Quem é a Eurizon e que ideias traz para o mercado ibérico

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A Eurizon é uma gestora pertencente ao banco Intesa Sanpaolo. Trata-se de uma entidade muito conhecida em Itália, país onde absorve 15% do património que acumula a indústria da gestão de ativos. No total, gere um volume que atualmente chega os 380.00 milhões de euros no fim de 2018. Historicamente, a empresa tem estado muito voltada para o negócio da gestão de ativos, entre outros motivos para poder oferecer um bom serviço à sua rede. Não obstante, só nos últimos anos é que a gestora deu o passo e expandiu o seu negócio pela Europa, com a abertura de sucursais e escritórios de representação. A última a abrir foi na Península Ibérica, à frente da qual está Bruno Patain, como diretor geral da Eurizon para a Península Ibérica.

Na primeira entrevista que concede a um meio de comunicação após a sua nomeação, Patain quis explicar à Funds People as capacidades de uma entidade que, tal como revela, conta com uma ampla gama de fundos, tanto de direito italiano como luxemburguês. “Tradicionalmente, a Eurizon foi uma casa muito reconhecida pelos seus produtos de obrigações e multiativos flexíveis. São as categorias onde mais tivemos sucesso comercial.”, afirma. Precisamente, na Península Ibérica, onde a gestora conta com um património próximo dos 200 milhões, os investidores sentiram-se interessados por uma estratégia de obrigações e outro fundo de multiativos, que em ambos casos seguem processos de investimento muito originais.

O que mais património acumula é o Epsilon Fund Emerging Bond Total Return, um fundo com 5.200 milhões em ativos dos quais mais de 100 milhões estão na Península Ibérica, fundamentalmente em fundos de fundos e carteiras de gestão discricionária.

“Trata-se de uma estratégia que investe em obrigações emergentes de curta duração, principalmente de dívida pública. O que procuram os gestores é uma duração de um ano e uma volatilidade de 2% anualizada. 80% da carteira corresponde a um investimento estratégico baseado em comprar e manter obrigações numa moeda forte que ofereçam um cupão atrativo, enquanto 20% é tática. Esses 80% da exposição estão cobertos, enquanto os 20% restantes podem estar parcial ou totalmente cobertos. O rácio de rentabilidade/risco que oferece o produto é mais atrativo que um fundo de dívida europeu a curto prazo, pelo que muitos investidores ibéricos utilizam-no como alternativa às obrigações de curta duração”, explica.

O segundo fundo que mais interesse está a despertar na Península Ibérica é o Eurizon Funds Azioni Strategia Flessible. É o maior da casa, com cerca de 9.000 milhões em ativos no final de 2018. “É um fundo de ações flexível que tem em geral 120 ações em carteira (60 títulos do S&P 500 e 60 títulos do MSCI Europe). São empresas que pagam bom dividendo, sendo este sustentável, pelo que se presta especial atenção ao fluxo de caixa livre das empresas. Após estes três filtros os gestores realizam uma análise fundamental das empresas. Uma vez feito tudo isto decidem qual é a exposição ao mercado que desejam ter. Para isso, baseiam-se no PER de Shiller. Quando este se situa acima da média reduzem a exposição ao mercado e quando está abaixo aumentam-na. A gama pode mover-se entre 50% e 100%. Agora consideram que as valorizações são elevadas, pelo que está na parte da baixa exposição (55%). O resto é liquidez e dívida a curto prazo com menos de um ano e meio de duração”.

Pioneiros em inovação

Um dos aspetos que mais enfatiza Patain é que a Eurizon é uma gestora muito inovadora. “Existe dentro da casa um dinamismo muito claro para oferecer aos nossos clientes, produtos que se adaptem às suas necessidades. Às vezes, isso parte da própria convicção da entidade. Por exemplo: consideramo-nos a primeira gestora em Itália em ISR, porque fomos a primeira entidade a lançar no mercado um fundo ISR ético em 1996. É uma área onde temos um track record muito importante. Quando criamos um produto é porque acreditamos nele. Recentemente, lançámos um fundo de obrigações verdes com gestão ativa da duração… A casa está constantemente a inovar”, indica o responsável da Eurizon para Espanha e Portugal.

