Quais são agora os problemas dos bancos?

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Images_of_Money, Flickr, Creative Commons

O sector financeiro mundial perdeu mais de 20% em bolsa durante os últimos seis meses, ainda mais do que o próprio sector energético, que tem vindo a ser prejudicado pelo colapso dos preços do petróleo. Os bancos europeus continuam a estar com pouca sorte – caíram até ao seu nível mais baixo desde a crise da dívida pública – e as ações do Deustche Bank marcaram o seu nível mais baixo dos últimos 20 anos depois de anunciarem perdas de mais de 6.700 milhões de euros em 2015, o que fez disparar as dúvidas sobre a saúde tanto da entidade como da banca europeia em geral. É neste contexto que Mario Draghi acaba de falar perante a Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu para dizer que o sector bancário tem uma das maiores reservas de capital e de melhor qualidade, pelo que não será necessário aumentar os requisitos de capital. “Os bancos europeus são hoje mais sólidos do que há quatro anos, embora alguns enfrentem determinados desafios”, afirmava o presidente do BCE. Mas quais são esses ‘desafios’ que a banca enfrenta? A Fidelity assinala quatro em específico:

1.     Descidas das margens de intermediação: as taxas de juro a curto prazo estão em território negativo, pelo que a diferença entre as taxas  que os bancos cobram  ao emprestar dinheiro e as taxas que pagam os depositantes está a descer.

2.     Maiores coeficientes de liquidez: os bancos devem ter mais capital para cobrir atividades que antes eram muito rentáveis, enquanto muitos podem não ter cortado custos da forma tão rápida como deveriam. 

3.      Assumir as perdas: os obrigacionistas podem ser obrigados a assumir perdas para resgatar bancos com problemas, mas existe uma confusão legal sobre a forma de aplicar as normas e sobre como foram vendidas estas obrigações aos clientes particulares.

4.     A ameaça dos litigâncias: os reguladores podem processar os bancos nos tribunais, o que levará a mais custos judiciais (e menores lucros) para algumas entidades.

Que aspectos há que ter em conta?

Justin Bisseker, analista de bancos europeus da Schroders, destaca três aspectos: a qualidade dos ativos bancários, a exposição a matérias primas e o contexto de baixas taxas de juro. No que diz respeito ao primeiro ponto, o especialista contrasta a situação dos bancos irlandeses - que tiveram de ser resgatados há alguns anos, mas cujas perspetivas atuais são muito favoráveis – com a dos bancos italianos, para os quais ainda estão a debater a criação de um banco mau. “As autoridades e os reguladores estão cada vez mais conscientes de que o enorme volume  de Nonperforming Loans (NPL) está a travar a recuperação económica”, explica.  “Se tivermos em conta que, para muitas entidades, os empréstimos problemáticos superam os  níveis de capital Core Tier 1, o desafio está em como aliviar esta situação sem obrigar os acionistas e – potencialmente – os obrigacionistas a aceitarem perdas significativas”. Um desafio que, na sua opinião, se complica ainda mais pelo facto dos investidores se encontrarem à mercê de decisões políticas e regulatórias que não podem antecipar e sobre as quais não têm nenhum controlo.

A exposição ao sector da energia e às matérias primas é outro dos aspectos que os investidores em valores bancários devem seguir de muito próximo. “Estamos a fazer todos os possíveis para conhecer não só a quantidade, mas, sobretudo, a qualidade das exposições bancárias”, aponta Bisseker, para quem os riscos são geríveis, em geral, embora alguns bancos estejam em pior situação do que outros. De qualquer das formas, o especialista sublinha que não nos encontramos próximos de outra crise mundial: “A situação em 2008 era muito diferente, com uma quantidade desconhecida de dívida tóxica com qualificação AAA, referenciada a hipotecas de subprime norte-americano, suportadas por um sistema bancário que não contava nem com os níveis de capital, nem com os colchões de liquidez suficientes. As condições atuais não poderiam ser diferentes. Na verdade, os bancos europeus estão num processo de desalavancagem há cerca de 8 anos, pelo que representam uma espécie de ‘ativo refúgio’ neste sentido”.

Por último, Bisseker, faz referência ao contexto de baixas taxas de juro que impera na Europa, que pressiona as margens bancárias. “No entanto, esta pressão não é uniforme, já que alguns bancos dependem mais do que outros das receitas líquidas de juros (NII) e a valorização de ativos e passivos se realiza a diferentes velocidades em distintos países. Por isso, alguns bancos estão muito melhor posicionados do que outros para defender a sua rentabilidade num contexto em que as taxas de juro se mantenham baixas durante muito tempo. É aqui onde a seleção de títulos pode ser crucial”, conclui.