Paul Read (Invesco): “Para um gestor de obrigações custa admitir que as oportunidades estão nas ações, mas essa é a verdade”.

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O volume de ativos geridos pela Invesco em obrigações, a partir da localidade inglesa de Henley, já alcança os 42.000 milhões de euros. Historicamente a gestão desta classe de ativos tem sido enfocada no investidor de retalho. Isso mudou quando há sete anos a entidade decidiu dar o salto e expandir o seu negócio para o resto da Europa, o que gerou importantes entradas de dinheiro nos seus produtos. Paul Read é em parte responsável por este êxito. “Os resultados oferecidos pelas estratégias têm sido bons e os fundos têm crescido muito em termos de património durante os últimos anos. Propusemos o encerramento de alguns, mas entendemos que o tamanho não representa nenhum problema. Os fundos não são grandes em relação ao mercado de obrigações. Não me pagam pelo património que é por mim gerido, mas sim pelos resultados que alcanço. Num mundo em que as oportunidades escasseiam, queremos oferecer a nossa solução, sendo uma fonte de distribuição de rendimentos com um claro objetivo de preservação de capital”.

Numa conferência com jornalistas celebrada pela entidade em Henley, o gestor reconhece que o verdadeiro problema é fazer ver ao investidor qual é a atual situação de mercado e o potencial que existe realmente. Neste sentido uma das suas prioridades atualmente é gerir as expectativas do investidor. “Acredito que não tenho que explicar a ninguém o quão extraordinariamente difícil está hoje em dia o mercado de obrigações. É um ótimo momento para ser emissor e pedir dinheiro emprestado ao mercado, para ser ministro das finanças de um país, tesoureiro de uma empresa... mas não para ser gestor de obrigações. Todos os dias vejo no monitor uma série de novas emissões com cupões entre 1,5% e 2,5%, ou seja níveis com aos quais nunca sonharam financiar-se no mercado. Assistimos até às primeiras emissões de empresas com cupão 0%. Para eles é fantástico”, explica.

No caso do mercado de dívida pública ocorre algo muito semelhante. “O BCE começou a comprar obrigações no mercado secundário num momento em que as TIR estão extraordinariamente baixas. Precisamente neste momento existem entre sete e oito obrigações de governos com rentabilidades negativas nalguma parte da curva. As obrigações do tesouro português 10 anos negoceiam com uma TIR de 1,7% face aos 2,2% das treasury americanas. Portugal está a financiar-se de forma mais barata no mercado do que os EUA”. No entanto, Read considera que este contexto, na verdade, é ainda mais favorável para a Alemanha. “O país financia-se a taxas negativas, apresenta a economia mais forte da Europa, dita quais as políticas a seguir na Zona Euro e vai beneficiar da debilidade do euro e do petróleo”.

Na sua opinião, o atual contexto de mercado nas obrigações faz com que seja muito difícil encontrar oportunidades de investimento. “Não existe ainda ninguém que tenha uma experiência negativa nas obrigações. É muito importante que o investidor não se esqueça que com cupões tão baixos  e uma maior volatilidade, poderemos assistir a rentabilidades negativas no mercado de obrigações”. Não é o caso dos dois fundos que o profissional gere. Com o Invesco Pan European High Income espera conseguir este ano uma rentabilidade entre 9% e 10% (desde janeiro já conseguiu cerca de 6%), enquanto que com o Invesco Euro Corporate Bond assegura que se sentiria satisfeito com um retorno entre 3% e 4% (arrecada 2% em 2015).

“Vivemos num mundo sem cupão. No mercado de dívida investment grade não podemos ganhar o mesmo dinheiro que ganhámos no ano passado. Durante os últimos anos gerámos rentabilidades muito superiores às esperadas. Agora ninguém acredita quando faço as minhas projeções e refiro que as rentabilidades que esperamos gerar no futuro serão menores do que têm sido nos últimos anos. Acredito que o mercado de obrigações continuará caro, pelo menos durante mais dois anos. Não vejo nenhuma razão que me leve a pensar em subidas das taxas por parte do BCE nos próximos 24 meses”, assegura. A estratégia de Read passa por manter posições importantes em liquidez para assim poder tirar partido de possíveis aumentos da volatilidade.

“Vamos beneficiar da grande liquidez que fomos mantendo nas carteiras. Esta estratégia tem um custo a curto prazo, mas a longo prazo será uma vantagem. Tenho sentido que estamos muito próximos de vivenciar episódios de instabilidade no mercado. É provável que assim que a Fed suba as taxas de juro se gere alguma volatilidade na Europa. Vai ser interessante perceber como é que o mercado reage num contexto de subida das taxas de juro nos EUA, ao mesmo tempo que o BCE leva a cabo um programa de QE ”. O gestor também considera que a liquidez do mercado pode chegar a constituir um problema. “Quando for necessária liquidez no mercado ela não vai existir. O mercado de obrigações tornou-se enorme, e a porta da liquidez é pequena. Quando se investe em obrigações há que pensar na qualidade, na liquidez e na diversificação. Acredito que agora o primeiro factor é o mais importante”.

As melhores oportunidades estão no mercado de ações

Read reconhece abertamente que o atual contexto é especialmente favorável para as ações. “Para um gestor de obrigações é difícil admitir que, com base nos múltiplos (PER, preço, valor contabílistico...), as ações europeias negoceiam a preços atrativos tanto ao nível dos múltiplos como em comparação com as obrigações, mas esta é de facto a realidade. Os balanços estão sólidos e, para além disso, são empresas que se estão a financiar a níveis entre 1% e os 2%, sobretudo as 'blue chips'. Conseguem empréstimos de forma barata e investem em negócios que lhes conferem maiores retornos. Isto é um aspecto que faz transferir o interesse e a atratividade das obrigações para as ações. O dividend yield das ações é maior do que aquele que é oferecido pelo high yield e, para além disso, oferecem melhores balanços. Esta é uma das razões pelas quais entendo que as ações são mais atrativas”.