Porque está a globalização em crise?

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&rewNoël, Flickr, Creative Commons

O triunfo do Brexit e a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA são uma boa amostra do mal estar social que existe atualmente perante o fenómeno da globalização, e os efeitos que tem tido sobre os cidadãos. Os motivos subjacentes aos recentes passos atrás na globalização, são a falta de crescimento económico, a descida dos salários reais e o aumento da insegurança laboral, fatores gerados, em parte, pelos avanços tecnológicos, mais do que pelo comércio internacional. Assim assegura a Schroders, num relatório em que analisa os motivos que causam o recuo na globalização.

Em primeiro lugar, a gestora constata que os benefícios inerentes à tecnologia não se estão a materializar na economia. “O crescimento dos lucros é anémico, com a economia global a crescer a metade do ritmo de antes da crise financeira. Deste modo, não há dúvida que a globalização contribui para a debilidade dos salários reais, ao incrementar a oferta de mão de obra na economia mundial. Contudo, há outros factores em jogo. Os avanços tecnológicos são um factor fundamental. Assim, a crescente mecanização de muitas tarefas manuais e, mais recentemente, a informatização, estão a deslocar os trabalhadores”.

Mesmo que muitos estejam a beneficiar com estes avanços, outras pessoas têm problemas para voltar a aceder ao mercado laboral, quando os seus talentos se tornaram obsoletos, o que – segundo a entidade – pode dar lugar a um período prolongado de subemprego, no qual os trabalhadores se vejam obrigados a aceitar trabalhos menos atrativos, ou de desemprego, situação em que o seu grau de qualificação e potencial para encontrar trabalho pioram.

Por outro lado, a Schroders aponta o abrandamento da produtividade, o qual considera que é a verdadeira causa do baixo crescimento das receitas. “Um motivo pelo qual a produtividade está a diminuir apesar dos avanços tecnológicos é que fica complicado determinar de forma adequada o valor dos produtos relacionados com as novas tecnologias. Por exemplo, como se pode medir o valor de um smart phone quando é evidente que permite fazer muito mais do que um simples telefone? A demografia é outra possível causa das perdas de produtividade: conforme a faixa da população que faz parte da geração baby boom se encaminha para a reforma, a força laboral começa a perder um grande e produtivo grupo de trabalhadores, e demorará algum tempo a formar empregados mais jovens”.

Outro factor é o declínio do dinamismo da economia. “Mesmo que não haja uma única definição que represente o dinamismo, existem provas de menor atividade e uma menor tomada de riscos em diversos âmbitos. Por exemplo, a mobilidade laboral reduziu-se nos EUA; as pessoas parecem estar menos dispostas a deslocar-se tanto dentro de um sector como em termos geográficos. Deste modo, vemos provas de que há um desajuste cada vez maior entre as empresas de baixa e alta produtividade. Regra geral, uma economia que funciona bem, realoca os recursos para empresas de alta produtividade, enquanto que as menos produtivas ficam pelo caminho. A ausência deste efeito, mais conhecido como destruição criativa, sugere que exista um conjunto de empresas zombi de baixa produtividade que está a pesar na produtividade agregada”.

Qual é a resposta perante esta situação?

Tal como recordam da Schroders, um tema recorrente das últimas reuniões do FMI tem sido a necessidade de repartir os lucros proporcionados pela globalização de forma mais ampla. “Mesmo que a globalização e o comércio continuem a ser a melhor forma de gerar prosperidade, reconheceu-se a necessidade de prestar mais atenção àquelas pessoas que estão a ficar para trás. No entanto, não há um consenso sobre a forma de o conseguir e, até que a situação não piore, não haverá pressão para atuar”.