Relação entre o PIB e o mercado de trabalho: ir um pouco mais além

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Salah Maraashi Photography, Flickr, Creative Commons

Na história da Economia existem alguns resultados que foram mais fáceis de prever do que outros. É a partir desta ideia que Joshua McCallum e Gianluca Moretti, economistas da UBS Global Asset Management, “pegam” no caso da relação entre o PIB e o mercado de trabalho. “Desde que existem trabalhadores a produzir coisas, não é surpreendente que esta ligação exista. O facto de um crescimento mais rápido do PIB estar relacionado com a queda da taxa de desemprego era tão evidente no passado que chegou a apelidar-se de ‘Okun’s Law’ em 1962, por causa do economista Arthur Okun”, recordam.

Continuando numa perspetiva histórica, os dois profissionais da UBS Global AM lembram que esta lei teve uma importância assinalável, nomeadamente para os Bancos Centrais porque os ajudou a perceber quão rápido a economia pode crescer antes do mercado de trabalho começar a ser afetado”. Esta foi uma teoria que fez sentido no início da crise financeira, “mas agora que as taxas de desemprego caíram drasticamente, o foco mudou para o mercado de trabalho”. Perante a folga que se verifica no mercado de trabalho norte-americano e inglês, os economistas alertam que para a Fed e para o Banco de Inglaterra chegou a hora de pensar na subida das taxas de juro.

Mas...

“Tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos o crescimento não tem sido demasiado lento comparando com os padrões históricos?”, questionam retoricamente, lembrando que a própria Lei de Okun referia que os bancos centrais devem prestar atenção a este tipo de percurso, já que “a taxa de desemprego não irá cair o suficiente para gerar pressões salariais e, posteriormente, inflação”.

Mas as exceções à regra existem. Depois da crise, a Lei de Okun mostrou que para que a taxa de desemprego caísse, os EUA necessitavam de alcançar um crescimento de cerca de 3%, enquanto o avanço da economia inglesa teria de ser próximo dos 2%. No entanto, Joshua McCallum e Gianluca Moretti voltam a puxar da memória para lembrar que “desde essa altura que o nível de crescimento consistente com uma taxa de desemprego estável caiu para 1.75% em ambos os países”. E esta não é a primeira vez que em que se assiste a uma grande queda na taxa  de crescimento, de forma a que o desemprego caia.

Demografia: grande suspeito

Vários factores estruturais podem estar por trás deste tipo de declínios, mas é à demografia que se aponta o dedo como principal suspeito. “Agora que os baby-boomers se começaram a reformar, e a taxa de fertilidade é mais baixa, o crescimento não tem de ser tão elevado porque existem menos postos de trabalho para serem criados”. Os factores que influenciam este processo podem não ser apenas estruturais, chegando a ser cíclicos. “O aprofundamento da recessão e a deterioração das perspetivas de trabalho desencorajaram muitas pessoas da força de trabalho, especialmente no mercado norte-americano”.