Perspetivas para 2016: entidades nacionais analisam classes de ativos, regiões e riscos

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litratcher, Flickr, Creative Commons

Há um ano atrás - prestes a entrar em 2015 - os profissionais da indústria financeira olhavam para as ações como as meninas prodígio do novo ano, e dividiam-se nas preferências regionais para 2015. Depois de um ano em que os principais bancos centrais evidenciaram decisões que traçam caminhos distintos para as diferentes economias, os profissionais nacionais acederam ao pedido da Funds People e centraram atenções em 2016.

ActivoBank, Rui Olo (na foto) e João Graça

Quais as vossas perspetivas para o próximo ano (regiões onde estão mais positivos, classes de ativos em que preveem uma maior aposta e quais os principais riscos que anteveem)?

Os mercados financeiros vão continuar a ser pautados pelas decisões tomadas pelos principais bancos centrais. Será um mundo partido entre geografias que estão em plena implementação de estímulos às suas economias através de políticas monetárias agressivas de um lado e, do outro, geografias que terminaram os programas de estímulo monetários. Eventuais nuvens negras que possam pairar sobre os mercados advêm essencialmente da possível escalada de tensões geopolíticas no médio-oriente, do reacender do conflito entre a Rússia e a Ucrânia ou de um eventual desentendimento político na Ásia entre China e Japão. O referendo à União Europeia no Reino Unido será também um teste à coesão da própria UE e, por isso, deverá ser monitorizado. 2016 será também um ano de eleições presidenciais nos Estados Unidos, o que deverá marcar a atualidade ao longo do ano, não sendo no entanto de esperar um impacto direto nos mercados financeiros até novembro, mês que se efetivará a eleição.

Em 2016, continuamos a preferir  o investimento em ações em detrimento de obrigações, em particular ações europeias e japonesas. Para perfis mais conservadores, consideramos que se deva extrair o maior valor possível nas obrigações, no nosso entender, através de uma sobre ponderação na carteira a high yield europeu. A subida de taxas nos EUA poderá provocar uma subida das yields acima do que seria normal em função da expectativa do mercado quanto a subidas de taxas de juro adicionais pela Reserva Federal norte-americana. Esperamos a manutenção de um dólar forte e não seria de estranhar que algures em 2016 pudéssemos atingir a paridade face ao Euro, sendo razoável estimar que o intervalo de flutuação deste par cambial oscile entre a paridade e o 1,10 eur/usd.

Em 2016 vamos estar atentos a algumas classes de ativos que têm vindo a ter performances menos favoráveis como o high yield norte-americano e os mercados emergentes (ações e dívida). As valorizações começam a parecer-nos interessantes mas teremos que ao longo do ano avaliar no caso do high yield norte-americano a evolução do nível de defaults, tal como nos mercados emergentes, avaliar o impacto de um dólar forte nestas economias, bem como o crescimento da economia chinesa dado o enorme impacto que terá de um lado nos países vizinhos, por outro, na procura por matérias-primas das quais muitas economias emergentes dependem. Esperamos que o preço do petróleo se mantenha deprimido, podendo no entanto recuperar um pouco face aos mínimos atingidos este ano, sustentado no aumento esperado da procura. Em função da evolução em 2016 dos mercados, e caso fiquem aquém da nossa expectativa, equacionaremos a entrada em fundos de investimento market neutral do tipo long/short, tanto para ações como para obrigações. Como nota final, estamos cientes de que existe um consenso generalizado em torno da visão aqui apresentada, mas que esses consensos por vezes mudam rapidamente, pelo que não deixaremos de estar atentos  a eventuais alterações de tendências para podermos ajustar a nossa alocação.

Barclays, José Miguel Calheiros 

Quais as vossas perspetivas para o próximo ano (regiões onde estão mais positivos, classes de ativos em que preveem uma maior aposta e quais os principais riscos que anteveem)?

Continuamos preferir ações de Mercados Desenvolvidos, nomeadamente os mercados da Europa Continental, onde consideramos que os lucros das empresas têm mais espaço para recuperar, sustentado dessa forma uma performance positiva dos mercados accionistas europeus. Quanto a riscos, há vários candidatos: desde “acidentes políticos”, traduzidos na ascensão de partidos de extrema esquerda /direita em alguns países da EU e de outros países desenvolvidos a “eventos terroristas”, passando pela incerteza associada à remoção (espera-se que gradual) da política monetária mais expansionista que há memória num dos principais blocos económicos mundiais.

BBVA AM, Luís Sancho

Quais as vossas perspetivas para o próximo ano (regiões onde estão mais positivos, classes de ativos em que preveem uma maior aposta e quais os principais riscos que anteveem)?

Para 2016 perspetivamos um cenário macroeconómico com um crescimento mundial moderado, com a inflação contida e a política monetária em geral acomodatícia. Em obrigações de dívida pública não vislumbramos valor nas obrigações core e apenas esperamos retornos moderadamente positivos nos prazos mais longos das obrigações periféricas. Temos uma visão positiva para a dívida pública da América Latina em divisa local.

O crédito encontra-se a níveis atrativos, sobretudo em termos ajustados por risco face a outras classes de ativos, neste sentido, temos preferência por High Yield europeu. Em ações, nas bolsas desenvolvidas, esperamos uma melhoria dos resultados das empresas impulsionados pela melhoria da confiança económica e dos consumidores. Mantemos a nossa preferência por Europa face a Estados Unidos. Deste modo, privilegiamos o estilo valor e também favorecemos os setores cíclicos, em particular o setor tecnológico, e a temática de alta rentabilidade por dividendo.

Em emergentes temos preferência por Ásia face a América Latina e Europa Emergente, visto que em termos de valorizações e vulnerabilidades económicas a primeira se encontra mais favorecida. Os principais riscos concentram-se no ajuste da economia chinesa e na política de taxas de juro por parte da Reserva Federal Americana.