Que papel tem um gestor de fundos numa estratégia quantitativa?

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A tecnologia representa o fim dos gestores de fundos tradicionais? Numa entrevista recente, David Wright, responsável de estratégia de produtos da região EMEA para o negócio de Systematic Active Equity (SAE) da BlackRock, explicava como o investimento quantitativo evoluiu. A análise de fatores tradicionais como momentum ou value tornaram-se tão populares que os geradores de alfa se tornaram no beta dos fundos.

A implementação da sua estratégia sistemática está praticamente automatizada e não há nenhuma gestão discricionária na seleção dos ativos. Como tal, que papel desempenha um gestor de carne e osso num fundo cuja tese de investimento se baseia em modelos quantitativos? “É como um avião”, explica Wright. “O processo é automático, mas, ainda assim, queremos um ser humano a controlar os riscos”.

Apenas um terço do tempo de um gestor da divisão SAE é dedicado à implementação do processo. Outro terço monitoriza os sinais. “Porquê e como estão a funcionar”. É possível que alguns sinais que funcionam no processo de desenvolvimento da tese não estejam a dar os resultados esperados na fase de aplicação real. Ou que a correlação do mercado mude e tenha de se rever o processo. “É a construção da combinação dos sinais”, detalha Wright.

E o restante terço é o desenvolvimento de novos sinais. À semelhança do facto de um gestor clássico gerar ideias de investimento, um gestor sistemático gera fatores e tendências novas e próprias. Há uma equipa de analistas dedicados a 100% ao estudo de novos sinais, que trabalham lado a lado com os gestores.

Significa que as capacidades exigidas de um gestor também mudaram? Não necessariamente. É certo que na equipa de analistas a presença de novas profissões está a crescer: cerca de 25% já têm estudos de engenharia informática ou machine learning, face a 75% de matemáticos ou académicos. Entre os gestores, em contrapartida, a tendência não é tão notória. A combinação de ambos continua a ser importante. Posto isto, Wright afirma: “Não se pode ser gestor na equipa da SAE se não souber programar com Python e adaptar-se a novas ferramentas”.