Quando a tempestade política se torna mais violenta: riscos e oportunidades

David Buckle
Cedida

Artigo de opinião de David Buckle, responsável de design de soluções de investimento da Fidelity International. Comentário patrocinado pela Fidelity International.

Durante as últimas semanas registaram-se inúmeros eventos políticos. Alguns afetaram os mercados financeiros, enquanto que outros estão a fazer manchetes na imprensa financeira. Tendo em conta tudo isto, esta é a minha visão relativamente aos três grandes acontecimentos recentes e as oportunidades de investimento que representam.

Acontecimento 1: Itália

A formação de um governo de coligação antissistema em Itália abalou os mercados. Os partidos políticos vencedores comprometeram-se a celebrar um referendo relativamente à continuação da utilização do euro por parte do país, o que significa, na verdade, uma votação pelo abandono da UE. O resultado foi um enorme movimento negativo no mercado de obrigações italiano. Na minha opinião, este movimento foi mais além do risco político propriamente dito, tendo em conta que: 1) o referendo poderá não ser celebrado; 2) não é absolutamente claro que os eleitores votem a favor da saída da UE; e 3) ainda que Itália abandone a UE, quão grande deverá ser o alargamento do spread das suas obrigações face aos bunds alemães?

Para mim, o movimento do preço dos títulos italianos esteve mais relacionado com o posicionamento dos investidores do que com o risco político. Este evidenciou apenas a magnitude da mentalidade atual da procura por yield por parte dos investidores, que não têm a capacidade para perder capital. Se o Banco Central Europeu (BCE) precisava de provas sobre o comportamento anormal dos investidores como resposta a taxas de juro ultrabaixas, encontrou-as. Esta reação negativa dos investidores gerou oportunidades de investimento , mas a rapidez é importante: a taxa do título italiano a dois anos subiu quase 2% no dia em que foi anunciada a coligação, mas grande parte dessa subida recuou no dia seguinte. Entretanto, a taxa do título italiano a dez anos superou o patamar dos 3%, mas, ao contrário do título a dois anos, continua a situar-se em torno dos 3% enquanto escrevo este texto. Quando se faz a cobertura em dólares, isto converte-se em 5,5%, o que faz com que seja favorecido em comparação com muitos mercados emergentes. Creio que está situação é atrativa.

A velocidade do movimento das yields italianas revela que os investidores institucionais profissionais desempenharam um papel de extrema importância no frenesim de transações. Provavelmente, teriam em carteira obrigações italianas dentro de um cabaz de países do euro. Sem qualquer dúvida, isto é mais uma evidência da necessidade de contar com dívida emitida a escala europeia se o euro quiser consolidar o seu papel enquanto moeda de reserva.

Com o meu habitual otimismo, pergunto-me se as críticas da população de outro estado-membro da UE enquanto instituição a colocará mais próxima das reformas, sobretudo no que se refere à sua flexibilidade. Quem sabe... se estas reformas se tornam finalmente realidade, poder-se-á convencer inclusive o Reino Unido a reintegrar a UE. Mas uma guerra comercial no seu início poderá asfixiar este efeito benéfico, o que me leva ao acontecimento nº2.

 Acontecimento 2: Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Japão

Observar o desenvolvimento da reunião do G-7 foi fascinante. A minha opinião é que a desaceleração do potencial crescimento económico inevitavelmente traz consigo protecionismo, uma vez que aumentar a quota de mercado se torna mais importante. A famosa triste foto dos líderes mundiais a dirigir um olhar de reprovação a um Donald Trump indignado diz-me que Trump poderá vencer esta disputa comercial. O tamanho enorme da economia doméstica norte-americana poderá ser suficiente para dar a Trump a mão vencedora. No entanto, os ânimos estão alterados, pelo que não é fácil imaginar uma solução rápida, e prova disso são as negociações do Brexit.

As fricções comerciais reduzem a eficiência económica, o que diminui o potencial crescimento económico. Isto significa taxas de juro terminais mais baixas e, portanto, yields mais baixas nas obrigações. À luz deste facto, as Treasuries norte-americanas a dez anos a serem transacionadas a 3% parecem-me uma boa compra. Certamente, interessa-me deter títulos na minha carteira para compensar a exposição a ações. Tendo em conta que a bolsa está tão focada nos lucros empresariais, preocupa-me que a disputa comercial possa continuar. Para os que investem unicamente em ações, poderão atenuar-se os riscos com um bias para as empresas orientadas para os seus mercados domésticos, preferencialmente as de pequena capitalização.

Fiquei desapontando pela forma como o presidente Trump se retratou do comunicado do G-7 assim que deixou o solo canadiano. Na vida, nos negócios e na política, fixamos um tempo para negociar com os nosso sócios e utilizamos esse tempo para alcançar um acordo, geralmente com concessões de todas as partes. Desdizer-se depois das reuniões deixa a diplomacia sem efeito, o que me leva ao acontecimento nº.3.

Acontecimento 3: Coreia do Norte

Como membro da sociedade global, recebi com satisfação o início das conversações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte. Inquietou-me ver a forma como o assunto se converteu num circo mediático e espero que estes líderes tão pouco ortodoxos não se deixem levar. Não tenho a certeza de que os dois possíveis desenvolvimentos possam vir a ter repercussões sobre os mercados internacionais. Os Estados Unidos pareciam insistir que o acordo passava por uma desnuclearização total da península da Coreia. Tendo em conta que isso beneficiaria ambas as partes, creio que se alcançará esse objetivo. Nessa situação, o investimento natural será vender francos suíços, mas o mercado já está a descontar esta circunstância: o franco suíço caiu tanto agora como quando o Banco Nacional da Suíça eliminou a sua taxa de câmbio mínima há uns anos atrás. Talvez vender ouro seja uma melhor aposta.

Concluindo, o meu conselho é ser ágil. Surgirão oportunidades porque estes acontecimentos desencadeiam movimentos nos mercados que são agravados pela excessiva tomada de riscos por parte dos investidores, um comportamento propiciado por uma atuação excessivamente expansiva dos Bancos Centrais.