Possíveis cenários para o Brexit: previsões das gestoras internacionais

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Esgotam-se as metáforas para definir mais uma semana de votações cruciais no Reino Unido que terminam sem avanços substanciais. Nos últimos sete dias o Parlamento britânico rejeitou (novamente) o acordo proposto por Theresa May e pela União Europeia, recusando uma saída da UE sem acordo e abrindo as portas à extensão do período de negociação, depois de negado um segundo referendo. Agora, e com menos de 300 horas para a data assinalada como o Brexit oficial, praticamente todas as incógnitas permanecem intactas. Quais são os possíveis cenários? As entidades internacionais respondem.

1- Acordar uma extensão do prazo

Os mercados entram de novo numa semana decisiva. Após votar esta quinta-feira a favor de pedir uma extensão do prazo, o Reino Unido continua nas mãos da UE. Uma das grandes questões que ocupa os investidores é exatamente a razão que vão dar para explicar uma prorrogação do artigo 50. O problema que remarca Stephanie Kelly, economista política da Aberdeen Standard Investments, é que, com o Parlamento tão dividido sobre o tema do Brexit, não é claro quem tem exatamente autoridade suficiente para apresentar um motivo claro e que, além disso, seja conveniente. “Isto, obviamente, frustrará a UE, que exigirá concessões, mas é muito pouco provável que a UE se negue finalmente a conceder uma prorrogação. Os custos para ambas as partes continuam a ser demasiado altos”, defende a especialista. A resposta a esta dúvida será resolvida nos próximos dias.

Brexit

Se a Europa aceitar dar mais tempo ao Reino Unido, vão surgir pequenas incógnitas. Como se pode observar no gráfico da ING, a extensão do novo prazo é importante já que têm até dia 12 de abril para avisar da sua participação nas eleições parlamentares europeias que se celebram no fim de maio. Se a extensão se prolongar até dia 30 de junho como propõe o Reino Unido, a primeira reunião do Parlamento Europeu a 2 de julho deverá contar com membros britânicos eleitos.

Por isso, ainda que alguns oficiais do Comité Europeu, como Donald Tusk, tenham aberto a porta a um período mais longo, na ING acham que o mais provável é que o prazo seja de dois ou três meses no máximo para evitar uma “dor de cabeça” que surgiria ao pensar nas implicações do Reino Unido nos comícios europeus.

2 - Votar de novo o acordo do Brexit

Resta assim uma segunda, ainda que pequena alternativa: a de aprovar, à terceira, o plano proposto por Theresa May e pela UE. Como destaca Caspar Rock, diretor de investimentos de Wealth Management da Schroders, à medida que se aproxima a data limite, May está a encurralar os membros do Parlamento ao reduzir a sua gama de opções. “Os Brexiteers podem temer cada vez mais um re-votação do Artigo 50, um segundo referendo ou nenhum Brexit, enquanto os Remainers se verão pressionados pelo facto de ainda poder surgir um acordo”, explica. “Poderá dar-se o caso de o governo perder muitas batalhas para ganhar a guerra. Theresa May reduziu a margem de oposição ao seu acordo e agora poder seguir em frente para chegar à maioria, por muito próximo que esteja o dia 29”.

As probabilidades são baixas, mas existem. Segundo destacam na ING, a chave está em Geoffrey Cox, procurador geral, que estará em conversações com o Partido Sindical Democrata (DUP) para ver como pode mudar a sua assessoria legal sobre a regulação da fronteira com a Irlanda. “Para resumir, o DUP, entre outros, querem que exista um mecanismo legal para que o Reino Unido possa retirar o apoio numa data futura, mas de momento não pode dar esta garantia. Nas conversações mais recentes dentro do governo, estaria a ser proposto servirem-se da Convenção de Viena como opção nuclear para sair do acordo, ainda que alguns especialistas legais já tenham cortado as asas a esta ideia”, explicam na ING. Se o governo conseguir vencer o DUP, então muitos membros parlamentares conservadores, assim como alguns legisladores laborais, poderão apoiar o acordo.