Investimento sustentável em ações: novidades, oportunidades e previsão

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Cedida

(TRIBUNA de Hamish Chamberlayne, gestor do fundo Janus Henderson Global Sustainable Equity, da Janus Henderson. Comentário patrocinado pela Janus Henderson.)

Balanço do ano até ao momento

Os mercados bolsistas mundiais caíram na segunda metade do trimestre, uma vez que a atividade económica foi prejudicada pela pandemia do coronavírus.

Em muito países, foram impostas medidas de «distanciamento social» e restrições a viagens, e alguns governos foram inclusivamente mais longe, obrigando ao encerramento das atividades comerciais não essenciais. A magnitude dos transtornos ocorridos era já patente em março devido à redução do tráfego aéreo comercial, que diminuiu mais de 60% na última semana1. A economia mundial não sofria uma perturbação sincronizada a este nível desde a II Guerra Mundial.

Porém, este tipo de crise é muito diferente de um conflito bélico. Reina a paz. As cidades estão tranquilas, circulam poucos automóveis nas estradas e os céus esvaziaram-se de aviões. Uma consequência evidente foi a espetacular diminuição da poluição. As emissões de dióxido de carbono e de óxido de nitrogénio diminuíram drasticamente nas últimas semanas. Algumas pessoas observaram que, sem querer, foi-nos possível vislumbrar um futuro com baixas emissões de carbono, mas ainda que possa haver fatores ambientais claramente positivos, trata-se de uma vitória pírrica dado o custo humano desta crise. As repercussões sociais são diversas e não está a ser fácil para os governos avaliar as consequências das suas diferentes políticas.

Encontrar o lado positivo

Contudo, todo este caos tem tido alguns elementos positivos como, por exemplo, evidenciar as vantagens proporcionadas pelos avanços tecnológicos da última década. A economia digital permitiu que muitas pessoas prosseguissem a sua vida quotidiana com apenas alguns inconvenientes. Algumas empresas têm tido um desempenho muito bom nestes últimos meses, registando inclusive um aumento na procura dos seus serviços. Uma das grandes interrogações para nós neste momento é até que ponto ocorrerá uma mudança duradoura como consequência desta crise. Como será a «nova normalidade»? Acreditamos que esta crise irá acelerar as tendências digitais e esperamos que as mudanças relacionadas com o modo como organizamos as nossas economias e vivemos as nossas vidas tenham efeitos positivos para o ambiente. Estamos a investir em empresas bem posicionadas para este tipo de futuro.

Disrupção ou resiliência

Dado o alcance da intervenção dos governos, há poucos domínios da economia que não tenham sido afetados. Todos os setores principais do mercado registaram rentabilidades negativas, ainda que se tenham verificado importantes diferenças na rentabilidade relativa, dado que algumas empresas resistiram melhor do que outras. As empresas mais afetadas foram as expostas aos sectores das viagens, transportes, indústria pesada, matérias-primas e finanças. Os cruzeiros e as companhias aéreas foram especialmente prejudicados, tendo as suas cotações caído até 80% ou inclusivamente 90% em alguns casos. O sector da energia, dominado pelas empresas petrolíferas e de gás, registou o pior desempenho ao cair mais de 40%. Isto deve-se à queda acentuada dos preços do petróleo, provocada pela fraca procura e pela rutura das relações da OPEP ao não chegar a um acordo para reduzir o excesso de oferta2.

O setor financeiro foi o segundo mais prejudicado ao cair mais de 25%, visto que os bancos foram submetidos a pressões como resultado das medidas regulamentares dos governos de benevolência com os créditos e as reduções das taxas de juro aplicadas pelos bancos centrais. A saúde, o consumo básico e os serviços públicos de fornecimento, os sectores tradicionalmente mais defensivos, tiveram um desempenho relativamente melhor, não obstante, mesmo assim, tenham caído entre 5% a 15%. O sector das tecnologias da informação também registou uma descida inferior à do mercado em geral como consequência do aumento da procura de muitos serviços digitais.2.

Perspetivas

Há muita incerteza sobre quanto irão durar as medidas dos governos. Além disso, muitas pessoas começam a interrogar-se se esta crise irá provocar mudanças duradouras no nosso modo de vida e nas nossas economias. Não vamos dizer que sabemos as respostas a estas perguntas, mas acreditamos que alguns caminhos são mais claros do que outros e que a nossa abordagem de investimento sustentável nos ajudará.

