Qual será a taxa de crescimento do PIB a m/l prazo?

Após um ano sobre o convite do Funds People para participar neste espaço e dado estarmos praticamente a 2 meses do fim do resgate, penso que vale a pena reflectirmos um pouco sobre o crescimento da economia nacional a m/l prazo. Não é um tarefa fácil, se atendermos à evolução do PIB desde a entrada do país na CEE.

Entre 1986 e 2001, o PIB a preços constantes cresceu a uma taxa média anual de 4%, sendo que na década de 80, a evolução média anual foi de 4,3% e na década de 90 de 3,5%. A entrada de um fluxo fortíssimo de fundos estruturais assim permitiu.

O problema tem sido neste século. Entre 2001 e 2004, o PIB anual a preços constantes cresceu em média 0,46% e entre 2005 e 2011 num valor médio idêntico de 0,45%.

Nos anos de recuperação económica após a crise de 2001/2003, ou seja entre 2004 e 2007, enquanto que nos EUA o PIB cresceu em alguns anos mais de 4%; na Alemanha o PIB cresceu entre 2,5% e 3,5% e em Espanha, o PIB cresceu em alguns anos acima dos 4%, Portugal teve muitas dificuldades em crescer acima de 1,5%.

E estamos a falar de um período de crescimento significativo do crédito ao Estado, às empresas e às familias. E mesmo assim, não conseguimos crescer como por exemplo Espanha, apesar de no período de 2011/13 termos regredido mais que eles.

Muita coisa correu mal, especialmente no período de 2005 a 2011. Os investimentos mal direccionados para sectores de bens não transaccionáveis; o peso exagerado do consumo privado na estrutura de formação do PIB (cerca de 65% em média até ao resgate); o reduzido peso das exportações na formação do mesmo (apenas 26% em 2010), entre outros factores, ditaram as dificuldades de crescimento da economia.

Um modelo económico estável que dê garantias de crescimento suatentável a m/l prazo tem que se basear em contas públicas equilibradas, ou seja, um superavite primário da ordem de 1% a 2% no mínimo e um défice público face ao PIB de 1% a 2% no máximo; um peso das exportações de pelo menos 50% face ao PIB (em 2013, deveremos ter atingido os 40%); um peso do consumo privado face ao PIB mais baixo, entre 50% e 55%; um crescimento significativo do investimento, sobretudo privado, em sectores de bens transaccionáveis; a conclusão de várias reformas (rendas de energia, trabalho, impostos, justiça) e uma aposta contínua na formação / educação.

Estamos ainda longe do cenário ideal! Estas mudanças levam anos, dada a sua complexidade e dado o ponto de partida, ou seja, o estado do país à data do resgate.

Deste modo e tendo em atenção a situação actual, será muito complicado estimar uma taxa de crescimento do PIB a m/l prazo a preços constantes acima do intervalo de 1,5% a 2%. E com este nível de crescimento, vai demorar mais de 25 anos a trazermos a dívida pública para um nível de sustentabilidade, mesmo que os juros da mesma continuem a descer para níveis de 3% a 3,5% nas maturidades longas. 

(Foto: LendingMemo, Flickr, Creative Commons)