Reacção dos mercados à crise política de Portugal

Willem__Verhagen
Cedida

O que estamos a ver em Portugal é um aumento da fadiga da reforma. Isto já se nota há algum tempo, no entanto é agora que se estão a ver claros sinais de corrosão na coligação governamental. Como em qualquer país periférico, as partes constituintes estão a fazer cálculos para ver o que é melhor. Pode haver uma importante razão para se permanecer na coligação mesmo à custa de tomar medidas pouco populares, já que as eleições estão à porta podem desencadear uma perda de peso nos votos de um partido a favor de outros mais populistas. No entanto, em algum momento um dos partidos poderia decidir que abandonar era o mais acertado. Tomando essa atitude abertamente poderia aumentar a sua participação no voto.

A razão fundamental pela qual nesta altura a Europa vai sendo envolvida nesta confusão é porque desde o princípio os políticos não foram capazes de reconhecer que se trata de um problema comum e de que todas as partes implicadas partilham a responsabilidade de o terem criado e, por isso, partilham também a responsabilidade de o solucionar.

Resumindo, aumentar o crédito e o défice por conta corrente dos países periféricos, não teria sido possível sem o correspondente aumento do crédito e superavit por conta corrente de outros países centrais. Durante demasiado tempo, os países centrais consideraram a crise como resultado do desperdício dos países periféricos. Para os países centrais, os periféricos apenas podem resolver os seus problemas mediante reformas fiscais e estruturais. Devido à severa pressão do mercado, os países centrais viram-se obrigados a ceder através dos FEEF/MEDE, e Portugal está a beneficiar destas ajudas.

É claro que uma abordagem única para o ajuste fiscal e a implementação simultânea de reformas estruturais tem um alto custo económico e social, que em algum momento pode chegar a ser demasiado grande para um país suportar. Teria sido melhor que a Troika tivesse cortado o grau de ajuste fiscal dos países periféricos numa forma de reconhecimento de que isto é muito autodestrutivo. Além disso, num ambiente em que o sector privado é de desalavancagem, a oferta de crédito é muito apertada e as exportações são prejudicadas por causa de um crescimento lento nos países desenvolvidos e os problemas de competitividade. Se o tivessem feito, as reformas estruturais que são muito necessárias tinham sido melhor aceites socialmente. Além disso, poderia ter havido mais enfoque no relançamento da economia e uma política monetária mais fácil.

Claro que agora, tudo isto está a ser reconhecido de forma gradual pelos responsáveis políticos da EU, como é evidenciado pelo aumento do grau de satisfação para o não cumprimento das metas ciclicamente induzidas. No entanto, os danos à economia e à coesão social está feitos nos países da periferia. O actual aumento nos rendimentos não é uma ameaça directa e imediata para as Finanças Públicas portuguesas, já que Portugal está sob o Programa da Troika até o segundo semestre de 2014. Contudo, representa uma ameaça indirecta porque endurece as condições financeiras internas e poderia levar a apertar ainda mais a oferta de crédito para que o sector bancário, pelo que o sector bancário nacional teria que olhar para as posições das suas obrigações domésticas. Isto teria um efeito depressivo sobre o crescimento no curto prazo e, portanto, também sobre a sustentabilidade da dívida pública e privada.

É necessário chegar a uma situação de curto prazo por parte dos políticos portugueses, de forma a que a situação flua. Não nos podemos esquecer que Portugal ainda não está debaixo do “guarda-chuva” do OMT do  BCE como parte do programa da Troika. O plano foi, provavelmente, colocar Portugal novamente no mercado através de uma linha de crédito ESM, temporariamente, até que o OMT seja elegível. Além disso, Portugal é mais bem recebido do que a Grécia nos círculos europeus, uma vez que tem sido um “bom aluno”, cumprindo todos os objectivos da reforma fiscal e estrutural. Chegado o momento vai-se encontrar uma solução europeia para a crise actual, mas provavelmente isso só irá acontecer quando a pressão em termos políticos e de mercados for maior. Como acontece una Grécia, não podemos excluir a possibilidade de que o PSI é parte da solução. Tudo depende do resto da região, se acredita que os ‘firewalls’ contra a infecção vão ser suficientemente fortes desta vez.