Em resposta a esta crise, muito governos de todo o mundo responderam com medidas de estímulo fiscal a grande escala, em alguns casos até 20% do PIB do país em questão. Este estímulo terá de ir parar a algum lado e ainda que alguns setores possam necessitar de tempo para se recuperarem, há áreas que provavelmente terão uma forte recuperação. A nossa abordagem de investimento sustentável ajuda-nos a centrar-nos nas tendências a longo prazo que acreditamos não virem a alterar. Com efeito, acreditamos que algumas poderão inclusivamente acelerar como resultado desta crise que revelou, de facto, que algumas coisas têm de mudar.

A digitalização é uma tendência em aceleração e temos muitos investimentos expostos à mesma nas áreas da produtividade empresarial, comunicação, saúde, lazer, infraestruturas e conetividade. A capacidade de adaptação e a resistência demonstradas até este momento pela economia digital - muitas empresas registaram um aumento da procura dos seus serviços - contribuíram para sublinhar a ideia de que muitas pessoas e empresas podem reduzir a sua pegada de carbono. A razão de ser da digitalização é permitir uma maior produtividade e uma utilização mais eficiente dos nossos preciosos recursos naturais.

Acreditamos que a transição para uma economia com baixas emissões de carbono é uma tendência que vai continuar e que poderá até acelerar. Questionam-nos frequentemente sobre a possibilidade de os baixos preços do petróleo frustrarem os investimentos sustentáveis ou abrandarem o ritmo de transição para uma economia com baixas emissões de carbono. Não acreditamos que seja isto provável. Com efeito, a volatilidade do preço do crude é, em si própria, um fator negativo do ponto de vista do investimento, ao passo que a estabilidade das rentabilidades do sector das energias renováveis se torna muito atrativa. É o impulso imparável da tecnologia limpa, juntamente com a crescente carga regulamentar associada ao carbono, o que diminui a atratividade dos investimentos nos combustíveis fósseis. Esperamos, também, que o apoio regulamentar à transição para a energia limpa prossiga.

Não obstante tenha passado despercebida entre todas as notícias sobre a pandemia, a publicação pela Comissão Europeia da proposta da Lei Europeia do Clima, no dia 4 de março, constituiu um importante passo em frente no compromisso da União Europeia para com uma economia com zero emissões líquidas de carbono. Também não ficaríamos surpreendidos se as importantes medidas de estímulo fiscal se destinassem em parte ao sector da energia limpa. Cada vez mais empresas dos sectores de produção de eletricidade, transporte e indústria apresentam planos de investimento para vários anos, coerentes com a transição para uma economia com baixas emissões de carbono. Na próxima década, verificaremos um enorme aumento da capacidade de produção de energias renováveis, avanços nas tecnologias de baterias e a adoção generalizada dos automóveis elétricos pelos consumidores.

Acreditamos que esta será a década na qual veremos claramente a perspetiva do pico da procura de petróleo. Utilizámos a recente volatilidade do mercado para aumentar os nossos investimentos na produção de energias renováveis, onde observamos dividendos estáveis e em crescimento, assim como em empresas que proporcionam tecnologia para a eletrificação do transporte.

Há muitos outros domínios nos quais esperamos poucas mudanças: a necessidade de serviços sanitários básicos, incrementada pelo envelhecimento da população, não fez senão aumentar devido a esta crise. Os seguros e os serviços de gestão de riscos continuam a ser muito necessários, o crescimento da população e o processo de urbanização vão prosseguir e, com estes, a necessidade de investir em infraestruturas sustentáveis, transportes públicos, edifícios com eficiência energética e tecnologia da água. A inovação avançará no que respeita à economia circular e continuará a haver procura de muitos serviços e bens de consumo relacionados com o desporto e o lazer, o entretenimento e a alimentação saudável.

Em vez de minimizar a importância desta crise, esperamos que sirva para esclarecer a componente atrativa do investimento sustentável e o modo como produz melhores resultados, não só para os investidores, mas também para o ambiente e a sociedade. Investimos pelos ganhos, pelas pessoas e pelo planeta. Acreditamos que as melhores rentabilidades do investimento serão provenientes de empresas com um crescimento composto resiliente, características que são com frequência oferecidas pelas empresas que apostam nas tendências de sustentabilidade.

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Notas de rodapé:

1 Flightradar24.com, 2 de abril de 2020.

2 Factset, Janus Henderson Investors, em libras esterlinas, 31 de abril de 2020.

Este documento reflete as opiniões expressas pelo autor no momento da sua publicação, que podem ser diferentes das opiniões das outras pessoas/equipas da Janus Henderson Investors. Nenhum instrumento, fundo, setor ou índice citados neste artigo constitui ou faz parte de qualquer oferta ou proposta de compra ou venda de qualquer um destes.

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