Rui Guerra (Mercer): “Identificando valor no investimento, é importante manter a calma, não desinvestir, e esperar algum tempo”

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A reação dos mercados financeiros ao expectável impacto económico da atual crise pandémica não tem sido negligenciável. A volatilidade subiu para níveis históricos e todas as classes de ativos foram afetadas de alguma forma. Segundo Rui Guerra, partner da Mercer e um dos grandes especialistas em fundos de pensões em Portugal, “naturalmente que, com a volatilidade registada nas várias classes de ativos, os fundos de pensões locais e internacionais foram afetados. Se tomarmos como referência os índices de mercado, as rendibilidades de ações globais estarão em cerca de -22% e as das obrigações estarão entre 0% (governos) e -7% (empresas). Isto reflete-se, naturalmente nas rendibilidades dos fundos de pensões”.

Manter o foco

No entanto, para o partner da Mercer, é importante que os participantes dos fundos de pensões não se deixem levar pelas emoções num contexto de mercado adverso como o atual. “É importante ter em consideração que os fundos de pensões são investimentos de longo prazo e que situações de stress no mercado - apesar de esta ter características muito particulares - acontecem. O importante é manter o foco no objetivo de longo prazo. Identificando valor no investimento, é importante manter a calma, não desinvestir, e esperar algum tempo”.

O profissional não acredita que estes veículos de poupança para a reforma tenham vindo a reagir à conjuntura de mercado dos últimos anos com uma escalada do risco em carteira. O que se tem verificado, diz, é um percurso de maior diversificação nos investimentos “de uma forma correta”, na sua perspetiva. Classes de ativos como as ações globais têm ganho preponderância nas opções de alocação, mas também high yield, dívida e ações de mercados emergentes, em particular, para além do tradicional investimento em dívida de empresas privadas.

Responsabilidades

Já no que se refere ao eventual impacto nas responsabilidades dos associados nos planos de pensões, numa conjuntura que tem resultado num crescimento das mesmas por via da diminuição da taxa de desconto, Rui Guerra considera que “depende muito do tipo de fundo de pensões, do sector e da forma como os fundos de pensões estão investidos, nomeadamente a política de investimentos”. No entanto, deixa também claro que é importante “ter em consideração que estamos ainda no início do ano e tudo dependerá de como evoluírem os mercados nos próximos oito meses, bem como do nível de flexibilidade dos reguladores”, conclui.

Resgates?

Foi noticiado recentemente em Espanha que o governo espanhol permitirá o resgate de planos de pensão nos próximos seis meses para os afetados pelo coronavírus. Um novo decreto-lei real dará, excecionalmente, a possibilidade de aceder aos direitos consolidados nos planos àqueles empregados que perderam o emprego, bem como empresários e trabalhadores independentes que cessaram a sua atividade.

Sobre o assunto, Rui Guerra comenta que "é importante ter em consideração que o mercado de fundos de pensões é significativamente diferente do espanhol em muitas vertentes, nomeadamente na dimensão e  abrangência, pelo que o impacto de uma medida como a que Espanha parece estar a implementar teria efeitos menos relevantes". No entanto, lembra também que "no caso dos PPR’s, a legislação portuguesa prevê a possibilidade de resgate de contribuições em determinadas circunstâncias, como por exemplo desemprego de longa duração, morte e invalidez, ou em qualquer circunstância, mas com perda de benefícios fiscais".