Retorno absoluto: a perspectiva de três entidades, em Lisboa

FP-2
Vitor Duarte

Num período em que a incerteza tomou conta dos mercados, as expectativas de crescimento mundial abrandaram significativamente, em que as políticas monetárias são cada vez menos convencionais e a especulação é muita em torno de divulgações económicas chave, especialmente as decisões dos bancos centrais, os fundos de retorno absoluto surgem como uma alternativa ao risco direcional e uma solução teoricamente estabilizadora dos retornos dos portefólios.

No passado dia 1 de março de 2016, três gestoras de ativos de renome mundial, nas pessoas de Sonja Uys, gestora do BNY Mellon Absolut Insight Fund (Insight Investment), Amit Kumar, co-gestor do Threadneedle American Absolut Alpha Fund (Columbia Threadneedle Investments) e Neil Richardson, diretor de investimentos da unidade de gestão de portefólios multi-ativos da Standard Life Investments, vieram a Portugal dar a sua visão sobre o assunto.

Apesar de apresentarem três métodos distintos de retorno absoluto, os especialistas estão de acordo nos três pontos chave que definem a estratégia: a habilidade de proporcionar retornos positivos em qualquer contexto de mercado, baixa volatilidade e ainda a baixa correlação com outras classes de ativos. “Agnósticos” em termos de benchmark, como aponta Neil Richardson, e com um enfoque na preservação de capital, a gestão não tem como referência o tradicional índice. O gestor acrescenta que “este tipo de estratégia de investimento não é uma solução para todos os problemas. Se o objectivo é que um ativo assuma risco e proporcione um bom retorno em bons anos, não se pode esperar que não caia ligeiramente em anos piores”. Sonja Uys acrescenta que estas estratégias são atrativas se “procura um produto que reduz a volatilidade e dá estabilidade ao portefólio -  não almejando retornos extraordinários - mas que ao mesmo tempo não faz perder o sono”.

No entanto, a gestora faz questão de salvaguardar que não vê “o retorno absoluto como uma classe de ativos, mas sim como uma abordagem de investimento”. Efetivamente, à exceção do fundo co-gerido, por Amit Kumar, que abarca uma política de investimento mais focada em equity norte-americana e com algum enviesamento para uma posição líquida longa (incluindo uma posição core de médio prazo em ações), os restantes produtos apresentam-se com uma diversificação significativa em termos de classes de ativos e estratégias, geridas por equipas de especialistas das entidades.

Neil Richardson comenta que “é muito estimulante falar de oportunidades sem restrições, mas com isso vem a necessidade de uma verdadeira disciplina na construção do portefólio e uma grande atenção ao detalhe. Os gestores tendem a pensar demasiado acerca da parte mais excitante dos investimentos, mas deviam focar-se mais nos riscos”. Esta visão reflete-se no retorno das estratégias de retorno absoluto da Insight Investments (BNY Mellon) e da Standard Life Investments, cujo track record, pré-crise financeira, mostra a resiliência dos portefólios num dos períodos mais conturbados de sempre nos mercados financeiros, considerando que sofreram correções ligeiras em comparação com os mercados de ações. Já o fundo co-gerido por Amit Kumar, e segundo o mesmo, “existe no atual formato desde 2010 e tem mostrado retornos positivos ao longo do tempo, mais concretamente cerca de 4,5% no exercício de 2015”.

E os limites de capacidade?

Numa altura em que este é o tema “da moda” no universo dos fundos de investimento, a procura elevada poderia, eventualmente, revelar-se um problema para estratégias focadas em ativos com menor dimensão e liquidez. Confrontados com esta questão, os gestores destacam como enfrentam essa dificuldade. Para Sonja Uys e a Insight, “se alguma das estratégias chegar a um ponto em que ficamos de mãos atadas por causa das restrições de capacidade, temos a disciplina para entrar em soft close ... mas estamos longe disso”, acrescenta  a gestora. 

Para Amit Kumar, esta é uma questão que passa um pouco ao lado do seu fundo. Sendo a estratégia de investimento muito focada em ações de empresas de média ou grande capitalização dos EUA (empresas com muita liquidez), esta deixa margem suficiente para um “crescimento sustentável no caminho da capacidade máxima”. Mas, ainda assim, destaca que esta é uma temática muito importante para a gestão, sendo o peso em termos de volume diário de transação de uma ação um factor considerado aquando da decisão de investimento.

Já o diretor de investimento da Standard Life Investments destaca que, historicamente, os fundos de retorno absoluto da entidade mostraram a sua competência para enfrentar a questão da capacidade. Salienta por exemplo o  facto dos resgates nunca terem sido restringidos, inclusive em 2008. “O novo fundo tem a política de manter uma elevada liquidez”, refere. “O fundo tem atualmente cerca de 660 milhões de euros e dimensionamos toda e qualquer estratégia como se tivéssemos 10 vezes o tamanho que temos agora”, salienta Neil Richardson, acrescentando que “seria desonesto lançar um fundo com base em ideias pequenas e ilíquidas que, logo que ganhasse sucesso, não iria ter acesso a essas mesmas estratégias porque seria grande demais. O track record seria irrelevante nesse caso”.