Porque é que nem os fundos mais flexíveis de obrigações evitam as quedas

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A receita para um mercado mais complexo, tradicionalmente, foi a flexibilidade. Afastar-se do índice de referência para captar oportunidades menos exploradas e poder servir-se à vez dos instrumentos necessários para mitigar a volatilidade. Mas 2018 foi um ano para quebrar os esquemas das obrigações. Tanto as estratégias mais conservadoras como as mais arriscadas nadam em número vermelhos. Porque é que isso acontece, se as estratégias unconstrained podem mover-se em todo o universo? A chave resume-se no seguinte gráfico:

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Durante este ano fiscal, tanto os ativos de risco – neste caso os emergentes – como os refúgios moveram-se a par em par. Ou seja, uma estratégia que antes oferecia uma descorrelação, este ano não ajudou a diversificar. Isto foi o tendão de Aquiles até dos fundos mais flexíveis, como o Legg Mason Western Asset Macro Opportunities, fundo Favorito dos Analistas e Blockbuster pela Funds People.

O fundo combina posições de forte convicção com a gestão estratégica das taxas de juro. E este ano criou-se o cocktail perfeito na medida que os dois segmentos sofreram. As suas principais apostas, nos mercados emergentes e na estratégia de taxas com o Tesouro americano, ainda não se concretizaram.

Não é um veículo apto para cardíacos uma vez que os drawdowns podem ser fortes, mas durante esses períodos a equipa gestora demonstrou a capacidade para recuperar e gerar valor.

Razões para se manterem firmes

O pior que se pode fazer durante um drawdown é vender todas as posições nas quais se tem uma forte convicção, uma vez que assim apenas assegura a não recuperação desse dinheiro”, defende Amanda Stitt, diretora de investimentos da Legg Mason. Reconhece que o fundo esteve a esforçar-se para reduzir a volatilidade com medidas, como desfazer posições em crédito e movendo a sua exposição em mercados emergentes para call options. Mas o núcleo da sua aposta mantém-se intacta.

O comportamento das obrigações este ano entende-se pela grande divergência entre o crescimento dos Estados Unidos e o resto do mundo. Isto forçou uma Reserva Federal a ser bastante hawkish em comparação com os restantes bancos centrais, o que por sua vez pressiona o Tesouro americano. É uma situação que Stitt prevê que se inverta.

“É muito estranho que os Estados Unidos possam prolongar esse ritmo de crescimento enquanto o resto do mundo fica para trás. O motor habitual da sua economia, o consumo, foi benigno, este ano”, afirma.

Uma explicação para a resistência da economia americana encontra-se no setor transformador. Na opinião da especialista, muitos dos exportadores americanos adiantaram as suas operações na preparação de um aumento dos custos se a China contra-atacar na guerra comercial. É um impulso que nos próximos meses irá acalmar, mas cujos efeitos se irão notar nas bolsas. Como recorda Stitt, as empresas manufatureiras representam cerca de 40% do S&P 500.

E isto, em último caso, irá levar a uma Fed menos restrita do que o mercado espera. A economia americana não dá sinais de inflação, nem sequer com a pressão salarial. “Não são necessárias quatro subidas de taxas até 2020”, defende. Por isso é que estão posicionados taticamente na curva do Tesouro americano. Mais especificamente, no segmente de dois anos, onde esperam uma correção à medida que as expectativas com a Fed arrefeçam.