Porque é que o Carmignac Patrimoine aumentou a sua alocação a ações no verão

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Edouard Carmignac e Rose Ouahba dedicaram o período do verão a realizar importantes ajustes na carteira do Carmignac Patrimoine (produto com classificação Blockbuster Funds People) para captar as oportunidades geradas depois da materialização do cenário do Brexit. Sandra Crowl, membro do comité de investimentos da Carmignac, especifica os pontos chave desta remodelação, que resultou na redução da posição em cash na carteira para 3,16%. Por regiões, a maior exposição é a América do Norte (56,84%), seguida da Europa (30,38%), Ásia (9,53%) e América Latina (3,24%).

Talvez a mudança mais significativa tenha sido o aumento da alocação a ações: se a 24 de junho (dia posterior à votação do Reino Unido) a exposição era de 34%, no final de julho aumentou para 47,71%. Crowl clarifica que, devido à incerteza em torno do resultado do referendo, se tinha optado por estabelecer posições de cobertura sobre as ações. Desta forma, a 24 de junho o fundo apenas perdeu 3 pontos base, “pelo que acreditamos que fizemos o nosso trabalho para proteger os aforradores no longo prazo”, diz Crowl.

Nos dias posteriores ao Brexit a entidade optou por não fazer caso dos medos excessivos do mercado e aproximar a alocação a ações até o máximo permitido, de 50%. “Fizemo-lo porque acreditamos que o resultado surpresa foi uma cura através da realidade para a Comissão Europeia e para o BCE, porque achávamos que de facto seriam aplicadas mais reformas na Europa”, explica a especialista. A especialista considera que esta visão teve uma primeira confirmação com as medidas anunciadas em Itália para encurtar a sua crise bancária, depois da publicação dos testes de stress da banca.

Paralelamente, a equipa gestora do Carmignac Patrimoine acreditou que o mercado britânico provavelmente foi o menos afectado pelo Brexit, e que provavelmente o Reino Unido encontraria alguma solução para uma  saída amistosa da UE. De qualquer das formas, da gestora estavam a contar com que houvesse um apoio quase imediato dos bancos centrais em forma de liquidez, como confirmou o Banco de Inglaterra, no início de agosto.

Também aproveitaram os últimos dois meses para elevar a componente emergente através de investimentos em empresas da China e Taiwan, por considerarem que são “beneficiárias de um nível mais elevado de liquidez, e pela confiança que têm de que o dólar e as taxas da Fed se mantenham acomodatícios como consequência do Brexit”.

Atualmente os cinco títulos com maior peso na parte das ações do Carmignac Patrimoine são a Novo Nordisk, a Celgene, Amazon, Facebook e Inditex. Crowl indica que têm no seu radar – de forma a investirem em novas correções – a procura de mais oportunidades na Índia “devido aos progressos positivos a nível local sobre o crescimento”, e também sobre os títulos do sector de infraestruturas” devido ao aumento da dependência sobre o gasto fiscal e o provável aumento do gasto em infraestruturas nos EUA”.

A parte das obrigações da carteira também roça o seu máximo permitido, pois no final de julho situava-se nos 49,1%, repartido em múltiplos instrumentos de dívida: dívida soberana de países desenvolvidos e emergentes, dívida corporativa desenvolvida e emergente, ABS e MBS, principalmente. A duração modificada da carteira é de 2,04 anos, com um rating médio de BBB+.

Uma das novidades é a incorporação do tema dos fallen angels (obrigações que perderam o grau de investimento) na carteira. Os dois nomes que passaram para o espaço de high yield estão vinculados às matérias primas: a mineira de cobre Freeport McMoran e a petrolífera Anadarko.

Crowl resume os outros temas macro presentes na alocação a obrigações. Em primeiro lugar, a equipa procurou a construção de “uma carteira diversificada de obrigações que beneficie das injeções de liquidez e do programa de aquisição de obrigações do BCE, mediante o investimento em dívida periférica”. O segundo tema importante é a exposição a emergentes: “Desde o início do ano, temos investido em dívida soberana emergente tanto em taxas reais como nominais, de países como o Brasil, México, Argentina, Polónia e Coreia do Sul”.

O membro do Comité de Investimento da Carmignac explica desta forma que se realizaram alguns investimentos em crédito estruturado, como “uma forma de realçar a rentabilidade com baixa volatilidade”. Também reivindica a exposição a dívida bancária: “Temos um livro de crédito financeiro sólido, composto por campeões nacionais que continuam a reduzir risco e a melhorar os seus balanços”.

A última ideia macro implementada tem a ver com os EUA: “Temos tomado proteção na curva de taxas dos EUA, contra uma subida da inflação, através de obrigações ligadas à inflação. Acreditamos que o mercado está a ser complacente com este risco na curva de taxas norte-americanas”.

O que devem esperar os investidores nos próximos meses?

A visão do grupo é conservadora em relação à previsão de crescimento, pois esperam que  este seja lento devido aos baixos níveis de investimento e comércio a nível global. “Os consumidores são o motor do crescimento nos EUA , Europa e China. Apesar da ampla liquidez, a confiança das empresas e dos consumidores não é suficientemente alta para começar uma grande tendência de crescimento de crédito em mercados desenvolvidos e em alguns mercados emergentes chave. Na verdade, é necessário desacelerar o crescimento do crédito na China”, explica Crowl.

A visão do grupo sobre a política monetária apenas variou desde o começo do ano. Essencialmente, afirmam que “a política monetária e os estímulos pouco convencionais estão a chegar a um período de retornos perplexos”. Ao mesmo tempo afirmam que “a política de taxas zero é prejudicial para as nações de aforradores, como é o caso do Japão”.

Em resposta a esta situação, da Carmignac preveem que “os governos vão ajustar os seus orçamentos e aumentarão o seu endividamento com planos de infraestruturas, particularmente nos EUA e de forma marginal na Europa. Isto ajudará parcialmente a reduzir a brecha criada pela pouco efetiva política monetária expansiva”.