Reserva Federal cumpriu expectativas e deixou cair a palavra “paciência”

O BCE arrancou com o seu programa QE, com a compra de 9.8 mil milhões de Euros de dívida, entre obrigações Alemãs triple A e obrigações periféricas com maior risco. Começa também a falar-se de uma descida da taxa de depósito de modo a aumentar o tipo de dívida elegível para o programa, uma vez que o QE não permite a compra de obrigações com rendimentos mais negativos que a actual facilidade de depósito ( -0.20% ).

O abrandamento da descida do Euro/Dolar terá mais a ver com a tomada de mais valias por parte de investidores do que qualquer outra coisa e o facto de ainda não se ter chegado a acordo com a Grécia numa altura em que aumentam as tensões entre a Grécia e a Alemanha para o reembolso de dívidas da Segunda Guerra Mundial pode levar o Euro a conhecer níveis mais baixos face ao Dólar se a Reserva Federal retirar a palavra "paciência" do seu discurso.

Muitos analistas apontam já a paridade, os 0.95 e até os 0.85 como objectivos a atingir na sequência da política monetária seguida pelo BCE que provoca a saída de fluxos de capital da Europa dada a rentabilidade perto de zero na Europa que deverá continuar por muito tempo.

Finalmente o Euro parece ir de encontro ao seu valor real face ao Dólar. Sempre me pareceu inacreditável que o Euro estivesse cotado 30 ou 40% acima do Dólar Americano. Os Bancos Centrais vivem pois numa clara guerra de taxas e câmbios num entorno claramente marcado pela ameaça de deflação, mas será que o BCE vem a tempo? O mesmo BCE que em plena crise resolveu subir taxas?

Com parte dos activos com maturidade até 5 anos com rendimentos perto ou abaixo de zero, o BCE terá que fazer o seu trabalho na parte mais longa da curva, tornando a curva plana e próximo de zero. Esta corrida aos títulos de dívida fará o preço subir e das duas uma, ou o BCE desce a facilidade de depósito ou os países emitem mais dívida comprometendo assim o seu endividamento. Neste ponto, uma pergunta: com o mercado artificialmente mantido pelo BCE e sem a sua disciplina natural que incentivo têm os países para avançar com reformas?

Quanto mais tempo se mantiver este cenário de taxas perto do zero, maiores serão os desequilíbrios, mais activos se acumulam nos balanços dos bancos e mais vulnerável se torna a sociedade a qualquer subida de taxas. No evento mais aguardado da semana, a reunião da Reserva Federal dos Estados Unidos cumpriu as expectativas. Deixando cair a palavra "paciência" do seu discurso, isso não significa que a Fed tenha ficado impaciente apesar de ter referido que espera alguma moderação no ciclo de crescimento económico. Desceu as suas projecções quanto aos Fed Funds, 2015 de 1.125% em dezembro para 0.625%, 2016 2.5% em dezembro para 1.875%. Reviu também em baixa o crescimento do PIB e da inflação e confirmou o impacto da subida do Dólar nesses dois indicadores. 

Este adiar de subida de taxas para setembro permite maior flexibilidade em decisões futuras e reforça a dependência face aos indicadores macro, levando também os investidores que detêm carteiras longas em USD a reverem melhor a sua estratégia, levando o Dólar ao segundo maior rally da sua história ( perdendo 4.4%, atingindo os 1.1043 face ao Euro). No entanto, apesar da decisão do FOMC o Euro/Dolar voltou para níveis de 1.0660 com a tendência de descida a manter-se apesar de ter ficado um mais limitado o potencial para uma descida mais pronunciada.

(Imagem: hor_mark,Flickr, Creative Commons)