Pode o Reino Unido reduzir o seu défice em conta corrente sem uma desaceleração significativa no crescimento?

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Nos últimos anos o Reino Unido teve, surpreendentemente, um crescimento elevado. No entanto, não foi apenas o PIB que aumentou, já que o défice em conta corrente também já atingiu o maior valor registado. Para Joshua McCallum e Gianluca Moretti, economistas da UBS Global AM, esta conjugação de factores evidencia que “o país está a viver acima das suas possibilidades”. Mas pode o Reino Unido reduzir seu défice em conta corrente sem uma desaceleração significativa no seu crescimento?

Para os dois especialistas da gestora, uma das grandes lições da crise financeira, tanto para economistas como para investidores, reside no facto de “haver especial atenção e cuidado com qualquer país que cresça de forma rápida com um défice em conta corrente também em ritmo ascendente”. Joshua McCallum e Gianluca Moretti relembram no seu último Economist Insights que “grande parte da conta corrente é composta pela balança comercial onde se mostra o saldo entre exportações e importações”. Isto é, quando um país importa mais do que exporta, significa que está a consumir mais do que produz. Neste caso em particular, explicam que “a única forma de consumir mais do que se produz é através do endividamento. Desta forma, os países com um défice em conta corrente acumulam dívidas com o resto do mundo”, mais concretamente com os seus credores.

Os dois especialistas da entidade dão como exemplo países como Espanha, Grécia, Portugal e Irlanda, onde houve essa combinação de factores que culminaram com o “resto do mundo a decidir não emprestar mais dinheiro”.

Alto crescimento no Reino Unido e elevado défice

O país de sua majestade tem “vindo a beneficiar, de forma surpreendente, de um elevado crescimento nos últimos anos, ao ponto de duplicar a sua taxa de crescimento. Mas o défice em conta corrente também aumentou. Isso tem levantado sérias preocupações, tanto para o Governo como para o Banco de Inglaterra”, afirmam os especialistas que deixam no ar duas grandes questões: “O crescimento tem de diminuir para o saldo da conta corrente também se reduzir? Será este défice sustentável no longo prazo?”

Ao longo dos anos a economia britânica tem vindo a apostar em serviços em vez de bens, porque a região tem uma vantagem no primeiro sector, referem. Os dois especialistas dizem, ainda, que o “Reino Unido tem um superavit em serviços que é mais do que compensado pelo défice de mercadorias. A balança comercial continua a ser negativa, como tem sido desde 1998, mas é agora menor do que era nos tempos antes da crise”, sublinham.

Além disso, Joshua McCallum e Gianluca Moretti destacam as restantes partes da conta corrente: os fluxos de rendimento e ainda as transferências. A primeira parte tem empurrado o défice para mínimos, enquanto a segunda parte tem sido “estável, apesar de ter crescido de forma ligeira”.

Quem são os responsáveis?

Os economistas apontam a crise na Zona Euro como uma das responsáveis, embora não seja a única. “Como o crescimento na Zona Euro encolheu, as empresas que fazem negócios com esses países ressentiram-se. No entanto, para ambos os especialistas o “maior culpado é o governo. Apesar de todo o discurso de austeridade, o Reino Unido ainda tem um enorme défice. E desse forma, se não houver poupanças das famílias e empresas, o dinheiro tem de vir do exterior”, salientam.

Ainda assim, nos últimos anos as empresas e as famílias têm vindo a diminuir a sua alavancagem. “Não estão a pedir emprestado nem estão a poupar”, enfatizam. Na prática, “o défice orçamental tem de ser financiado pelo exterior”, concluem.

Se a austeridade continuar, o saldo da conta corrente poderá começar a diminuir. Mas se as famílias e as empresas não querem gastar mais, é possível que isso signifique que o crescimeno vai abrandar, a não ser que a rendibilidade no exterior aumente.