Reposicionamento das carteiras: estes são os ativos que os investidores estão a transacionar

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jared, Flickr Creative Commons

O pesado castigo que estão a sofrer os mercados de ações neste arranque de ano, forçou muitos seletores e banqueiros privados a agir e a redefinir estratégias. Na semana que passou, detetaram-se movimentos muito importantes nas carteiras. Perante as quedas de preços, os seletores e banqueiros privados reduziram notavelmente o risco, facto sentido pelas gestoras internacionais. A percepção de cada casa é diferente, ainda que todas coincidam na clara tendência por parte dos investidores para adotar um posicionamento mais cauteloso.

“Há um número crescente de clientes a procurar reduzir o risco total das carteiras, chegando inclusivamente  a investir em liquidez, apesar dos retornos reduzidos”, revela Ramón Pereira, diretor geral da Franklin Templeton para a Península Ibérica. No entanto, o sell-off não está a ser massivo. Na Fidelity, por exemplo, veem que as entradas estão a abrandar e as saídas não seguem um padrão claro por classe de ativo. “O investidor reembolsa para aumentar a liquidez e baixar o risco em geral da carteira. O institucional tende a realizar menos movimentos e o retalho desfaz posições muito lentamente que, de forma agregada, não envolvem grandes fluxos de saída”, afirmam. O reposicionamento que estão a levar  acabo os institucionais, observado por Ana Claver, diretora geral da Robeco, tem passado por desfazer posições em fundos de ações direcionais e apostar em estratégias conservadoras. A mesma percepção tem Sophie del Campo, diretora geral da Natixis Global AM para a Península Ibérica, América Latina e EUA offshore.

No segmento ações, em geral, as gestoras têm detetado ao longo dos últimos dias uma transferência de fluxos para ações norte-americanas com grau de investimento, explicam Almudena Mendaza e Teresa Molins. Também se aperceberam de uma importante tendência por parte dos clientes para substituir as suas posições em obrigações por estratégias não direcionais (incluindo em ações), principalmente de retorno absoluto e market neutral. “Os fluxos para estratégias de retorno absoluto, tanto multi-estratégia como market neutral de ações, estão a ser evidentes”, assinalam as diretoras de vendas da Pioneer Investments para a Península Ibérica. Um questionário realizado pela Natixis Global AM, no final de 2015, já adivinhava esta tendência ao revelar que os investidores institucionais tinham previsto reduzir a sua exposição a obrigações, aumentar as alocações a investimentos alternativos e fazer uma utilização mais intensiva das estratégias de retorno absoluto.

Este maior interesse por estratégias que procuram gerar rentabilidades positivas independentemente das condições de mercado, também foi percepcionada por Lucia Catalán, diretora geral da Goldman Sachs AM para Iberia e América Latina, e Ignacio da la Maza, da Henderson. “Muitos investidores estão a incorporar estes fundos nas suas carteiras, embora de uma forma lenta. É uma tendência que existe embora cresça lentamente, já que se por um lado proporcionam uma série de vantagens, também têm os seus inconvenientes: são mais complexos na hora de analisar e seguir, o que pode em alguns casos ‘travar’ a sua incorporação nas carteiras”, indica Javier Mallo, responsável de vendas da Legg Mason Global AM para Ibéria.

No atual contexto também fica claro o maior interesse dos investidores na procura de ativos refúgio nos fundos monetários. Mas, para além da maior presença que estão a ganhar nas carteiras as estratégias anteriormente mencionadas, existe uma tendência de estudo na inclusão de outros ativos alternativos que, por valorização, começam a despertar o interesse dos selecionadores. Não é uma tendência, mas começa a acontecer com frequência. Embora não exista um padrão claro sobre a classe de ativos em concreto, alguns investidores procuram oportunidades que lhes permitam descorrelacionar as suas carteiras com estratégias de volatilidade, real estate ou até commodities. “Um sector relevante para os investidores e, muito especialmente, daqueles com horizontes de investimento mais longos. O momento atual representa uma boa oportunidade para completar as suas carteiras a preços atrativos, chegando inclusive a investir em sectores muito castigados como a energia e as matérias primas”, revela Ramón Pereira.