Quatro tendências a reter no atual panorama dos ETFs

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ALFI Funds, Flickr, Creative Commons

Talvez seja uma das perguntas para um milhão de dólares nos dias que correm. A gestão ativa e a gestão passiva complementam-se, ou a escalada sem precedentes da quota de mercado dos instrumentos de gestão passiva está definitivamente a “pisar os calos” à indústria de produtos ativos? Deborah Fuhr, managing partner da ETFGI – entidade de consultoria e research independente – evita visões catastrofistas. “Se voltarmos a 2004, devemos recordar que Huw van Steenis, da Morgan Stanley, apareceu com o conceito de ‘barbell polarisation’. Este conceito basicamente refere-se à percepção de que, em prejuízo dos gestores de ativos mais tradicionais, os investidores têm dirigido a sua atenção tanto para a gestão passiva e ETFs, como para hedge funds e outros produtos alternativos. Nesse sentido, achamos que existe uma complementaridade entre ambas as coisas”, começou por dizer a profissional, à margem da última conferência da ALFI, no Luxemburgo.

Numa altura em que, contudo, é cada vez mais difícil encontrar fontes de alfa, Debora Fuhr sente que “selecionar títulos isolados que se comportem melhor do que o benchmark” é uma tarefa também ela inglória... e os dados comprovam-no. “Nos EUA, por exemplo, 84% dos fundos de gestão ativa, entre junho 2015 e junho 2016, tiveram uma performance abaixo do S&P 500”, exemplificou, acrescentando que estes números também são visíveis noutros tipos de mercado.

Não visíveis nos números estão algumas tendências, que Debora Fuhr fez questão de enumerar:

1 – Nesta incessante buscar por alfa, a profissional indica que têm assistido a “muitos investidores que simplesmente se dirigem a produtos indexados para conseguir exposição, mas também outros que acreditam que se conseguirem “acertar” na alocação de ativos, daí conseguirão entregar 90% dos retornos”.

2 – Maior interesse por smart beta, o que se traduz numa tentativa de encontrar fontes sistemáticas de alfa. Embora para a profissional ainda seja difícil definir smart beta, “há estudos académicos que mostram que durante períodos longos há provavelmente quatro ou cinco factores que irão entregar bons retornos”.

3 – ETFs smart beta que têm por base o factor dividendos. Um terço dos ativos que estão alocados a ETFs smart beta estão alocados a este factor. Uma fatia que na opinião de Debora Fuhr é justificada pelo facto de os clientes ao comprarem este tipo de estratégias irem receber um determinado dividendo ao fim de algum tempo. “Os clientes compram essas estratégias por esse motivo, e não porque se trata de um ETF smart beta”, remata. 

4 – Gestores ativos também querem ETFs. Da ETFGI têm assistido também a uma maior procura de ETFs por parte dos próprios gestores ativos. Este tipo de gestores quer ter ETFs em carteira, vontade que se reflete no facto de “nos últimos 37 meses consecutivos se terem assistido a novos inflows neste tipo de produtos”. A especialista detalha que a origem deste dinheiro é “transversal”, pois os ETFs são usados por todo o tipo de investidores. Não nos podemos esquecer: “Os ETFs são um produto bastante democrático: acesso para todos ao mesmo preço”.