Risco político: desta vez os investidores acreditam que vem o lobo

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Juan Luis, Flickr, Creative Commons

Desde que o mundo é mundo (e os mercados, mercados) o risco geopolítico tem estado presente na vida dos investidores. Ao longo do século XXI os conflitos armados e a crise política têm estado na ordem do dia em todo o planeta. A primavera árabe, a guerra da Síria, a aparição do Estado Islâmico (ISIS), a invasão da Crimeia por parte da Rússia, as revoltas na Turquia, a crise grega, o Brexit, a vitória contra todos os prognóstico de Donald Trump nas eleições americanas... Todos estes têm sido eventos que têm tido efeitos muito importantes no mundo, mas que têm tido um efeito muito relativo no sentimento dos investidores. É o evidenciado pelo Geopolitical Risk Inxed, um índice elaborado por Dario Caldara e Matteo Lacoviello que é tomado em conta pelo Comité de Governardores da Reserva Federal.

4883437998_8853e38b71_zA novidade é que hoje o risco político disparou até cerca dos 300 pontos, um nível ainda longe do alcançado em 2003 com a invasão do Iraque mas muito acima da sua média histórica (88,7 pontos). O risco identificou-se depois de Pyongyang ter testado um dispositivo nuclear (alegando que se trata de uma bomba de hidrogénio para ser montada num míssil balístico intercontinental  ICBM) que os especialistas estimam que terá uma potência de cerca de 50 quilotoneladas em comparação com as 21 quilotoneladas do mais poderoso dos dispositivos que caíram sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial. Prova de que a crise na península coreana é o factor que está a disparar a intranquilidade é o aumento da procura de ativos seguros, como o ouro.

Segundo um estudo recente realizado pela Allianz Global Investors, a geopolítica converteu-se na principal preocupação dos investidores instituionais de todo o mundo. Pela primeira vez desde que se realizou o estudo global AllianzGI RiskMonitor, as preocupações geopolíticas ocupam o primeiro lugar na lista de factores de risco para os 755 investidores institucionais questionados, e que representam 34,2 biliões de dólares em ativos sob gestão entre a América do Norte, Europa e Ásia Pacífico. Dos investidores globais entrevistados, 44% afirma que a geopolítica representa um risco importante para o rendimento dos investidores, à frente da desaceleração económica mundial (41%) e o aumento das taxas de juro (32%).

“Este estudo releva até que ponto a incerteza geopolítica, incluindo a atual tensão na Coreia do Norte, que aumentou ainda mais desde que realizámos o inquérito, está a pesar nas decisões de investimento. Os mercados financeiros nunca funcionaram num vazio, mas a geopolítica parece ter um maior impacto do que em qualquer momento da história recente sobre como se estão a comportar os investidores globais”, assegura Neil Dwane, estratega global da Allianz Global Investors. Agora os investidores enfrentam um dilema de risco e retorno, já que procuram optimizar o binómio em mercados incertos. Esta precaução está refletida nas expectativas de retorno para o próximo ano, com mais de metade (51%) a reduzir os seus objectivos, apesar do recente bom comportamento dos mercados de ações.

De forma reveladora, 53% estão dispostos a sacrificar o potencial de subida para manter a proteção contra acontecimentos extremos. À medida que se esforçam por conciliar o problema do risco-retorno, os investidores observam deficiências nos atuais enfoques de gestão de risco. Quase 3 em 5 (58%) estão à procura de novas estratégias para a sua carteira que equilibrem o balanço de risco-retorno. Mas reconhecem o valor dos ativos alternativos para a diversificação, com 31% dos inquiridos assegurando que é a razão mais importante para investir em alternativos, à frente de qualquer outro factor.