“Prefiro empresas que reinvistam dinheiro na criação de valor futuro e não em dividendos”

O Allianz Discovery Europe Long-Short Equity é um ‘hedge-fund’ que investe em acções europeias com posições longas e curtas, com beta (risco sistémico) neutro face ao mercado. Este produto, em processo de registo em Portugal, está domiciliado no Luxemburgo, é UCITS e tem liquidez semanal. O património do fundo, a 2 de Outubro, segundo a Morningstar, ascendia a 68,89 milhões de euros.
 
Como tem sido o comportamento do 'hedge-fund' ao longo deste ano?

O Allianz Discovery Europe teve,  desde o início do ano até Setembro, uma rendibilidade de 6,3%.

Que impactos sofre a gestão do fundo dada a actual situação política, económica e financeira na zona euro? 

Em geral, todo o contexto político está a influenciar o mercado, neste momento, e desde há dois anos. No ponto alto do verão todos estávamos preocupados com quais seriam as decisões a tomar pelo Banco Central Europeu e o tribunal alemão. Esta espera de decisões políticas condicionou os mercados accionistas, mas também criou oportunidades. Uma das minhas máximas, numa lógica de gestão de ‘hedge funds’, é que os investidores estão sempre numa posição confortável quando estão na mesma posição que qualquer pessoa, o que significa, habitualmente, não estarem a fazer dinheiro. Mas a questão da zona de conforto é que se todos estiverem negativos e eu for o único positivo, cria-se uma situação de menor conforto para o investidor. Isto conta-nos imenso sobre o mercado, durante o período de verão: o mercado estava negativo, os investidores estavam pessimistas e agora o mercado está nos 12% desde início do ano, o que significa que as análises estavam erradas em relação àquilo que os políticos pretendiam fazer. Eu estava positivo e continuo bastante positivo. 

Qual é a estratégia de investimento neste momento do ano?

Acredito que ainda nada tenha realmente mudado, tendo que em conta que os políticos continuam em processo de decisões. A questão é que temos mais ingredientes agora, no que refere ao comportamento dos investidores, pois sabemos que o BCE está lá e quer proteger o euro e que o tribunal alemão está por detrás dos políticos. O que não sabemos, e continua a ser a grande incerteza, é o rumo da economia europeia e global. Vivemos uma recessão, toda a gente sabe. Mas quanto tempo levará até à recuperação? E existe algum tipo de desconexão entre o crescimento económico global e o que as empresas tentam transmitir? Estas dão, tendencialmente tarde, uma resposta às más fases económicas. Em suma, existem mais ingredientes agora que, espero eu, possam ajudar os decisores políticos. Todavia permanecem vários pontos de interrogação, por detrás da Grécia, Espanha... 

E Portugal?

Eu não colocaria Portugal no mesmo lugar da Grécia, honestamente, porque Portugal está a responder ao longo dos últimos trimestres... exactamente como a Irlanda. É injusto colocar Portugal no “mesmo cesto”... é verdade que continua escuro, mas há luz ao fundo do túnel. Na Grécia está ainda mais escuro, percorre-se um caminho até ao inferno. Os investidores tratam Portugal de forma diferente da Grécia e isso é a boa mensagem.

Em que empresas está a prestar maior atenção, em quais recai o seu interesse?

No espaço europeu, continuo a interessar-me por empresas ligadas ao sector da tecnologia, incluindo os subsectores do “mundo do IT”. Igualmente, os sectores dos recursos naturais continuam a ser importantes pelos diversos cenários macroeconómicos. Interessam-nos alguns nomes de empresas químicas, agricultura e num determinado momento acreditamos nos nomes associados às próprias matérias-primas. Embora eu considere que matérias-primas como classe de activos, por si, está morta, existem alguns nomes de empresas cotadas, neste sector, interessantes. De empresas, acima de tudo, não gosto das que reinvestem o dinheiro em dividendos. Prefiro empresas que reinvistam o dinheiro na criação de valor no futuro e não em distribuição de dividendos, uma vez que o dinheiro sai da empresa, não tem proveito útil para a mesma, excluindo deixar os accionistas felizes. O sector das telecomunicações, por exemplo, está a ficar atractivo neste campo, no sentido da aplicação do dinheiro em projectos longo prazo.

Tem ou teve exposição a empresas portuguesas?

No presente não, até porque o número de empresas cotadas é reduzido. Todavia no passado o fundo teve exposição à Galp, apesar de considerar que foi um mau negócio.

O que se pode esperar para o próximo ano, tendo em conta a situação presente e os desenvolvimentos recentes, na Europa? Considera que podemos ter chegado a um ponto de viragem? 

Julgo que não estamos longe do ponto de viragem, eventualmente já o vimos, mas desconhecemos onde está exactamente. Todas as medidas que estão a ser tomadas tanto nos EUA, como na Europa pelo Banco Central Europeu vão levar a algum lado... no entanto, ninguém sabe quando é que os números vão revelar isso mesmo. O que realmente necessitamos é incentivar o consumo e o crescimento deste. Mas como se incentiva sem criar bolhas? Temos de ver... mas acredito que não estamos longe de um ponto de viragem. 

Em termos práticos, qual a diferença entre gerir um UCITS ‘hedge fund’ de um não UCITS?

Em termos de escolha de activos, não há diferença, excluindo não estarem permitidas ‘physical shorts’ e nós gostarmos das mesmas. Neste caso tentamos encontrar uma forma de substituição através de ‘total return swaps’. Embora, a grande diferença de ser UCITS é precisamente o enquadramento legal exigido com restrições, como não poder recorrer a determinados instrumentos financeiros, alavancagem ou risco contraparte.

Quais os principais desafios que tem pela frente?

Continuar a perceber os políticos e as implicações das mudanças regulatórias e fiscais. No entanto existe uma questão que me preocupa: a globalização criou uma série de movimentos de sincronização inesperados em todos os mercados. Esta questão é difícil de analisar e de perceber qual é o seu impacto.