Para encontrar yield é preciso mudar o chip

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Para encontrar rentabilidade no mercado europeu, o que no mundo anglo-saxónico se conhece como yield, é preciso mudar o chip. Se historicamente as obrigações foram o principal universo de investimento onde os gestores de fundos de distribuição de rendimentos centravam as suas miras, hoje essa fonte está praticamente seca. A política monetária aplicada pelo BCE com os seus programas de compra de ativos empurrou as yields para níveis tão baixos que a yield média do mercado europeu de high yield está a 3,3%. Isto é, para obter via cupão rentabilidades em torno dos 3,3%, é preciso investir em empresas com uma classificação creditícia abaixo do investment grade.

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Isto gera um importante dilema para os gestores de fundos de distribuição de rendimentos, porque a rentabilidade por dividendo médio das ações europeias está em 4,4%. É evidente que o risco de investir em ações é maior que o fazer em obrigações, mas... atenção! “No mercado europeu podem-se encontrar empresas muito sólidas, com equipas diretivas muito boas e com perspetivas de geração de fluxos de dinheiro que garantem que os dividendos vão ser pagos. E, além disso, negociar a preços atrativos”, sublinha Stephanie Butcher, diretora de investimentos do centro de investimentos da Invesco em Hanley. É aí que surge o grande dilema.

A ação da Sanofi, por exemplo, oferecia no fecho de 2019 uma rentabilidade por dividendo de 3,5%. Pelo contrário, a yield da sua obrigação sénior com vencimento em 2024 é negativa ao mover-se nos -0,07%. No caso da Total, a rentabilidade por dividendo era ainda maior (de 5,3%) enquanto a sua obrigação sénior com vencimento também em 2024 estava nos -0,01%. No sector financeiro a situação é muito semelhante. Assumir mais risco ao comprar uma ação representa gerar mais 550 pontos base de rentabilidade via cupão do que adquirir a sua obrigação com vencimento a quatro anos. No ING o gap que separa a rentabilidade por dividendo que oferece a ação, do seu cupão é ainda maior (600 pontos base).

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Tal como explicam Pascal Blanqué, diretor de Investimento da Amundi e Vincent Mortier, diretor-adjunto de Investimentos da entidade, em obrigações trata-se de otimizar a procura por yield, com seleção e estratégias flexíveis. “A caça de rendimento continua a ser um tema chave. Não obstante, as áreas muito concorridas e o risco de liquidez persistem e requerem uma profunda imersão nas oportunidades de crédito. Para os investidores com um horizonte temporal adequado, o high yield continuará a ser atrativo perante as perspetivas benignas de default. Um maior escrutínio a nível sectorial e de títulos será vital para evitar modelos de negócio insustentáveis”, vaticinam.

A segunda alternativa, portanto, seria a de manter a aposta no mercado de dívida de alto rendimento perante as baixas expectativas de quebras. Mas existe outra. A de continuar a investir em obrigações, mas longe da Europa. O dinheiro poderá ir procurar obrigações com yields mais atrativas, como por exemplo, no mundo emergente. Para Blanqué e Mortier, estas obrigações são atrativas para os caçadores de rendimento. O dinheiro poderá correr para lá. É o que esperam algumas gestoras, como a Fidelity. “Agora que os rendimentos das obrigações dos grandes mercados vão manter-se em níveis baixos, esperamos novas entradas de capital em áreas de obrigações com rendimento mais atrativo, como a dívida emergente”, indica Steve Ellis, diretor de Investimentos em obrigações na empresa.

Qualquer que seja o caminho que escolha, o que está claro é que para gerar rendimentos é preciso mudar o chip.