Que estratégia está a seguir o Pioneer Funds Absolute Return Multi Strategy para manter as yields positivas?

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A procura de fundos de retorno absoluto para enfrentar o difícil contexto de mercado tem sido uma constante durante todo o ano de 2016. Um dos fundos que beneficiou dessa procura foi o Pioneer Funds Absolute Return Multi Strategy, classificado como Consistente e Blockbuster Funds People. Davide Cataldo, gestor principal deste fundo da Pioneer Investments, resume os desafios que enfrenta: “Os prémios de risco estão tão comprimidos que é muito difícil gerar retornos. Toda a gente aumentou a sua escala de fronteira eficiente, adotando mais riscos para conseguir os mesmos retornos. Ao mesmo tempo, há muitos investidores assentes em grandes quantidades de carry, e todos estes factores poderão levar a uma correção, que é exactamente o que temos vindo a assistir desde o passado dia 8 de setembro”.

Dito isto, o especialista considera que a correção é sã, visto que “a rentabilidade já estava muito exprimida”. “Não esperamos grandes mudanças nas políticas do BCE e do BoJ, o que implica que a parte curta da curva continuará muito baixa. Isto será uma ajuda para a banca, mas ao mesmo tempo dá suficiente margem para uma correção massiva das taxas de juro das obrigações. De qualquer das formas, como o prémio de risco está tão comprimido, os riscos de queda deveriam ser limitados”, enfatiza.

O gestor recorda que, em períodos com estas características, a equipa gestora do fundo realiza coberturas de forma ativa, mediante a compra de opções em alta ou em baixa. Com esta estratégia procura-se gerar uma convexidade negativa que lhes permita explorar o risco assimétrico e assim gerar rendimentos adicionais que brotam da volatilidade. Importa clarificar que o VaR máximo da carteira é de 6% embora habitualmente se situe entre 3% e 4%, com uma volatilidade histórica de 2,5%.

Uma carteira com múltiplas engrenagens

A carteira do Pioneer Funds Absolute Return Multi Strategy está sustentada sobre quatro pilares de investimento: uma estratégia macro, coberturas macro já citadas, estratégias satélite e estratégias baseadas na seleção de apostas por parte de um membro da equipa. Os dois pilares com maior influência são as estratégias macro e as satélite, enquanto que as outras duas ponderam respetivamente cerca de 10% sobre a construção da carteira.

Embora o fundo tenha flexbilidade para investir sem nenhuma restrição num amplo leque de classes de ativos (obrigações, ações, divisas, ouro, real estate), Cataldo clarifica duas coisas: a primeira, que o fundo tem um bias para posições longas, pelo que os investidores não devem esperar que se comporte como um market neutral. A segunda coisa que clarifica – apesar de um dos pilares de investimento na carteira ser a estratégia macro – é que a equipa não está a aproveitar a influência atual dos bancos centrais sobre o mercado para desenvolver estratégias que possam demarcar-se dentro do Global Macro. “Entendemos as estratégias global macro como a construção de grandes posições direcionais, de alta convicção. Não queremos que uma posição condicione o resto da carteira, procuramos diversificação. A carteira está estruturada com uma parte mais orientada para estratégias macro e outra parta que fornece estabilidade e resistência aos distintos contextos de mercado. Para além disso, certificamo-nos que todas as estratégias têm uma baixa correlação”, indica Cataldo.

Desde o início de 2016, a maior contribuição da rentabilidade veio da estratégia macro. Cataldo indica que a seleção tem-se saído “muito bem” e que as estratégias satélite tiveram igualmente uma contribuição positiva, “mas abaixo das expectativas”. Cataldo admite que o contexto atual não é o mais idóneo para gerar rentabilidade: “Neste contexto de baixa direccionalidade, agora é difícil encontrar rentabilidade. Embora normalmente tenhamos um enfoque de longo prazo, o tom do mercado obriga-nos a ser mais dinâmico e oportunísticos”.

Cataldo dá como exemplo o modus operandi da equipa gestora, ao nível da gestão realizada nos dias anteriores e posteriores ao Brexit. O gestor não oculta a sua satisfação pelo êxito da estratégia: “Viamo-lo como um evento com 50%-50% de probabilidade, pelo que nos parece racional tomar posições a favor ou contra o voto sobre a permanência do Reino Unido na UE. Por isso, chegámos ao dia do referendo com uma carteira muito equilibrada e com pouco risco; para cobrir os riscos optamos por comprar francos suíços e vender libras, e tínhamos acumulado muita proteção (dólar, ouro e alguma duração) nos meses anteriores”. Imediatamente depois de se conhecer o resultado da votação, prossegue o gestor, “começámos a aumentar a exposição ao risco, comprando ações, reduzindo a duração e recolhendo ganhos sobre as nossas exposições ao ouro e ao dólar”.

Os investidores também devem ter em conta que normalmente o fundo costuma concentrar o grosso das estratégias de longo prazo em torno de uma série de temas ou tendências. Entre os temas que atualmente a carteira reflete, o gestor destaca a ascensão do turismo na China, o bom momento do sector imobiliário na Ásia, a transição de momento do real estate europeu para o americano e a robótica.

O que esperar?

“A volatilidade está baixa como consequência da manipulação do mercado a cargo dos bancos centrais. Ao aplicar políticas de QE e taxas negativas, geraram inflação nos ativos. A indústria de gestão de ativos beneficiou até agora, mas quanto mais comprimido estiver o prémio de risco mais baixa está a volatilidade, e então o risco de que aconteça um aumento inusitado é mais elevado”, diz Cataldo.

O gestor insiste que, para enfrentar os difíceis meses que estão por vir (eleições nos EUA e Itália, possível subida das taxas pela Fed...) “vai ser muito importante a construção da carteira”. Cataldo admite que atualmente a equipa está a perder algum dinheiro, “mas as perdas são muito leves e de certo modo estavam planeadas. Se estivermos corretos na nossa análise começaremos a elevar a exposição ao risco, comprando crédito, spreads, dívida emergente e ações”, conclui.