Porque não faz sentido comprar beta em mercados emergentes

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LendingMemo, Flickr, Creative Commons

De que falamos quando falamos de mercados emergentes? Apesar de ser uma classe de ativos, referir-se a eles como um único tipo de animal é deixar-se seduzir por um raciocínio impreciso. “Os mercados emergentes não são o mesmo que uma economia emergente”, refere Alan Ayres, gestor de mercados emergentes na Schroders. Na prática, representa agrupar no mesmo saco realidades tão distintas como a Índia e a Coreia do Sul.

A Coreia do Sul é um país muito avançado em educação, tecnologia, etc., mas como a sua estrutura de capitais não é suficientemente aberta tem de se categorizar dentro do MSCI de Mercados Emergentes. “Isso significa que há uma desconexão entre a apreciação do capital e da economia”, inicia Ayres. Ocorre uma incongruência semelhante no México, onde um motor muito grande para a economia é o setor automobilístico. Mas no que concerne o investidor, são principalmente empresas estrangeiras. “Por isso não faz sentido comprar beta em mercados emergentes. É preciso procurar o acesso às oportunidades verdadeiramente interessantes”, insiste o gestor.

Oportunidades de investimento em mercados emergentes

Dito isso, Ayres reconhece que os mercados emergentes continuam a ser uma aposta para o crescimento global. É uma classe de ativos intimamente ligada ao comportamento do dólar. Quando a moeda dos EUA se fortalece, tende a piorar, pois, o ajuste das condições financeiras faz com que o dinheiro saia dos emergentes.

Então, em que ponto está 2019? Ayres acha que isso aponta para uma recuperação. O consumidor americano resistiu muito bem e há argumentos que apoiam uma estabilização na Europa e na China. O mundo começa a pensar em estímulos fiscais, que devem enfraquecer ou, pelo menos, acalmar o dólar. A isto acrescenta-se que os países emergentes, em geral, têm espaço para reduzir as taxas.

Com as coisas assim, há uma série de regiões emergentes que estão melhor posicionadas para 2020. Ideias que estão a ser incorporadas no Shcroder Internacional Selection Fund Emerging Markets, fundo com Selo Funds People pela sua classificação de Blockbuster.

A Coreia do Sul é uma das suas grandes apostas. As avaliações das suas ações são atrativas. Apesar de estar exposto à economia global, parece que os lucros das empresas chegaram ao fundo do poço. Ayres também gosta da Rússia, onde a inflação deixou de ser um problema e as taxas de juro estão em queda. O mercado é barato, com lucros seis vezes maiores, mas o risco de sanções americanas ainda paira.

Continuam positivos no Brasil, onde aprovaram a tão esperada reforma das pensões e já se estão a debater os próximos passos. O país está finalmente a sair de uma das maiores recessões da sua história e, tal como a Rússia, tem espaço para reduzir as taxas.

Por outro lado, o gestor é menos positivo relativamente à África do Sul e à Índia. No caso do primeiro, está preocupado com o seu deficit fiscal, que continua a  expandir-se, embora seja positivo que a Moody's não tenha baixado o seu rating e apenas tenha alterado a perspetiva da sua dívida para negativa. "Tem potencial, mas as avaliações não são baratas", explica Ayres. No que diz respeito à Índia, é sempre um mercado muito popular, por isso negoceia sempre com um prémio. O problema é que agora enfrenta perspetivas complexas em matéria fiscal.