Reflexões sobre a gestão do risco (que nos inspira o Brexit)

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Menter Training, Flickr, Creative Commons

Os investidores sentem-se muito incomodados quando têm que gerir o risco que representa para as suas poupanças a proximidade de um acontecimento de caráter político. A recente correção dos mercados depois do referendo britânico sobre o Brexit acaba de pôr às claras o perigo das apostas no resultado oposto. O risco de saída do Reino Unido da união Europeia tinha sido praticamente descartado nas últimas sondagens publicadas, pelo que um grande número de investidores abraçou sem reservas esta suposta evidência. Segundo Didier Saint-Georges, membro do comité de investimentos da Carmignac, ao fazê-lo, infringiram com uma única ação duas normas elementares da gestão de riscos: 1) manter sempre um pensamento independente, atrevendo-se a ir contra o consenso, mesmo quando este seja quase unânime; 2) proteger-se perante riscos muito assimétricos.

“No caso referido, o risco associado ao referendo era evidente. Uma vitória dos partidários da permanência na UE seria algo esperado, enquanto que uma maioria a votar pela saída teria um forte impacto negativo nos mercado, como acabou por ocorrer. Este episódio também permite recordar que a gestão dos riscos não termina aí. Depois de ter caído um balde de água fira sobre a breve exuberância especulativa dos mercados, a chave será integrar agora este novo acontecimento numa análise objetiva do risco e determinar se, desta vez, os mercados não ficaram excessivamente cegos com o medo. Porque  a gestão dos riscos consiste também em atrever-se a assumi-los, frequentemente adiantando-se a eles, mas também equivocando-se, por vezes. Mais que uma questão de conhecimento técnico. A gestão dos riscos é, antes de tudo, uma questão de bom senso e caráter”, explica.

A segunda reflexão sobre a gestão do risco está relacionada com a questão de enfrentar a falta liquidez. Vicent Mortier, diretor de investimentos da Amundi, é muito claro a esse nível: o problema de iliquidez não está nos mercados mas sim nas carteiras. “No mundo do investimento coletivo, a questão da liquidez não tem tanto a ver com os ativos subjacentes mas sim com a construção da carteira e a valorização desses ativos. Tem a ver com a construção da carteira porque não existe nenhuma garantia de que um ativo que é líquido hoje vá continuar a sê-lo amanhã, já que não se sabe quando acontecerá um novo shock, e quem será afectado por ele. Neste contexto, a melhor estratégia contra a falta de liquidez é construir carteiras diversificadas, garantir um acesso seguro ao mercado mediante relações robustas com as contrapartes e não enganar os investidores para evitar decepções, mais do que escolher um ativo supostamente líquido. O segundo pilar é a valorização, porque o conceito de liquidez tem sempre implícito o tema do preço: quase sempre se pode vender se o preço não for um problema. Daí a importância de que as valorizações dos fundos UCITS reflitam fielmente a realidade, com o objetivo de prevenir uma crise de liquidez”.