Milão e os fundos híbridos entre o retorno absoluto e o retorno total

A gestora conta com quatro centros de gestão. O primeiro está em Milão, a partir de onde gerem também os fundos Epsilon – de gestão quantitativa – e boa parte dos fundos de ações, obrigações e alternativos, categoria esta última onde criaram um departamento muito potente.

“O cliente ficou bastante frio com os fundos de retorno absoluto após os maus resultados de 2018. A diversificação que historicamente oferecem não funcionou, mas é importante recordar que alguns produtos o fizeram. Dispomos de dois fundos híbridos em absolute return, com liquidez diária, criados para proteger em momentos maus e que o ano passado fecharam em positivo. Mantêm posições estratégicas em liquidez e obrigações de muito curto prazo. Em momentos táticos pontuais de alta volatilidade e correções entram em índices de ações, mas incorporando uma opção sobre a posição. Desse modo, se se enganam, protegem-se. São fundos bastante tranquilos, com uma volatilidade anualizada de menos de 2%”, explica.

Luxemburgo e os Limited Tracking Error

O segundo centro de gestão está no Luxemburgo. A partir dali gerem os fundos de smart voltility e também a gama de Limited Tracking Error. “É a nossa resposta para os clientes que querem ter uma parte da sua carteira em gestão passiva”, refere. Concretamente, trata-se de uma oferta de produtos tanto de ações como de obrigações com um tracking error limitado, que comercializam a um custo baixo. “A de obrigações de curto prazo tem uma comissão de gestão de 14 pontos base, o de dívida a médio prazo de 16 pontos base para clientes institucionais… Em geral, não somos uma casa que cobra elevadas comissões. Preferimos ter comissões mais baixas e, em algumas estratégias muito determinadas, cobrar uma comissão de sucesso se os fundos se comportarem bem”.

Londres e Hong Kong: fundos de obrigações e ações china

A entidade dispõe de outros dois centros de gestão. Um está em Londres. Desembarcaram na capital britânica quando adquiriram uma boutique especializada na gestão de estratégias global macro, divisas e emergentes. “Gerem para nós um fundo de obrigações emergentes e outro de Renminbi, produto que vamos impulsionar, ao tratar de uma classe de ativo que está ausente nas carteiras e que terá um peso importante no mercado após a entrada nos índices de obrigações globais”, adianta Patain. Por último, na China, a Eurizon assinou uma joint venture com Penghua, uma gestora local com 75.000 milhões de euros sob gestão no fim de dezembro, especializada na gestão de ações chinesas e Eurizon Capital (HK) Limited, uma gestora de ativos sediada em Hong Kong.

Porque disse sim a este projeto?

Após dez anos na Genrali Investments, Patain aceitou o desafio de comandar uma gestora que abre um escritório numa zona que conhece muito bem. “A Península Ibérica é um mercado maduro, mas dispomos de todas as armas para ter sucesso. Tudo aponta para que a indústria de gestão de ativos na Península Ibérica continue a crescer pela necessidade de poupança e investimento que existe, sobretudo tendo em conta que há 800.000 milhões de euros em depósitos, que pagam nada”. À sua chegada, Patain encontrou-se com uma entidade que – segundo afirma – “está comprometida a 200% com o negócio da gestão de ativos. Acreditam nele e, além disso, existe um clima interno muito favorável”.

No total, na Eurizon trabalham 570 profissionais, dos quais 180 dedicam-se a gerir e outros 40 estão no departamento de risco. “A estabilidade das equipas é tremenda e as relações humanas dentro da casa são muito fluídas. Pela importância do mercado ibérico, a Eurizon deveria ter chegado antes, mas quiseram dar um passo de cada vez. E isso é outra coisa de que gosto muito. Existe o interesse em aumentar os ativos na Europa, mas com planos de crescimento paulatinos, progressivos, sensatos e realistas”, conclui Patain. Por agora, será o único responsável pela entidade. A equipa será reforçada à medida que a casa vir os seus ativos aumentar.