muito baixas”.

O terceiro segmento que o gestor comenta é o dos meios de comunicação, com algumas empresas em carteira como a Disney: “Trata-se de uma empresa fantástica e barata, se compararmos com a sua média histórica”, indica. O gestor também acrescentou algumas empresas de comércio retalhista “que estão baratas pelo medo que têm da Amazon”.

O resultado desta filosofia de investimento é um produto que apresenta uma elevada diferença em relação ao índice (o active share ultrapassa os 80%) e uma abordagem de longo prazo, de forma a que, de entre 45 e 48 nomes que tem em carteira, apenas acrescente oito ou dez nomes novos por ano, o que equivale a uma percentagem de rotação de ativos de entre 20% e 25%.

Dito isto, o gestor indica que nunca se separa do seu plano de gestão, por muito más que as condições de mercado possam ser. Dá como exemplo, a sua situação durante o pico da volatilidade vivido em fevereiro: “Quando a volatilidade aumentou, continuámos a gerir a carteira de forma igual e mantendo as mesmas empresas”. Esta lealdade explica também que o fundo está a apresentar um comportamento inferior ao índice até agora: o gestor explica que se realizou uma rotação de estilo, de forma a que “o mercado tenha saído de indústrias mais estáveis e com uma rentabilidade elevada por dividendo”, tal como o consumo básico.