Recorde histórico de dividendos: quais os fatores que o explicam?

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Daniel*1977, Flickr, Creative Commons

Após diversas revisões que mostraram uma evolução irregular da remuneração acionista, a última atualização da Janus Henderson Global Dividend Index não poderia fornecer um dado melhor: o número de dividendos mundiais alcançou o recorde trimestral histórico de 447.500 milhões de dólares no segundo trimestre de 2017.

Mais concretamente, os dividendos mundiais aumentaram 5,4% de um modo geral, o equivalente a um aumento subjacente de 7,2% após terem sido tidas em conta as variações das taxas de câmbio, os dividendos extraordinários e restantes fatores. Especialistas da Janus Henderson Investors indicam que foi o ritmo de crescimento mais elevado registado pelo índice desde 2015. Além disso, identificaram novos máximos trimestrais nos Estados Unidos, Japão, Suíça, Holanda, Bélgica, Indonésia e Coreia do Sul.

A outra boa notícia é que o aumento dos dividendos foi praticamente generalizado, ao refletir-se em quase todos os setores e indústrias. Dados da gestora especificam que o setor financeiro – mais concretamente os bancos - contribuíram para metade do aumento geral dos dividendos à escala mundial. Ainda assim, detetaram, igualmente, sinais de força nos setores tecnológico, industrial e materiais básicos, enquanto observaram unicamente no segmento de telecomunicações um ligeiro declínio nas suas retribuições.

Como resultado dos sólidos resultados do segundo trimestre, juntamente com o fortalecimento da economia mundial, da Janus Henderson optaram por rever em alta as previsões em matéria de dividendos para 2017 até um valor recorde de 1,208 biliões de dólares, 50.000 milhões a mais do que a previsão preliminar de janeiro. Isto equivale a um crescimento subjacente de 5,5% na taxa interanual e 3,9% numa base geral. 

“O primeiro semestre de 2017 foi melhor do que esperávamos e o segundo também parece ser promissor”, sublinha Alex Crook, responsável de Global Equity Income na Janus Henderson. O profissional acrescenta que “o dólar norte americano se desvalorizou face a muitas moedas desde o nosso último relatório, pelo que representará uma menor influencia para os valores globais no segundo semestre se se mantiverem os níveis atuais”.

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A Europa lidera corrente de dividendos

O maior volume de remunerações durante o segundo trimestre foi repartido na Europa, onde importa recordar que a maioria das empresas europeias têm, normalmente, uma única remuneração anual, entregue nessa época do ano. Assim, a região concentrou 40% do total de dividendos pagos durante o segundo trimestre. Da Janus Henderson fazem notar que as remunerações – 149.500 milhões de dólares, assistiram a um aumento de 5,8% numa base subjacente, “o que mostra uma aceleração da expansão registada há um ano, assim como a melhoria das condições económicas no continente”. É também notável a observação de que até 86% das empresas europeias aumentaram ou mantiveram a sua remuneração ao acionista na taxa interanual.

Por países, o relatório indica que os países de menor tamanho – como a Bélgica e a Holanda, que renovaram os máximos históricos, foram os mais generosos em termos de remunerações. Alcançaram, ainda, um máximo histórico – 24.800 milhões de dólares - os dividendos suíços, que aumentaram 8,6% numa base subjacente. A maior subida foi protagonizada pela empresa de cimento Lafarge Holcim, que aumentou os seus dividendos por ação em 33%.

No entanto, profissionais da gestora salientam que “os países de maior envergadura também mostram bons resultados”. Por exemplo, os dividendos alemães aumentaram 8% até aos 34.100 milhões de dólares (o que representa um crescimento subjacente de 7,5%), ainda que não tenham alcançado os máximos históricos de 2014. Quase 90% das empresas alemãs optaram por aumentar ou manter os seus dividendos, com exceções como o Commerzbank, que cancelou a sua política de dividendos, ou o Deutsche Bank e a Volkswagen, que restabeleceram de forma parcial as suas respetivas remunerações.

O caso de França foi um pouco diferente: a decisão de alterar a data de remuneração provocou uma queda de 1% da taxa global, até aos 40.600 milhões, ainda que, na taxa subjacente, o crescimento dos dividendos tenha alcançado os 6,1%. Neste caso, 75% das empresas francesas mantiveram ou elevaram as suas remunerações ao acionista. Destaque-se que a fabricante de automóveis Peugeot pagou o seu primeiro dividendo em seis anos, graças ao forte aumento dos seus lucros.

A nota negativa no Velho Continente vai para Espanha e Itália. Mais concretamente, os dividendos espanhóis caíram 10% no ano, até aos 6.100 milhões de dólares (uma diminuição subjacente de 6,3%), devido à redução do dividendo da Telefónica para metade. Em Itália, a queda de 19,1% até aos 8.300 milhões de dólares deveu-se, principalmente, à decisão da Enel de realizar distribuições semestrais e ao cancelamento do dividendo da Unicredit. No entanto, na base subjacente, o total de Itália fixou-se apenas nos 0,8%.

Finalmente, os dividendos no Reino Unido caíram 3,5% na taxa geral até aos 32.500 milhões de dólares, embora o crescimento subjacente tenha sido sólido – 6,1%. Esta diferença explica-se pela fraqueza contínua da libra, como reflexo das expectativas dos investidores com a implementação do Brexit.

Bom progresso nas restantes regiões do mundo

Em comentários anteriores, o abrandamento acentuado dos dividendos nos Estados Unidos durante 2016 foi o protagonista. No entanto, os dados referentes ao segundo trimestre refletem um novo recorde de 111.600 milhões de dólares, o que representa um aumento de 9,8% na taxa geral e de 5,9% na base subjacente. Entre as explicações para esta melhoria constam o dividendo extraordinário pago pela Costco e a forte contribuição dos bancos norte americanos, das empresas de software, das farmacêuticas e das empresas de serviços públicos. A outra nota positiva foi o facto de nenhum setor de atividade do país ter diminuido as suas remunerações.

O Japão também bateu o seu próprio recorde, ao remunerar as empresas japoneses com 31.600 milhões de dólares. O crescimento subjacente foi de 11,8%, embora a desvalorização do yen tenha tirado o brilho ao crescimento geral, situado nos 4,2%. A Nintendo e a Mitsubishi Corporation protagonizaram as maiores subidas anuais na remuneração dos acionistas, enquanto a Japan Airlines cortou as suas distribuições antes da queda dos lucros. Em termos gerais, mais de 75% das empresas japonesas aumentaram os seus dividendos em yenes.

Na Ásia, a Coreia do Sul alcançou um novo recorde, enquanto nos mercados emergentes Indonésia, Brasil, Rússia e México, se situaram entre os países onde mais dividendos se distribuíram. Embora tenha havido uma grande dispersão entre os países, o crescimento conjunto geral alcalçou uma taxa interanual de 29,7% (27,1% na sua base subjacente).